Relatos Do Apocalipse

“Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre estes não tem poder a segunda morte; mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele mil anos.”

Apocalipse 20:6

Recordo-me desta passagem ao ouvir os sons guturais que vazam das gargantas do lado de fora do meu apartamento. Elas não me assustam mais quanto antes. Daqui eu posso ouvir os gemidos dos portadores da doença apocalíptica. Não sei como eu mesmo ouso chamar essa pandemia de doença, pois ao meu ver tudo isso não passa de um novo recomeço do universo. Malditos sejam os seres que ousaram desafiar os princípios divinos.

Não se sabe ao certo o que se acomete ao portador da marca bestial, mas sabe-se que sua consciência se perde e sua alma é sobrepujada pelos males do inferno como num romance ficcional de George Romero.

No começo todos se assustaram, inclusive eu. Mas depois de ver sua família se atracando com mordidas regadas à fúria, tudo fica mais fácil de ser absorvido. Ainda mais quando você se vê obrigado a matar um ente querido para não ser morto pelo mesmo.

Há dias luto com um pequeno grupo de sobreviventes daqui da região, mas por mera idiotice acabei me separando e fui encurralado em meu prédio. Decidi então voltar pra o meu antigo apartamento onde eu divido espaço com os cadáveres carbonizados de minha família. Apenas o fogo impede o renascimento das criaturas. Tomamos em nossas mãos o fogo dos deuses tal como Prometeu? Talvez seja esse o nosso eterno castigo...

Da pequena janela do meu quarto eu posso ver a rua que se estende à vasta escuridão. Com a energia elétrica desligada e com a escuridão predominante desta nova era, eu sou incapaz de ver o que se passa do lado de fora com exceção das sombras projetadas nas paredes devido aos focos de incêndio espalhados ao redor do prédio. Sombras projetadas... A ignorância da humanidade era uma bênção e certos conhecimentos são capciosos. O Mito Da Caverna nunca se mostrou tão bem representado quanto neste novo mundo sombrio que se inaugura.

“Não busque esperança na reflexão”, escrevo com meu sangue aqui no espelho do meu antigo quarto. Fui mordido no braço há alguns minutos atrás, e assim fui marcado. Estou sem balas em meu revólver, então não existe mais alternativa a não ser me entregar ao destino infernal como um cordeiro frente ao abate. Deixo o apocalipse seguir seu curso...

FIM

(Guilherme Henrique)>> Pode ser modinha, mas é sempre divertido abordar esse tema :)

PássaroAzul
Enviado por PássaroAzul em 30/07/2018
Reeditado em 30/07/2018
Código do texto: T6404841
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