ESTRANHO

— Alguém viu a Daniele? — Perguntou Lucas aflito.
— Achei que ela já tivesse voltado.
— Como assim, para onde ela foi?
— Ela foi mijar, mas já faz quase meia hora. Já devia ter voltado. — Respondeu Michele.
— Deixou ela entrar na floresta sozinha.
­— Sou mãe dela por acaso.
Lucas viu um ponto de fumaça a pelo menos um quilometro da praia, estendendo-se para o alto como uma bandeira.
— Parece que alguém teve a mesma ideia que nós. — Falou Lucas apontando para a fumaça.
Um grito alto e desconcertante explodiu na mata, o grito foi tão forte que todos se assustaram, o pior é que a conheciam a voz, era Daniele.
— Ouviram isso, é a Dani...
— Espere. — Segurou Michele.
— O que está acontecendo? — Perguntou Laura que acabara de chegar na praia. — Que grito foi esse?
— Volta para a lancha amor.
— Porque?
— É mais seguro.
— Como assim, estamos em perigo.
— Não tenho certeza.
Lucas correu na direção da floresta, deixando os outros para trás.
— Vão deixa-lo ir sozinho mesmo! — Berrou Michele, correndo na direção dele.
— Mais que merda. Vamos nega.
Laura virou o rosto na direção da lancha, não achava ser possível ela sair d´onde estava.
— Michele... — Chamou Alex, vendo-a desaparecer na mata.
Laura sentia medo, e mesmo que segurar em seu namorado lhe desse algum conforto, não tinha certeza se era o suficiente, e com menos de cinco minutos na floresta, eles já haviam se perdido dos outros.
— Acho que os perdemos.
— Michele... Lucas... — Gritou Laura forçando as cordas vocais ao último.
— O que foi aquilo lá atrás.
— Acho que era a Dani gritando.
— Amor, preciso contar uma coisa. Mas promete que não vai rir.
— Fala logo gata.
— Quando estava nadando até a ilha, eu juro por Deus que parecia que havia alguém parado dentro da nossa lancha. Um homem alto vestido com folhas de bananeira.
Alex começou a rir, mostrando as duas fileiras de dentes perfeitos que tinha na boca. Laura esperava aquela reação, mas ficou envergonhada e lhe disferiu um soco no ombro.
— Desculpa... eu não aguentei. Como assim um homem vestindo folhas de bananeira? — Perguntou Alex rindo.
— Não sei, deixa para lá.
Laura o conhecera na faculdade, logo após terminar com seu ex. Ela chorava na escadaria do segundo andar borrando a maquiagem. Estava vestindo um vestido rosa de ceda com detalhes de cetim branco nos ombros, a parte inferior do vestido estava rasgado e havia uma marca vermelha em seu pulso que ameaçava inchar. Alex descia as escadas com o time de futebol quando a notou parada próxima da parede. — O que foi gata?
— Me deixa sozinha. — Respondeu enxugando as lagrimas.
­— Sabe, ele não merecia você. Todos já sabiam sobre a Ana, só não queriam te magoar.
— É melhor sair daqui. — Ameaçou-o.
Alex segurou no corrimão, aproximou-se devagar e abaixou, sentando-se ao seu lado. Laura ficou vermelha, queria ficar sozinha, mas ao mesmo tempo não. Seus olhos arquearam-se o entreolhando e começou a chorar. — Aquele bosta. Porque... — Respirou fundo, e em seguida o abraçou chorando.
— Ele não te merecia.
— Eles estavam dentro do almoxarifado, transando atrás de uma estante, acredita.
— Ah, o almoxarifado.
— Não seja besta.
— Ele ainda tentou se explicar. Foda hein.
— Só esqueça dele.
— Terminei com ele ali mesmo, enquanto aquela puta desgraçada se vestia.
Laura sentia a pele do tórax de Alex esquentando, então levantou o rosto, trocou um olhar frágil e lhe beijou. O beijo durou apenas três segundos, mas serviu para junta-los desde então, ou pelo menos até que Alex caísse dentro de um fosse cheio de estacas pontiagudas.
— Alex. — Gritou Laura, tentando puxa-lo para fora.
Por sorte, tinha caído no barro, próximo de uma poça de água arenosa, e a poucos centímetros de uma estaca molhada de sangue.
— Que merda de ilha é essa droga.
— Eu não consigo te puxar é muito fundo o buraco.
— Porra, eu acho que torci o tornozelo, não consigo me levantar.
— Vou procurar os outros, não consigo tira-lo daí sem ajuda.
— Como vai encontra-los?
— Acho que vi Michele indo naquela direção. — Apontou ela.
— Toma cuidado, esta escurecendo e temos que sair dessa ilha agora.
Alex cerrava os dentes para não gritar de dor, e segurando a base da perna com força, tinha medo de não conseguir sair daquela ilha, e acabar morrendo sozinho naquele buraco úmido e barrento. Laura levantou-se com dificuldade, suas mãos doloridas ardiam por ter se apoiado no chão pedregoso, não queria ter de deixa-lo, mas precisava encontrar ajuda, afinal era fraca e mal pesava cinquenta quilos, seus braços finos e quase esqueléticos mal teriam forças para erguer seu namorado por mais que um centímetro. Próximo dali olhos os observavam, obsidianas amareladas reluzindo como ouro por trás das arvores e sobre elas.
 
Continua...
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 12/08/2018
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