CIRCULO DE HORROR

 
 
— Não olhe agora...
— O que acha que podem estar fazendo lá dentro.
— Não tenho certeza.
— Viu quanto sangue tinha nas mãos dele.
— Acha que devemos chamar a polícia.
— Como, está com seu celular.
— Não.
— Nem eu.
— Acha que ela morreu.
— Cala a boca, ele não está mais na janela.
— Será que nos viu.
— Acho que não.
— Acha que não?
— É, cala a boca.
— Se lembra se a porta da frente estava aberta.
Gustavo não respondeu, preferias não responder a encarar que a porta estava fechada da última vez que olhou.
— Vamos voltar... ele pode acabar nos encontrando.
— Não tem como descermos daqui sem que ele nos veja.
— Está escuro, se descermos devagar ele não vai nos ver.
— Vai você primeiro então.
Felipe pendurou-se sobre o galho a baixo e colocou a perna dois centímetros para a esquerda, até que sentisse o galho mais abaixo. Antes de se soltar, escorreu na madeira lisa, caindo desajeitado de uma altura de dois metros. — Felipe, está bem...  — Sussurrou.
A luz do quintal ascendeu, mas Gustavo não conseguia ver se tinha saído de casa. De repente notou que Felipe não estava mais no chão. Uma fita de sangue cruzava o gramado para longe de sua vista.
— Felipe, aonde você está? — Sussurrou um pouco mais alto.
Não tinha coragem de sair d´onde estava, mesmo que seu amigo precisasse de ajuda. Olhando para a janela da casa ao lado, um garoto apontava para ele, mais precisamente para alguém bem ao seu lado.
— Cuidado, cuidado... está atrás de você.
Gustavo não teve tempo de se virar. Antes de desmaiar com uma pancada na nuca, viu dois olhos negros o cercarem, dois olhos sob uma máscara sem rosto.
— Gustavo... Gustavo... Gustavo... — Chamava uma voz desesperada.
— Felipe. — Respondeu num tom baixo, enquanto acordava.
A princípio não tinha notado, mas seus braços estavam amarrados. Seus olhos demoraram para se acostumarem aquela sala com pouca luz. Havia uma mesa a sua frente, e um tocador de fitas ligado.
— Por favor... não....
Gustavo ouvia a voz de seu amigo, mas não o encontrava. Havia alguém do outro lado da sala, uma sombra encostada na parede.
— Conte-me pirralho. O que fazia naquela arvore.
Gustavo piscou, forçando a vista e respondeu. — Aonde estou?
Ele não o respondeu.
— O que fez com meu amigo?
— Ei, você ai... o que fez com meu amigo?
A fita sob a mesa terminou e em seguida uma segunda gravação começou.
— Estou neste quarto a muito tempo, ele vem e vai todo dia, não me deixa sair. Ele me observa, todo dia, ele me observa, todo dia. Estou perdendo a cabeça, não sei se aguento ficar aqui mais tempo...
— Que merda é essa? — Perguntou-se.
— Ele matou minha mulher... ai meu Deus ele matou minha mulher e meu filho... se alguém estiver ouvindo isso, talvez não esteja mais vivo. Talvez ele tenha pego outro, talvez tenham me achado. Ele tem me obrigado... faz eu fazer coisas... faz eu me cortar na frente dele.
— Ei você, desliga essa merda...
— Ele me fez cortar meus dedos e come-los, me fez arrancar pedaços do meu braço. Não sinto minhas pernas.
Um sorriso abriu-se no escuro.
— Socorro. — Gemeu num tom fino. — Não aguento mais. Por favor, me mata, não aguento mais.
Gustavo sentia seu sangue pulsando, não queria mais ouvir a fita, mas não tinha como desliga-la, enquanto isso, alguém gargalhava na parte escura da sala, enquanto observava sua agonia.
 
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 14/08/2018
Reeditado em 14/08/2018
Código do texto: T6418469
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