"Kagome, Kagome..."-CLTS 04

Ouvia os gritos e o barulho de coisas se quebrando. Já havia fugido uma vez e sabia que estava se aproximando o momento novamente. Pegou os objetos que julgou serem necessários.

Os gritos estavam mais perto e mesmo que tivesse colocado a estante bloqueando a porta sabia que se ela fosse arrombada não teria a menor chance. Para piorar aquela sinistra canção ficava cada vez mais alta lembrando que tinha que sair de lá o mais rápido possível, porém as antes de sair tinha que fazer uma coisa. Não poderia fugir sem experimentar o resultado da pesquisa em que auxiliou. Encarava o frasco com o líquido viscoso já fazia alguns segundos, mas ainda não tinha tido coragem de ingeri-lo. Uma nova batida na porta despertou o estado de urgência. Fechou os olhos e bebeu tudo de uma vez. Naquele momento não sentiu diferença nenhuma, mas não tinha tempo para isso. Tinha que sair daquele lugar o mais rápido possível. Foi quase correndo até a janela que havia conseguido arrombar e ganhou a noite no exato momento em que a porta foi estraçalhada. Sentiu que olhos estavam encarando da janela e soube naquele momento que eles não poderiam seguir em frente e continuar a perseguição pela floresta. Demoraria ainda alguns minutos para que notasse que de alguma forma também não poderia ir muito longe.

*

Haru conhecia o Japão somente pelas histórias que seus avôs contavam e que ele contava para a pequena Midori. Mas naquelas férias quis ver na prática o que conhecia somente por narrativas. Escolheu a época em que sabia que era primavera. Sempre quis ver pessoalmente o florir das cerejeiras.

Além da questão das cerejeiras havia a questão das suas raízes. Os principais ramos da sua família podiam está no Brasil, mas a raiz dela continuava no Japão. E a seiva cultural que a nutria vinha diretamente do país. Sentia que em algum momento tinha que pisar no país e o fato da viagem ter sido feita com a sua filha tinha um valor ainda maior. Havia montado todo um roteiro de viagens que incluía cinco cidades. Começariam pela cidade em que seus pais passaram a lua de mel, deixaria Tókio e toda a sua tecnologia e modernidade por último. Queria conhecer primeiro a parte do Japão que era conhecida pela sua calma.

A pequena Midori havia ficado muito impaciente durante o longo voo, mas uma vez fora do avião a menina estava admirada olhando tudo ao redor.

A sua tia Sakura os esperava no aeroporto segurando uma placa de papel com o seu sobrenome. A mulher tinha um sorriso que logo sumiu quando ele viu Midori:

-Não falaram nada sobre a criança.- disse antes mesmo de falar bem-vindo ou algo do tipo. Mas o mais estranho não foram as palavras, foi o olhar dela. Havia muita preocupação nos olhos dela. O tempo pareceu parar por um momento. Haru petrificado com a reação da tia, não falou da sua garotinha pois queria fazer uma surpresa, mas quem foi surpreendido foi ele. Midori em sua inocência e distração pareceu não entender. Em um tempo que não souberam precisar a tia continuou- Mas tudo bem, a minha casa tem espaço para os dois. Vamos devem está cansados da viagem.

Como que fingindo que nada havia ocorrido a sua tia começou a falar sobre a pequena cidade, mas era possível notar uma certa tensão no ar que crescia a medida que ele falava sobre Midori.

-A menina sabe falar japonês?-perguntou ela olhando para Midori que parecia quieta demais desde o momento em que entraram em um lindo corredor de cerejeiras. O cenário era muito belo. Um pequeno tapete de pétalas se formava sobre o chão e os bancos. Devido a beleza estranhou que tudo estivesse tão deserto e silencioso. Ainda era cedo, o normal seria que os bancos estivessem cheios, assim como o pequeno parque infantil que tinha logo a frente. Preferiu não questionar a tia sobre isso, sentia que podia não gostar da resposta. Começou a se perguntar se foi uma boa ideia ir para a pequena cidade de Hisoka. Como o nome dizia parecia ser um lugar reservado até demais. E talvez escondesse algo, assim como sua tia.

-Sim, ela foi alfabetizada nos dois idiomas. É sempre importante manter a nossa cultura viva.

A mulher sussurrou algo baixo somente para ela mesma. Haru pensou ter ouvido ela dizer algo como:”Então ela pode os entender”.

-O que disse tia?

-Disse que o ano apenas começa depois que as cerejeiras começam a florescer. – falou a mulher disfarçando, parecia que ela pensava que quando mais falasse mais afastaria a suspeita do sobrinho – Oficialmente seguimos o mesmo calendário que o resto do mundo, mas as coisas só começam a realmente funcionar, o comercio, após essa época de florescimento.- o sorriso dela pareceu extremamente forçado, parecia que seu corpo estava fazendo um esforço sobre humano para o manter.

-No Brasil dizemos que o ano começa apenas depois do carnaval. –disse também forçando um sorriso e tentando afastar a tensão que os seguia como uma névoa fria. Sabia que não tinha como eles irem embora naquela noite, por isso tentaria encarar tudo da melhor forma possível.

-Deve ser um país muito animado, gostaria de poder o conhecer. Acho que a sua filha deve ficar entediada nessa cidade . – a mulher parou no meio da frase ao notar algo estranho e que fez gelar o seu sangue. Midori ao passar pelo parquinho vazio começou a acenar de forma animada na direção dos brinquedos vazios. Como que para aumentar a estranheza da cena o vento forte começou a fazer os balanços se moverem.

Foi visível a forma como a tensão cresceu depois do episodio dos balanços, mas durante o rápido jantar ninguém comentou nada. Comeram Gyudon, que era basicamente, carne com cebola sobre um tigela de arroz, cozida em um molho levemente agridoce. Durante o jantar Midori cantarolava alguma coisa de forma baixa, foi somente perto do fim da refeição que a letra da música começou a ser compreendida:

-Kagome, Kagome. Quem está atrás de você agora?

-Não cante essa música.- disse sua tia de repente batendo com as palmas da mão na mesa. Seus olhos estavam arregalados e era possível ouvir a sua respiração rápida. Haru se assustou mais que a filha. Porque sua família não havia falado da estranheza da mulher? Ela não se parecia nada com a mulher calma e reservada que seus pais haviam descrito.

- Sinto muito, mas não cante essa música.- disse a mulher saindo do ambiente com uma das mãos na testa, como se sentisse uma forte dor de cabeça. Haru foi logo atrás dela. Estava cansado de todo esse mistério.

-Quero saber o que está acontecendo.- disse de forma séria.- Desde que chegamos sinto que tem algo que a senhora não quer nos contar. Na nossa família sempre prezamos pela sinceridade.

-Porque vocês escolheram vim para essa cidade?- disse a tia sem encará-lo, aparentemente ignorando o que ele disse.

-Porque meus pais contaram histórias muito boas do tempo que ficaram aqui.

-Seus pais ficaram somente algumas semanas e eles não tinham nenhuma criança na época.

-Qual é o seu problema com crianças?- se esforçava para manter o controle, mas sentir que a todo momento a tia falava que a sua Midori não era bem-vinda estava o tirando do sério.

Ao falar em crianças o rosto da sua tia se converteu em uma careta. Era a face de alguém que estava quase perdendo o controle por completo. O olho esquerdo piscava de forma descontrolada:

- Não tenho nada contra a Midori-chan, por isso quero que ela vá embora. Mas existem crianças maldosas e sinistras nessa cidade. São muito vingativas. E pela música que a Midori cantava acho que essas crianças devem ter achado ela. Estão jogando um jogo. Tem que tirar ela daqui amanhã de manhã. De noite não, sair de noite seria pior ainda. Principalmente nessa noite. –a frase ficou no ar, um grito ainda mais alto irrompeu da garganta da tia- Hoje fazem duzentos anos. Como pude não lembrar disso!!

Haru havia recuado realmente assustado e temendo pela sua segurança. Não ficaria mais um segundo naquela casa com aquela mulher totalmente desequilibrada. Iria pegar a sua filha e ir para um hotel. Ao chegar no cômodo em que deixou a filha o desespero começou a se fazer presente. A menina havia sumido. Procurou em toda casa e nenhum sinal da menina. Encontrou a porta que levava para a rua entreaberta. Olhou sem entender nada, pois a porta tinha vários trincos, sua tia realmente parecia não se sentir muito segura e além disso estava trancada na chave. Não tinha como Midori ter a aberto.

-Espere? Você a deixou sozinha?- sua tia surgiu logo atrás dele como um fantasma. Sua expressão facial conseguiu ficar ainda pior, parecia ter envelhecido anos ou até séculos naquele momento. – Claro que deixou, pois foi falar comigo. -Ela começou a rir de forma descontrolada depois de dizer isso. Algo naquela risada que ele não soube identificar direito o que era foi mais assustador que qualquer coisa que ela pudesse dizer. Mas não tinha tempo para isso, tinha que achar Midori. A tia o agarrou com uma força que Haru jurou que ela não tinha:

-Não pode ir até lá. Ela vai cortar a sua cabeça! Não pode vencer o jogo deles. - a força era tanta que rasgou a camisa ao se soltar da tia e sair. A mulher desequilibrada o encarava da porta com lágrimas nos olhos e sussurrava alguma coisa que ele não quis entender. O medo não permitiu que ela o seguisse.

-Midori!- chamava a filha enquanto corria pelas ruas vazias que tinham um aspecto ainda pior por causa da noite.O parquinho estava ainda mais sinistro. Foi quando um barulho o fez estancar.- Midori? É você, filha?

-Kagome, Kagome.- reconheceu a música que a sua filha cantava no jantar, mas a voz não era dela. Aproximou-se com cuidado e viu se tratar de um idoso que recolhia com o auxilio de um forcado as flores que caiam. Aquilo não fazia nenhum sentido, assim como tudo naquela cidade.– A criança que procura passou por aqui. Kagome, Kagome. Ela está no jogo com seus amigos.

-Para onde ela foi? Quem estava com ela?- disse, no desespero, chacoalhando o idoso que havia começado a rir de forma descontrolada como a sua tia. O mesmo riso desesperado que arrepiava os seus cabelos. Chacoalhava o homem mais forte como se ele fosse o responsável por tudo que estava ocorrendo. Ainda com o dedo tremulo devido ao recente ataque de risos o homem começou a apontar na direção do parquinho. Haru achou que o homem estava brincando com a sua cara, pois ele já tinha visto que o parquinho estava vazio. Mas mesmo assim olhou em direção ao local. Foi quando viu.

-Kagome, Kagome cuidado, a cidade toda está no jogo e as coisas pioram com o passar da noite- o homem continuou cantando, mas o ignorou e correu em direção ao parquinho. Via que uma menina estava sentada no chão. Mesmo de costas reconheceu a sua filha.

-Midori? Estava tão preocupado com você. Vamos embora daqui. - tocou carinhosamente no ombro da menina tremendamente aliviado. A menina se virou para ele e foi quando notou que ela usava uma venda nos olhos e carregava alguma coisa nas mãos que estavam em formato de concha.

-Neve.- disse a menina que estendia o que tinha nas mãos em direção a ele, como se quisesse que ele pegasse. Midori estava bem perto do poste de luz, por isso ele notou que o que ela tinha na mão parecia ser realmente neve. Outro fato sem sentido de uma série de fatos sem sentido. Não importava naquele momento. Tentou carregar a menina, mas ela resistiu. – Neve, pai. Não se esqueça ou ela vai cortar a sua cabeça .Kagome, Kagome.Quem está atrás de você agora? –ao dizer isso a menina sumiu como se fosse feita de vento. No chão continuou a neve que ela tentava estender para ele. Ainda atordoado Haru tocou nela com dedos trêmulos, não entendia o que estava ocorrendo, mas sentia que aquilo, devido a forma como a filha insistiu tinha alguma importância. Ainda estava tocando na neve quando sentiu que a consistência dela começou a mudar rapidamente. Gritou a ver que tocava em vísceras moídas que formavam uma poça de sangue ao invés de água.

Um outro barulho começou a competir com o dos seus gritos. Era o barulho de correntes se movendo logo atrás dele.

-Kagome, Kagome. Eu também gritaria se eu fosse você. – disse a voz do menino misterioso que embalava no balanço enquanto cantava. Ele tinha uma franja que cobria quase toda a sua testa e usava uma roupa desbotada. Em seus olhos usava uma venda semelhante a que Midori usava, mas mesmo com a visão tampada parecia o encarar profundamente. - Mas principalmente tentaria pegar o monstro que falta. Kagome, Kagome. Posso lhe explicar o mistério.

Sentia que a sua língua havia perdido a função, assim como suas pernas que pareciam pesar uma tonelada devido ao medo, mas quando viu Midori em pé na entrada de uma das ruas encontrou forças para correr atrás dela.

- Kagome, Kagome. Ela vai cortar a sua cabeça.- disse o garoto no balanço- Kagome, Kagome. Você está cometendo um erro.

Enquanto tentava a alcançar notava que aquela música estava por toda parte. A parte “Kagome, Kagome” se repetia em todas e os outros trechos que eram cantados falavam de roda, monstro, cidade e a urgência de tudo se resolver até o amanhecer. As casas que quando ele chegou estavam fechadas se encontravam abertas e com as luzes acesas, na frente dos imóveis os moradores que cantavam mais trechos da estranha música. Se não fosse toda a estranheza da situação acharia que estavam se preparando para algum festival, a frase do idoso sobre toda cidade está no jogo dançava na sua mente. Lembrou que a tia em seu ataque nervoso havia dito algo sobre fazer duzentos anos naquela noite. Sentia que estava relacionado.

Notou que além da música a risada estava por toda parte, o que tornava tudo ainda mais sinistro. Midori estava muito mais rápida do que costumava lembrar. Entrou pela porta aberta do único hotel da cidade para novamente desaparecer na sua frente. O som das risadas era ainda mais forte naquele lugar em que a maioria eram turistas que como ele não sabiam no que estavam se metendo. Havia marcas de sangue no chão e de restos de bagagem por todo lado. Perto da recepção do lugar encontrou duas pessoas caídas no chão. Sangue vertia de suas cabeças, mas notou que ainda respiravam. A recepcionista estava perto, rindo de forma descontrolada segurava um taco sujo de sangue na sua mão.

Haru caiu de joelhos no chão sujo. Os metros que correu começaram a pesar, assim como tudo que ocorreu. Quando viu Midori em pé na porta de entrada do hotel, esperando para começar mais uma daquelas corridas em que provavelmente não a alcançaria. Ouviu o som das risadas mais perto. Demorou alguns momentos para notar que saia da sua boca. Entendeu naquele momento o que eram aqueles risos. Aquelas risadas demonstrava um nível de desespero que não poderia ser expressado por gritos ou por choro. Era o som de uma mente em colapso presa em uma situação infernal. Midori da porta fazia sinal com a mão para que a seguisse. Começou a rir mais alto.

Do lado de fora um barulho diferente se fez ouvir, parecia que estava ocorrendo uma correria e pensou ter ouvido um barulho de tiro. Lembrou que o idoso falou que a psicose coletiva que tomou conta da cidade piorava com o passar da noite. A canção continuava ainda mais alta, mas agora repetia:

-Kagome, Kagome. O monstro que falta tem que está no interior da roda até o amanhecer.

-Kagome, Kagome. Eles estão tentando capturar o monstro que falta, mas é você que pode fazer essa ação.- disse o menino com a venda tirando o acessório e estendendo para ele- Kagome, Kagome. Coloque a venda e entenderá qual pode ser o seu papel.

Haru vendo que não tinha opção colocou a venda e teve uma sensação de vertigem muito forte. Ao tirar o acessório notou que estava em um lugar diferente. Ouviu aquela música “Kagome, Kagome...”, mas dessa vez era cantada por crianças. Viu que havia uma menina vendada no centro de uma roda formada por crianças de mãos dadas.

Então “Kagome, Kagome” era uma brincadeira? Pensava nisso quando notou algo mais assustador. As crianças em sua maioria usavam curativos na cabeça e ataduras pelo corpo. O fato de estarem muito machucadas e aparentemente não sentirem dor tornava aquela brincadeira ainda mais assustadora.

-Ainda fica mais assustador.- comentou o menino ao seu lado notando sua expressão assustada.

A música parou por um momento e a roda deixou de girar, logo após todas as crianças cantaram o último verso:

-Kagome, Kagome. Quem está atrás de você agora?

-Ren.- disse a menina vendada. Todos da roda a aplaudiram e o menino que estava atrás dela recebeu a venda das mãos dela, provavelmente para ficar no seu lugar, mas as crianças aparentemente planejavam mudar o jogo. Deixaram o menino para trás ainda segurando o acessório e começaram a formar a roda ao redor de um misterioso homem que usava jaleco e as observava de longe. Não conseguiu sair nem mesmo quando ainda ao som da música as crianças começaram a atacar ele, com exceção do menino que ainda segurava a venda confuso. Não era preciso muito esforço para saber que era o garoto que encontrou no balanço.

- Kagome seria algo como cercando. Digamos que meus amigos literalmente cercaram todos os adultos que nos machucaram.-disse o menino ao seu lado.- Acredite não vai gostar de ver o que eles fizeram para os punir.

Após ele falar isso a cena mudou para uma sala em que era possível ver que a porta havia sido arrombada. Pelo chão muitos papeis e um frasco de vidro quebrado.

-Um dos monstros fugiu. –comentou o menino- Encontramos a janela aberta e o frasco vazio. .

-Acho que os monstros aqui são vocês.- disse Haru tentando se manter o mais afastado possível. Lembrou do que a sua tia falou daquelas crianças.- Apenas quero a minha filha.

-Você não entendeu nada. – disse Ren levantando o cabelo que ocultava a sua testa e mostrando uma longa cicatriz que ficava na linha entre o coro cabeludo e a testa- Aqui nesse orfanato certo dia dois cientistas chegaram junto com alguns enfermeiros e enfermeiras. Eles estavam atrás de um elixir que poderia permitir viver para sempre. Diziam que podia ser feito de algo extraído do cérebro de crianças por causa disso passaram tomaram conta do local e passaram a nós operar. Eles conseguiram o elixir, mas digamos que depois disso algo mudou nos meus amigos. Nessa noite fazem duzentos anos e digamos que tanto os adultos que nos machucaram como nós estamos vivos.–a cena mudou mais uma vez e ele se viu em uma sala em que estava uma criança desacordada em uma mesa. Uma enfermeira inseria uma agulha fina mais bem longa perto do globo ocular da menina. Ren apontou para a mulher.- E ainda falta um monstro. Ele está na cidade então o circulo que meus amigos formaram envolve toda a cidade em uma certa data e digamos que isso deixa as pessoas meio estranhas. Somente vai acabar quando conseguimos pegar o monstro que falta. Meus amigos não podem sair do orfanato e quanto a mim não posso ir tão longe como gostaria.

Haru estava totalmente chocado e sentiu novamente a forte vertigem. Quando abriu novamente os olhos estava de volta ao hotel.

-Você terá que fazer uma escolha:Pega o monstro e acaba com isso salvando toda cidade ou salva a sua filha, mas devo lhe dizer que não tem a menor chance de vencer o jogo dos meus amigos. Eles são como é que posso dizer... loucos e detestam adultos.

-Seus amigos estão com ela? Pode me levar até a Midori?

Ren fez cara de decepcionado:

-Você vai se arrepender. Ela vai cortar a sua cabeça. Coloque a venda.- Haru fez isso rapidamente. Dessa vez a vertigem foi mais forte. Ao tirar o acessório notou que estava no meio de um circulo formado por aquelas estranhas crianças. Olhou ao redor e viu que no canto do cômodo estavam corpos degolados. Havia uma poça de sangue seco e pertencem pessoais espalhados. Viu câmeras fotográficas e outras coisas que indicavam que aquelas pessoas eram turistas ou curiosos que entraram no local errado.

-Eles perderam.- disse uma menina chegando. Ela segurava uma espada samurai suja de sangue. Mas o seu rosto era mais assustador do que a arma que segurava. Tinha os cabelos sujos e grudentos de sangue. Ataduras cobriam quase todo o seu rosto que Haru teve a impressão que não gostaria de ver. - Adultos não sabem brincar de Kagome Kagome como as crianças. E sabe, segundo as nossas regras todos que entram aqui tem que brincar com a gente e quem perde tem que deixar a cabeça para trás.

-Apenas quero a minha filha de volta. –disse implorando. Apenas queria que tudo aquilo acabasse.

-E a terá se brincar com a gente.

A pilha de cadáveres dizia que ela estava mentindo.

-Mas você não é obrigado a brincar com a gente, tem uma segunda opção. Me siga.- sentiu quando mãos o arrastaram pelo corredor.

A menina os conduziu até uma porta que estava trancada. De dentro se ouviam alguns gritos. E um barulho constante como de garras arranhando madeira.

-Aqui estão os cientistas que fizeram isso com a seus auxiliaram. Digamos que no fim eles conseguiram o elixir que tanto queriam. Ninguém aqui morre. –disse apontando para a porta. As ataduras que envolviam o seu rosto ficaram manchadas – Isso não é maravilhoso? Podemos todos brincar juntos por muito e muito tempo. Pode se juntar a eles se quiser.

-Não.- gritou, pois só o cheiro que chegou até ele foi suficiente para saber que aquilo era muito pior que perder a cabeça..- Por favor não. Eu brinco com vocês.

-Ótimo. Ninguém escolhe essa opção.Sabe as regras do jogo não é?- disse a menina segurando firmemente a espada no momento em que a roda se formou novamente. Sentiu quando colocaram a venda nele. Cantaram a canção e no fim perguntaram quem estava atrás dele.

-Eu não sei, por favor. Como posso saber quem está atrás de mim se não sei o nome de vocês?

-Isso é problema seu. Kagome, Kagome. Quem está atrás de você agora?

O desespero crescia mais.

-Papai?- ouviu a voz de Midori vindo de trás dele. Sentiu um alivio tão grande. Mas no momento em que ia gritar o nome da filha a imagem dela no parquinho voltou a sua mente. Percebeu que estava no meio de uma armadilha. Se ele falasse que era a filha e não fosse ela iria perder a cabeça. Lembrou do que Midori disse sobre neve e falou:

-Yuki.- disse o nome que em algumas variantes queria dizer neve. Ouviu suspiros de decepção. Temeu que eles não cumprissem a palavra. Sentiu uma tontura muito mais forte que da outra vez. Quando acordou viu que estava do lado de fora do orfanato e que sua filha estava deitada ao seu lado. Ainda usava uma venda. Verificou e ela ainda respirava. Tirou aquele acessório e a carregou no colo.

-Papai, o que aconteceu?

-Vai ficar tudo bem agora.- disse a abraçando de forma emocionada.

-Isso me surpreendeu. – disse Ren surgindo de repente ao seu lado agora sem a venda- Depois de duzentos anos nem eu lembro o nome de todos eles. E procuro sempre que posso me manter o mais distante possível deles. Ainda não amanheceu ainda pode salvar a cidade dessa situação infernal. Sabe onde achar a sua tia.

Temas: Inferno e psicose