O PASSAGEIRO SILENCIOSO
— Não. Toma a linha todo o dia, vai até o final, mas não volta de trem.
As janelas tremiam com a velocidade do trem.
— Tem visto o jornal. Tem um merda por ai sequestrando mulheres. Já foram duas estas semanas.
— Acha que pode ser ele.
— Tão dizendo que o ponto de ação dele é na estação final desta linha.
— Olha cara, eu num sei... ele não me parece tão estranho assim.
— Por que? Conhece ele por acaso.
— Não...
— Então como sabe se não é ele.
— Tem razão não tenho, mas também não posso acusa-lo assim do nada.
— É, e se sua filha tivesse sido sequestrada, e você não tivesse noticia a um mês, o que faria.
Houve um silêncio.
— Cara, foi a sua filha.
Wallace abaixou o rosto, colocando a mão sobre os olhos.
— Só quero saber o que aconteceu com ela.
— Já foi a polícia?
— Eles são outros merdas que não fazem nada. Do que adianta, eles só sabem dizer que estão procurando...
Wallace respirou fundo, disfarçou e observou o homem de boné vermelho e capuz sentado no ultimo banco do vagão.
— É ele, tenho certeza...
— E vai fazer o que. O cara está ali, sentado, vai chegar nele e depois?
— Depois, depois, não sei... eu estou com tanta raiva que não sei o que posso fazer.
— Relaxa. — Disse Sidney.
Wallace esperou que o vagão esvaziasse. Sidney desceu duas estações antes do fim, e já estava pronto para ligar para polícia. Cheio de ódio, ele se aproximou do homem de boné vermelho. Ambos se entreolharam, até que Wallace falou.
— Foi você...
O homem continuou sentado de braços cruzados e não respondeu.
— Não está me ouvindo droga. Estou falando com você.
Wallace girou o braço num movimento rápido, dando-lhe um soco no rosto. O homem de boné caiu para o lado direito, mas logo se recompôs. Restava apenas uma estação para o final e ele sabia que se não conseguisse alguma informação, dentro de alguns minutos ele perderia qualquer chance de encontrar sua filha. Então sacou o revolver que tinha na cintura.
— Fala porra, aonde minha filha está?
O homem de boné vermelho levantou as mãos, e permaneceu imóvel, e sem dizer nenhuma palavra.
— Não vai falar...
Wallace engatilhou o revolver. O homem de boné vermelho o encarou chorando, ainda sem dizer nada. Quando as portas do vagão se abriram, uma mancha vermelha escorreu para fora, descendo pelos vãos da porta até cair na linha.
— O que você fez? — Gritou um funcionário do metro parado do lado de fora.
— Nunca mais vai pegar a filha de ninguém. — Gritou Wallace olhando para o cadáver do homem caído ao seu lado.
— Não precisa se preocupar, eu matei o sequestrador... — Falou Wallace.
João, aproximou-se do corpo, e respondeu.
— Porque atirou nele, ele não era sequestrador. Este rapaz era mudo, tinha um atrofiamento nas pernas então precisava de ajuda para andar...
Wallace permaneceu mudo, sem acreditar que podia ter matado um inocente.