O HOMEM E A MORTE
Estava frio, e passara da meia noite quando a lua tomou forma no céu, junto a um mar de estrelas. E sob o campo ermo das terras desoladas, estava a morte descansando, vendo as estrelas. Então surgiu um homem, vestido de escuro, ele não tinha nome e falava em tom senil.
— Ainda caminha pela terra...
¬A morte virou o rosto na direção do homem nas sombras, uma figura decrepita, aparentava ter mais anos que qualquer outro homem que já tenha vivido. Usava um gorro preto e tinha na mão uma faca.
— Quem é você que se esconde no escuro? — Perguntou a morte ainda deitada.
— Não me conhece... sou, o homem. O último.
¬— E o que queres comigo rapaz. — Caçoou a morte.
O homem se aproximou, tirou de dentro da penumbra um manto, tão escuro como a noite.
— Você levou todos aqueles que eu conhecia e que amava... porque me deixou vivo morte?
A morte levantou-se, podendo então ver melhor o homem. — Sabe que sou o fim, sabe que todos tinham um destino e que um dia tudo acabaria.
O homem sabia que a morte estava à frente dele, mas mesmo que tivesse vivido todo o infinito, ele nunca conseguiria assimilar sua existência, portanto acreditava ver uma figura humana, descarnada e com grandes orbitas oculares escuras.
— Não temo você morte.
— E porque me temeria. Sou seu destino, se não hoje, um dia qualquer.
— Porque desejas-me tanto.
— Porque achas que não é você que me deseja mais que tudo.
O homem curvou-se de cansaço e respondeu.
— Você não faz parte de mim. Não a desejo, pelo contrário tenho repulsa de ti. E se estou aqui agora é porque a venci.
— Garoto! ¬— Caçoou novamente a morte. — Toda vida encontrara uma morte um dia, não existe vencedores, pelo contrário, aqueles que aceitam a mim são vencem. Pense, se não fosse a morte, o que acha que aconteceria. Um mundo caótico, guerras, fome, dor, infinitas, pois se ninguém morre, iram todos sofrer para sempre. Olha, tive de levar todo mundo porque acima de tudo é o meu dever e mesmo que quisesse não poderia salvar qualquer um de mim, é impossível, estaria lutando contra minha própria natureza.
— Já não acredito mais nas suas palavras venenosas morte. É como uma cobra, atiçando-me para me levar a ti. Como fez com todos.
— Todos não...
— Sou sábio Morte, como tu vivi muito. Muito mesmo. Tive tempo para descobrir a verdade. Tive tempo para refletir. Para encontrar proposito. E para descobrir que que tu não és o único caminho.
O homem levantou-se mostrando suas costelas secas e deformadas, seu abdômen ensebado e seus olhos amarelos.
— Viverei para sempre, como quero, pois não tem mais controle sobre mim.
— Sabe que já sei seu destino.
O homem se aproximou, levantou a cabeça e respondeu.
— Não importa o que diga, suas palavras são fogo que queima invisível na mente dos manipuláveis. Decidi viver, decidi explorar a existência da vida, mesmo depois que todos se foram, mas continuarei... e nunca me encontrara de novo.
— Você que pensa filho. Da mesma forma que estou aqui conversando contigo, estarei no fim fechando os teus olhos.