Correndo contra o tempo
Marcelo Lime acordou numa caçamba de lixo com o terno que usou na noite de autógrafos de seu livro O sucesso só chega para quem acredita. No seu peito, tinha um papel colado com fita isolante: você foi envenenado com uma droga letal. Descubra quem sou ou morrerá. Você tem 1 dia. Rá! Rá! Rá! 999-666-999. P.s.: Se você for à polícia, já está morto!
Marcelo não tinha inimigos, não declarados. Nada havia sido roubado dele. Conservava o celular e a carteira com dinheiro. Decidiu ligar para seu melhor amigo, o promotor da festa de lançamento de seu livro, Ivo Lante.
― Alô, Ivo?
― Marcelo? Você sumiu da festa! O que aconteceu?
― Eu ia lhe fazer a mesma pergunta. Acordei, agora há pouco, numa caçamba de lixo com um bilhete no peito dizendo que fui envenenado e tenho apenas 24 horas de vida caso eu não descubra o autor do bilhete…
― Que coisa sinistra! Tem mais alguma coisa escrita nesse bilhete? Alguma pista?
― Tem um telefone. Um celular…
― Pode ser apenas um trote, Marcelo. Uma brincadeira de mau gosto!
― Eu acho que é sério, Ivo. Se fosse brincadeira, eu não acordaria no lixo…
― Você está onde? Talvez seja melhor você ir à polícia.
― O autor do bilhete escreveu que se eu for à polícia, sou um homem morto…
― Me passe a rua em que você está. Eu vou te encontrar. ― Marcelo passou o endereço para o amigo: rua Uruguai, 66, na Tijuca.
Após 20 minutos, Ivo Lante chegou.
Marcelo Lime foi da glória de lançamento de um provável best-seller ao inferno de correr contra o tempo para salvar sua vida e imerso em seus pensamentos, nem notou a chegada do amigo.
― Como você está abatido, Marcelo!
― Se você estivesse no meu lugar também estaria assim, meu amigo. ― Disse Marcelo acordando do transe. O que devo fazer? Ligo para o celular do bilhete?
― Sim, ligue agora.
Após sete demorados toques, um homem de voz anasalada atendeu.
― Ora, ora, ora! O escritor best-seller está ligando para mim, um mero mortal…
― Quem é você? O que quer de mim? Quer dinheiro?
― Quem eu sou? Isto você vai ter que descobrir e tem menos de 16 horas para isso. Não quero seu dinheiro, apesar de você não ter como gastá-lo para o lugar que vai! Rá! Rá! Rá!
― Por que está fazendo isto comigo? O que eu te fiz? ― perguntou, com os olhos marejados, Marcelo Lime.
― Vou lhe dar uma dica: sou aquele que sobe e desce, que você vê, mas não observa. Sou aquele que um dia foi um fã, mas agora quer que seu ex-ídolo vá para o Inferno! ― E após dizer estas palavras, o homem desligou o telefone sem mais nada dizer.
O tempo foi passando e Marcelo Lime começou a se sentir muito mal. Suava frio que nem um boi caminhando para o abatedouro. Faltando menos de três horas para o prazo fatal e sem conseguir solucionar a charada, os amigos foram à polícia.
Foram muito bem atendidos pelo delegado Lúcio Flores.
Marcelo Lime contou tudo. Após o relato do escritor, o delegado aconselhou-o a fazer um exame toxicológico no Instituto Médico Legal. Nenhuma substância tóxica foi encontrada em seu corpo. O motivo do mal-estar de Marcelo devia-se a um efeito placebo, ou seja, ele se sentiu mal por achar que estava envenenado e que ia morrer em pouco tempo, mas Marcelo Lime não estava envenenado. Aliás, nunca esteve. O delegado, fã de Conan Doyle e Agatha Christie (dois mestres da literatura policial), solucionou rapidamente o quebra-cabeças do criminoso. O meliante era um ascensorista. Ele subia e descia com a vítima no elevador sem que ela o notasse. De fã, passou a hater (odiador). Com a solução da pista dada pelo criminoso, veio o nome do ascensorista na mente de Marcelo Lime: Osório Nesvis.
Osório era ascensorista do prédio de Marcelo e foi demitido por ter faltado a cinco dias de trabalho para ver Marcelo Lime na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). O ascensorista tentou falar com Marcelo para salvar seu emprego, mas sem sucesso. Desde então ficou com um ódio de morte do escritor. E seu plano diabólico foi arquitetado com este sinistro objetivo: tentar matar o ex-ídolo através de um enfarte fulminante, já que, como fã obsessivo, o ascensorista tinha pleno conhecimento do passado cardíaco de Marcelo Lime: transplantado de coração e diabético. E o ex-fã quase conseguiu seu intento. A pressão do escritor estava altíssima no momento em que ele chegou à delegacia. Agora, medicado, ele já estava bem. O ascensorista e ex-fã foi preso. Na prisão, foi assassinado pelos verdadeiros fãs de Marcelo Lime.
“Aqui se faz, aqui se paga.”
FIM