Sonhos recorrentes

Carlos Diniz era piloto de avião. Enfrentava e vencia a morte todos os dias em seu trabalho, ainda que inconscientemente. Há cinco dias, Carlos vem tendo um sonho que se repete, um sonho recorrente. Nele, o piloto de avião é atacado e esfaqueado nas costas por um homem que ele não consegue ver o rosto. No exato momento, em que ele recebe a facada, Carlos sempre acorda sem saber o desfecho do sonho.

Carlos Diniz era ateu e só acreditava no que a ciência explicava. Mas o sonho repetitivo o assustava e ele decidiu procurar ajuda. O piloto desabafou com uma amiga, uma comissária de bordo, Suzana Risfol, sobre o maldito pesadelo que vinha tendo todas as noites.

Suzana o indicou um terapeuta de vidas passadas. Carlos pegou o telefone do terapeuta, Mário Lizt, mas não ligou. No dia seguinte, acordou suando frio e com as mãos geladas. O sonho se repetiu, mas desta vez ele viu o rosto de seu algoz. Um homem de cabelos pretos com fisionomia árabe, que ele nunca vira na vida. Não quis mais perder tempo. Ligou para o terapeuta sem nem mesmo ter tomado o café. Marcou a consulta para aquele dia mesmo, às cinco da tarde.

Carlos chegou adiantado. Ainda faltavam quinze minutos para sua consulta, mas sua ansiedade gritava em seu peito. Após alguns minutos, que pareceram uma eternidade, Carlos foi finalmente atendido.

O terapeuta era um homem de estatura mediana, calvo no topo da cabeça e magro. Não parecia um terapeuta.

― Então, meu caro, por que está aqui?

― Há seis dias, venho tendo um sonho recorrente, doutor. Sonho que sou esfaqueado nas costas...

― E você morre no sonho? ― pergunta o terapeuta, interrompendo a descrição do sonho de Carlos Diniz.

― Não sei. Sempre acordo antes.

― Vou iniciar a sessão. Eu trabalho com hipnose para a regressão de vidas passadas. Vou verificar se o motivo de seu sonho está numa vida que você já viveu. Olhe atentamente para este pêndulo, Carlos. Carlos olha para o pêndulo na mão esquerda do terapeuta. Após alguns minutos de resistência, ele está hipnotizado.

― O que você vê, Carlos?

― Eu vejo uma cidade, cheia de homens vestidos com roupas antigas. Togas. Sim, togas.

― Você está sozinho?

― Sim. Eu estou sozinho. Ando a passos firmes para um grande salão, nele há muitos homens. Eles me esperam. Eles...― neste momento, de grande tensão, Carlos Diniz acorda assustado do transe. Doutor Mário marca outra sessão para o dia seguinte.

A noite chega e o sonho recorrente também. Carlos acorda suando frio. O coração parece querer sair-lhe da boca. Desta vez, no sonho (pesadelo), ele se vê caído no chão, numa poça de sangue. Ele sabe que não tem muito tempo de vida. Precisa solucionar o mistério de seu sonho ou ele virará realidade.

Carlos chega ao consultório do doutor Mário Lizt meia-hora antes. Tenta ser atendido imediatamente, mas não consegue. Carlos faltara ao trabalho novamente. Como pilotar um avião com a vida de diversos passageiros sob sua responsabilidade se ele não conseguia comandar sua própria vida. Após uma espera pior que uma tortura chinesa, doutor Mário, finalmente, o chamou.

Carlos contou-lhe sobre o último sonho que tivera e a sessão tem início.

Estimulado pelo terapeuta, Carlos chega até o ponto em que parou subitamente na sessão passada:

― Sim. Eu estou sozinho. Ando a passos firmes para um grande salão, nele há muitos homens. Eles me esperam. Eles...eles… eles me golpeiam com punhais nas minhas costas. Até meu filho… meu próprio filho…

Doutor Mário, não tem mais dúvidas: Carlos Diniz fora em uma outra vida o ditador romano, Júlio César, que morreu assassinado no senado romano com a participação de seu próprio filho, Brutus.

O sonho (ou pesadelo) recorrente do comandante de avião está diretamente ligado a sua vida passada.

Após voltar do transe hipnótico, Carlos Diniz se sente aliviado. Paga ao doutor e vai para casa. No dia seguinte, dia 30 de julho, vai trabalhar normalmente.

Manchete do jornal O Globo de 31 de julho: Comandante do avião comercial 747 é morto a facadas, após ter seu avião sequestrado por terrorista do estado islâmico.

FIM