ESTRANHO


— Michele. Graças a deus.
— Abaixa, abaixa, silêncio... — Sussurrou Michele.
— Precisa me ajudar, Alex caiu num buraco e se machucou, não consigo tirar ele sozinho.
— Cala a boca e abaixa. — Sussurrou Michele num tom mais alto, tapando sua boca.
— Que droga está fazendo, preciso de ajuda.
Michele saltou sobre Laura, derrubando-a.
— Essa ilha é um inferno. Agora, vou tirar a mão da sua boca, mas pelo amor de deus fique quieta, apenas olhe.
Laura fez que sim com a cabeça, vendo que Michele falava sério, tão parecia estar horrorizada. Após destampar sua boca devagar, ela apontou para trás, na direção de um rochedo. Laura não sabia o que deveria olhar, até que viu algo preso nas rochas.
— Aí meu Deus... — Falou Laura, chorando. — Daniele!
Haviam decepado a cabeça de Daniela e a pregado nas rochas.
— Quem poderia ter feito isso com ela? — Perguntou Laura.
— Laura, olhe, precisa se acalmar, não sabemos quem fez aquilo com a Dani. No momento precisar fugir desta ilha o mais rápido possível.
Laura estava tão abalada que não conseguia responder. Michele a abraçou, tentando acalma-la.
— Precisa se acalmar Laura... olha, presta atenção! Quem fez isso, pode já saber que também estamos aqui, então temos que ir.
Ela não conseguia tirar a imagem de sua amiga da mente, ao qual tinha compartilhado um de seus maiores segredos, ao qual nunca tinha contado a mais ninguém. Faltava força, para levantar-se, para falar, para viver... faltava tudo naquele momento, mas principalmente Daniele. — Dani, oh não Dani... — Sussurrou Laura.
Faziam quinze anos agora, mas sempre esteve ali, escondido em sua mente como uma espécie de recado e a primeira coisa que se lembrou em meio àquela situação foi a do corpo de seu pai e suas mãos molhadas de sangue.
— Filha.... Esta me ouvindo. — Chamou Bruno.
— Estou com medo papa.
— Medo de que filha.
Naquela época as coisas eram diferentes, mais obscuras, e esconder-se no guarda roupa de sua mãe era a única coisa que lhe deixava segura.
— Venha aqui filha.
Laura fez que não, e então Bruno a puxou para fora com violência.
— Eu sou seu pai me ouviu. Seu pai, deve respeito a mim.
— O que está fazendo a menina. — Gritou Nubia.
Bruno fechou o punho e acertou Nubia no rosto, fazendo-a desmaiar.
— Vagabunda. Viu o que fez com a minha filha. Não gosta de mim mais.
— Por favor, não, não faça isso. — Implorou Nubia precisando a ferida na testa.
Ele tirou o cinto de couro que comprara recentemente por cinquenta e nove e noventa.
— Filha, olhe... vai aprender a não ser como sua mãe.
Nubia tentou correr, mas escorreu e bateu a cabeça na quina da porta. Bruno subiu em cima dela, enquanto mal conseguia ficar lucida por conta da pancada. Laura acompanhou seu pai agredi-la diversas vezes e nunca tinha tido coragem para fazer nada. Havia uma tesoura sobre o criado mudo ao lado da cama. Seu pai esmurrava o rosto de sua mãe, mesmo depois de ter desmaiado. Havia sangue em seus punhos, no chão, e na porta, sangue em todas as direções.
— Sua desgraçada, vagabunda, Va-ga-bun-da. — Gritou Bruno espancando-a.
Laura correu até o criado mudo sem que Bruno o visse e pegou a tesouro. Percebeu naquele momento que a prata da tesoura brilhava excessivamente, e aquilo a incomodava.
Quando terminou, Bruno respirou fundo e cuspiu na cara da mulher. — Não vale nada, vagabunda. Ele se virou, e foi tão rápido que só notou o que tinha acontecido quando olhou para o chão e viu uma poça de sangue se formando ao seu redor. Laura foi rápida, e enfiou a tesoura em sua jugular, empurrando o máximo que podia até atingir uma cartilagem mais dura. Ela então abriu a tesoura e o sangue começou a jorrar.
Nubia acordou horas depois, tonta, com o rosto completamente inchado, seus olhos vibravam com a luz e tudo parecia muito claro e dolorido. Suas mãos tocaram o acoalho frio tentando se levantar, até notar algo melado por toda sua volta. Ela levantou a mão para ver o que era e então uma gota de sangue caiu sobre seu rosto.
— Desculpa mamãe, não queria fazer isso com papai. Mas ele estava te machucando.
Ela levantou o rosto... Bruno estava caído ao seu lado, com a tesoura ainda presa dentro da garganta, seu rosto paralisado observava a menina com uma expressão de terror.
— Filha. — Chamou Nubia levantando-se. — Vá buscar o serrote e um saco de lixo.
— O que vai fazer!
— O que esse lixo merece.
A voz de Michele penetrava em sua mente, lembrando-a da realidade.
— Laura venha, precisamos sair daqui, vamos logo. — Disse Michele.
Após percorreram quase quinze minutos na direção oposto de onde encontraram a cabeça de Daniele, a noite devorou o dia como um predador, e por mais difícil que fosse caminhar naquela floresta escura, estavam motivadas pelo medo.
— Temos que encontrar meu namorado. Está preso em um buraco.
— Fique calma, vamos encontra-lo. — Respondeu Michele, mesmo desconfiando que não encontrariam.
Michele e Laura haviam chegado ao ponto mais alto da ilha. — Está vendo aquilo?
— Um altar, será?
— Um altar? — Indagou Laura.
Enquanto aproximavam-se o chão tornou-se frio e muito mais liso que antes.
— Espere, onde estamos.
O chão passara de um caminho de terra a um pátio de pedras lisas e escuras. Pouco a frente dúzias de desenhos decoravam a volta do altar.
— Acha que são um culto...
— Não entendi.
— Um culto. Não está vendo o altar e agora esses desenhos.
Laura não respondeu, estava aflita demais para raciocinar.
— Acho que cultuam uma espécie de deusa.
— Como sabe.
— Está vendo aquele símbolo, talhado sob o altar.
— É Asteca. Não conheço a língua. Mais já vi aquele símbolo.
— Diz o que?
— Quetzalcóatl.
 
Continua...
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 12/08/2018
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