Homicídio do Absurdo - CLTS 04
Deveria ser por volta das 2 horas da manhã, quando acordo com um tremendo peso sobre mim, as cortinas batem na janela no alto da cama, um triste ar noturno e frio toma conta do quarto, no lado de fora da casa um velho cachorro late. Tudo parece calmo e aparentemente está tudo sob controle. Me levanto e vou a cozinha com passos curtos e com tremendo sono. Acendo a luz e tomo um copo d' água. Sigo até o banheiro, acendo a luz, e limpo o sangue ainda quente da minha esposa do meu rosto, não me lembro como foi, mas tinha algo relacionado com facadas. Enfim, ela finamente foi curada da insonia. Volto para a cama dou um beijo em seu rosto frio e volto a dormir ao seu lado.
Acordo com um medo horrível, o pânico começa a tomar forma dentro de mim, como um pequeno flagelo sentimental. Vejo minha esposa afogada em sua própria morte e então penso no trabalho e no concerto do carro. Me levanto com o pânico indo embora, tinha tempo para limpar a sujeira. Pego o carro. Vou para o trabalho, volto por volta de umas 19:00. O mesmo maldito cachorro latindo, a mesma noite fria e úmida. Pego uma pá, abro uma cova nos fundos da nossa pequena casa, e volto para pegar o cadáver, jogo seu pequeno corpo na cova, a terra a cobre a cada golpe de pá, aos poucos seu lindo rosto seria coberto assim como meu remorso que morrera com ela.
Sigo minha vida normalmente caro leitor, não fique afoito por não ser um conto de atmosfera envolvente, mas talvez por mais que digam ou romantizem mortes. Não passa de uma consequência da vida, ou mesmo um ato singelo de violência e brutalidade, eu não tinha motivos para matar minha esposa, apenas o fiz. Antes que achem que isso é uma confissão em um conto qualquer, que se encontra em sites de internet, ou em revistas publicadas e que por ventura não o é, ou, talvez seja. Fica a seu critério dissertativo ou mesmo de sua índole moral.
Eram por volta das nove horas da manhã, no dia do crime. Vou para o trabalho e retorno com uma pizza para nós dois e a encontro sorrindo e ouvindo uma boa música, não me lembro ao certo, mas acho que era MPB, ela sempre gostara de boa música, animais e crianças. Uma verdadeira boa pessoa.
— Como foi o trabalho? — Respondi, tirando meu casaco.
— O de sempre, e o seu? Algum sucesso com as pinturas?
— Na verdade não. Ninguém gosta de pinturas com crianças sorrindo. —Ela disse suspirando.
— Não fique ansiosa isso logo vai passar – Digo isso colando a pizza na mesa.
— Como você sabe? — Diz sorrindo com os olhos.
— Na verdade,eu não sei, é apenas um bom pressentimento. Como se em breve nós teriamos paz.
— Você é estranho as vezes sabia – Disse se levantando do sofá.
— Na verdade não, me sinto iluminado hoje, como não me sentia a tempos sabia?
— E qual o motivo pra essa alegria repentina amor?
— É como se eu estive zonzo, mas com paz interior sabe?
— Estranho – ela disse
— Não fica assim, sabe que em breve teremos um filho — Disse pensando no seu desejo de ser mãe.
Ela me abraçou por trás e me deu um beijo na nuca.
— Você seria um ótimo pai, sabia?
— Mas só tenho 27 anos, quase um neném ainda. —Disse rindo
Rimos juntos e fui até a pia, lavar os pratos.
Nesse momento, caro leitor, você com certeza deve estar indignado com a atual situação proposta aqui, éramos um casal feliz e alegre. Vivendo felizes juntos a 4 anos. Mas o que mudara? Em um intervalo de horas? Será dito em breve.
Lavara todos os pratos, e a noite começara a cair, eram por volta das 22:00 e iriamos dormir em
breve, ela se arrumou e se deitou. Logo em seguida segui seus passos e me deitei ao seu lado.
Conversamos um pouco e logo adormecemos, de repente acordo e vou até a cozinha, pego uma faca e fico parado ao lado da cama. Imóvel como uma estátua e me perguntando o porquê de estar ali parado com uma faca na mão sendo a balança entre a vida e a morte. Volto para a cozinha e guardo a faca. Deito ao seu lado novamente e como ela estava linda naquela noite, eu era um homem de sorte.
Como não conseguia dormir segui para a sala, depois para o quintal, após contemplar as estrales e o silêncio noturno, volto para a cozinha, e como se um impulso feroz tomasse conta de mim, pego novamente a faca.
Paro novamente ao seu lado e saco a faca, ela cintila linda e dançante sob o crepúsculo do nosso quarto, reflito um pouco sobre ela, penso em quando nos conhecemos em um Julho frio, onde ela me ensinou a tentar cantar e me mostrou como as crianças poderiam ser lindas e puras. De como pegara minha mão quando eu chorava por ter sido despejado, ou de quanto se animava em ver a primavera e com ela, as flores desabrochando, ou até mesmo da vez que tropeçamos em um campo e rimos um do outro, e logo após, ficamos olhando as nuvens de Agosto.
A minha primeira vítima da noite foram as nossas lembranças, e em seguida, após pensar em toda a nossa vida de casal feliz e alegre. Saco a faca e a degolo na escuridão do quarto sem nenhum tipo de remorso, pensei em todos as cenas de sentimentalismo que eu já vira em minha vida porém nada daquilo fazia sentido. Continuo a degolando mais e mais ela abre seus lindos olhos negros e com lágrimas tenta falar algo para mim, porém sua garganta estava em pedaços sujos de sangue o corte quase atingiu o osso da coluna. Com a fúria de um animal selvagem sigo o ataque e enterro a faca em seu tórax e arranco seu útero, finalmente quando chego ao coração o tenho em minhas mão e durmo com o pequeno órgão ao lado da minha bochecha como se fosse um pássaro frágil.
Logo após a brutalidade, eu durmo ao lado do resto de carne esfaqueado e morto, com seu coração ainda quente no meu rosto. Levanto e vou para o banheiro. No dia seguinte vou ao trabalho e como já dito escondo todo o resto frio de carne gélida nos fundos do quintal na pequena cova. Poderia terminar esse relato ou esse conto, mesmo que quisesse, eu não poderia pois não senti remorso e nem culpa. Antes que as autoridades saibam ou desconfiem, gostaria apenas que soubessem como eu me sentira vivo, alegre, e até mesmo feliz com o ato e exatamente por isso caminho para o quarto e fico olhando para nossa cama antes branca e agora ensanguentada e com alguns pedaços de sua existência. Pego um lençol na mão e imagino como os criminosos de suicidam na prisão.
Victor Neves.
Psicose
P.S:A todos os leitores, muito obrigado, editei um pouco o texto original. O publiquei sem nenhuma edição. Corrigi os erros e adicionei um pouco de cada crítica. Valeu!!!!