O CARRASCO
 
    Me nego a continuar... e não entendo como rostos marcados de desespero só enxergam pecados. A ponta da lança permanece suja de sangue, até que o próximo suba. Todo dia, cada momento, me perco na realidade. Ontem me trouxeram uma moça, pouco mais velha que minha filha, órfã, moradora de rua a anos, duvido até que não tenha conhecido minha garotinha. Os nobres, infames doentes escondidos sobre o manto do trono, assistiram sentados tomando chá. Segurei a garota, já muito machucada e a fiz se ajoelhar na guilhotina. Vi pela máscara negra seus olhos brilharem sob lagrimas de medo, meus dedos começaram a tremer, ainda assim, forcei-a... haviam três cabeças apodrecendo no cesto vermelho ao lado da guilhotina. Pobres homens ludibriados por uma vida de indiferenças. Um dos homens a frente, ergueu o braço coberto de joias, então puxei a alavanca. Talvez não me perdoe, talvez me olhem com desprezo e me temam mais que a morte, mas só estou aqui, pois careço de dinheiro para alimentar minha família.
 
 
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 29/08/2018
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