O Prato Vazio

— Você faz parte de mim! – digo antes da primeira garfada.

Sorrio para ela.

Sirvo-me da garrafa do vinho barato que acabei de abrir para nós, comprado num bar vagabundo. Seguro a taça pela haste e giro, observando as bordas do vinho e percebendo as suas cores. Inspirei e senti o aroma agradável ao meu nariz, bebi um pequeno gole e rolei o vinho pela boca, expondo-o a todas as minhas papilas gustativas, sentindo o seu encorpamento. O vinho desceu pela minha garganta numa sensação prazerosa, e por um momento, ainda sorrindo, esqueço que estamos separados.

— A culpa era minha, o tempo todo, Jo! — Basta do seu discurso cruel, e suas palavras mordazes, que me feriam como flechas envenenadas.

Sinto novamente o aroma do vinho, bebo outro gole, degustando o seu sabor e textura.

— Fico feliz por estar comigo, novamente! – digo, ouvindo o eco da minha voz na sala.

As velas no candelabro lançam estranhas sombras nas paredes, que parecem fantasmas a me vigiar.

Jo continua silenciosa, me observa de onde está.

Corto outro pedaço de carne. Bebo outro gole do vinho.

Ouço passos sorrateiros no lado de fora da casa. O vento, talvez…

Vou até a janela e vejo através da vidraça apenas o escuro sagrado da noite.

O seu perfume está em toda a parte da sala. Sinto o seu cheiro onde quer que eu vá.

O nosso jantar romântico se resume no seu prato vazio, e o meu; sujo de molho e restos de uma carne saborosa. Ainda assim, estou feliz por tê-la comigo outra vez. Sentir sua pele, tocar seu corpo, sentir o seu perfume e o seu gosto novamente.

Não vamos mais nos separar.

Deito o restante do bom vinho vagabundo, na minha taça, e bebo até não restar mais nada.

— Está tão quieta! – digo, mas ela não me responde.

Levo a garrafa de vinho para a lixeira, depois volto até a mesa e retiro nossos pratos.

Na pia da cozinha, abro a torneira e deixo a água fria escorrer em minhas mãos, enquanto eu lavo a louça do jantar.

Sinto o seu gosto, seu corpo, seu toque e o seu perfume junto a mim.

Quando abro a geladeira seu cheiro exala, ficando ainda mais forte.

Sinto minha boca salivar.

Ainda restavam suas mãos, seus seios fartos e macios…

E o seu coração duro e gelado, como sempre foi…

Em pouco tempo, Jo seria apenas uma vaga lembrança…

FIM

Amigo Leitor,

Espero que tenha gostado do conto acima.

Solicito que após a leitura, deixe nos comentários o seu feedback, pois ele é muito importante para mim.

Agradeço sua visita,

Abraços!

Rangel Elesbão
Enviado por Rangel Elesbão em 02/08/2018
Reeditado em 12/08/2018
Código do texto: T6407101
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.