O PIOR PESADELO
 
 
Emerson estava com dificuldade de terminar uma frase de seu conto de terror, passara as últimas duas horas a frente de seu notebook tentando imaginar um final crível, mas seu bloqueio criativo impedia que conseguisse chegar no ponto certo. As sete horas da noite, sentado na poltrona acabou cochilando. Ele tinha muito medo que as pessoas pensassem que seu conto era confuso, ou que a tratassem com desprezo por algum erro que havia deixado passar. Durante o sono, pensou estar em uma sala, sentando assistindo televisão ao lado de sua falecida mãe. — Mãe, você está bem?
— Não acredita mesmo que conseguira terminar não é...
— Como assim mãe.
Ana segurou seu braço, apertando o mais forte que pode até ficar roxo. — Você está me machucando.
— É preciso sentir a dor, sem dor não conseguira chegar lá.
Emerson levantou-se do sofá, então a televisão desligou e Ana desapareceu abruptamente. — Mãe... — Chamou ele.
Haviam vozes vindo da televisão desligada, uma serie de vozes misturadas por um chiado profundo e incrivelmente amedrontador. Emerson aproximou-se da televisão para puxar a tomada da força, contudo antes que pudesse viu pela tela da TV uma mão segurando seu ombro.
Ele se virou, e então as paredes começaram a desbotar, a cor branca no teto escureceu como se estivesse mofada e os azulejos do chão trincaram. Emerson sabia que estava em um sonho, entretanto não conseguia acordar.
A partir deste ponto o pesadelo tomou mais perspectiva e tensão. Ele não estava mais dentro de casa e sim num cemitério, haviam vários túmulos sem nome ao seu redor — Droga, droga, acorda merda... — Gritou ele apertando a cabeça. Quando abriu os olhos, uma lapide surgiu a sua frente com seu nome escrito nela.
— Filho... — Chamou a voz de sua mãe, calma e suave. Emerson viu próximo dali uma arvore pegando fogo, e ao lado dela, sob a penumbra, havia uma silhueta virada de costas.
— Filho, vem cá... vem pra dentro de mim.
Emerson aproximou-se de vagar. A silhueta parada ao lado da árvore produzia uma sombra incomum, era possível ver um vestido rasgado projetando-se no ar. — Não tenha medo filho... — Falou novamente ela, porém desta vez sua voz estava rouca e senil.
O cemitério parecerá vazio, mas ele sentia que estava sendo observado em todas as direções, podia sentir pequenos olhinhos vendo-o de detrás dos túmulos, das arvores, do chão, do céu e dos arbustos. Contudo, por mais aterrorizado que pudesse estar, tudo parecia piorar ao passo que se aproximava da silhueta no escuro.
— Está difícil, difícil encontrar palavras, deixe-me abriu sua cabeça, deixe colocar as unhas aí dentro. — Disse a sombra em voz alta.
Emerson estendeu a mão para toca-la quando a sombra desapareceu e reapareceu as suas costas. A primeira coisa que viu foram dois olhos, com as orbitas verdes. Quando aquilo se aproximou, pode ver sua pele escorregando do rosto como escamas descascando, a coisa era magra e não tinha nenhum aspecto próximo o de sua mãe, pelo contrário, parecia só ter um braço, o outro era apenas um toco deformado. Ele não tinha orelhas, e a boca estava aberta num sorriso cheio de dentes afiados e desalinhados.
— Agora tem medo... agora tem medo...
Não tinha como não começar a chorar naquela hora, e mesmo que gritasse ninguém o ouviria e já que não conseguia acordar imaginara o pior.
— Vou abrir você e depois vou come-lo devagar. Vou comer você enquanto grita.
Ele se levantou, suas pernas bambas tropeçaram na primeira pedra no caminho. A coisa então agarrou seu tornozelo, pode então sentir vários ossinhos apertando seu pé, e em seguida uma dor, algo parecia ter arrancado um naco de carne da sua perna. Naquele momento ficou mudo, tentava gritar de dor, mas não saia voz alguma. E a coisa esquelética puxava-o, arrancando pedaços de carne do seu pé. Usando o restante de força que sobrara em sua perna ele chutou o rosto da coisa e conseguiu se levantar. Porém, quando o fez, notou que estava agora numa espécie de auditório. Não havia ninguém na plateia, apenas uma luz forte e ofuscante direcionada no seu rosto. Sua perna sangrava, e era possível ver até os ossos.
— Aonde eu estou? — Gritou.
Uma chuva de aplausos e assovios responderam-no. E então um placar surgiu a sua frente, num telão, seu nome estava em primeiro lugar, seguido de outras dúzias de nomes borrados. Emerson não conseguia mais se mover, e após os aplausos, as cortinas começaram a se fechar. Havia alguém na plateia, sentado nas ultimas poltronas, era sua mãe, ela aplaudia, enquanto via as cortinas se fecharem para seu filho.
Emerson acordara caído no chão no seu quarto, ao lado da cadeira, com um pequeno corte na testa. Por fim, conseguira imaginar um final para seu conto, contudo alguma coisa estava estranha, ele não conseguia parar de escrever.
 
 
Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 07/08/2018
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