A ESCURIDÃO DELE

— Como posso dizer isso. Eu... estava dormindo, então a porta se abriu, mas não sei quando. Abri os olhos, lembro que ouvi alguns passos se aproximando da cama e uma sombra que refletia na parede. Eu acho que era o a figura de um homem, e eu... me desculpem...

— Calma filho, vá até onde consegue.

— Eu vi algo na mão dele, a princípio achei que era uma bola, mas quando abri os olhos de verdade, vi que era uma cabeça, então em seguida ouvi a respiração dele próximo de mim, bem próximo mesmo. Ele se abaixou o cheirou meu cabeço, não sei porque, mas cheirou. Em seguida ele encostou a ponta dos dedos na minha orelha. Ele estava frio, muito frio mesmo, parecia até que tinham congelado a mão dele. Senti vontade até de fugir, mas sabia que se o fizesse ele me pegaria, me pegaria e faria o mesmo que fez com a mamãe.

— Certo. Filho, quero que se concentre, sei que está muito abalado. Quer dizer, na verdade não sei exatamente o que está sentindo, mas se não quiser que isso aconteça com outra família, preciso que me ajude.

Nicolas fez que sim com cabeça.

— Agora, conte o que aconteceu em seguida.

— Eu ouvi meu irmão gritando no outro cômodo, ele é pequeno sabe, e as vezes a noite acorda e vai no banheiro, ele provavelmente foi no quarto da mamãe. Viu a mesma cena que eu... o homem parado ao meu lado se assustou com o grito e saiu do quarto rápido indo na direção da voz do meu irmão, quando vi que tinha passado da porta me virei, e vi ele se aproximando do quarto. Ele estava todo pelado, sem roupa nenhuma, segurando a cabeça.

— O que aconteceu em seguida?

— Precisa mesmo fazer isso com ele Victor. Não vê que o garoto esta horrorizado.

— Meu senhor, um homem entrou na casa desta criança e matou cinco pessoas e deixou apenas ele vivo, preciso do máximo de informações para ajudar a prender esse monstro.

— Eu sei, eu sei. Mas...

— Não tem mas Carlos. Se ele não me disser o que sabe mais gente vai morrer.

Nicolas segurou na camisa polo de Carlos e disse.

— Deixa vô. Deixa vô.

Carlos o observou, sem saber o que fazer.

— Continue garoto.

— Não queria sair da cama, mas então quando meu irmão parou de gritar, sabia que tinha acontecido. Então me levantei. Estava de pijama, e tentei me esconder para ele não me achar. O quarto estava gelado, mas que o normal. Lembro que o chão estava tão frio que quase fiz barulho. Então quando me aproximei da porta vi o sangue. Havia muito sangue e um barulho estranho, como se algo estivesse serrando alguma coisa. Deixei passar alguns minutos, observei atendo da porta o corredor até o quarto da mamãe, e quando ele saiu, nem olhou para o meu quarto, apenas seguiu o corredor com a cabeça da mamãe na mão e desceu as escadas, eu corri para o quarto da mamãe, mas escorreguei no sangue, achei que ele ia me pegar, mas não apareceu, então eu me levantei e entrei no quarto. Estava escuro, e havia um zunido bem baixo de um tipo de apito vindo provavelmente lá de baixo, da cozinha. Quando eu entrei no quarto tropecei no meu irmão, ele estava do lado da mamãe.

¬— Diga-me Nicolas, porque ficou deitado sobre os corpos deles?

Nicolas ficou mudo.

— Não quer falar.

— Chega Victor. Agora chega.

— Sabe Carlos, há algo ainda muito estranho nessa história. Ainda sabemos muito pouco. Mas, Nicolas as evidencias se levarmos em consideração o que temos até o momento... encontramos Nicolas sob os cadáveres da mãe e do irmão. Não encontramos sinais, evidencias ou DNA que comprovasse especificamente outra pessoa no local. Os outros três corpos, a prima e dois tios que dormiam no piso inferior apresentavam lesões incompatíveis com este depoimento... Sabe o que estou falando. Não encontramos a arma do crime, mas cremos que tenha sido uma espécie de punhal, seguido de um serrote para desmembrar os corpos.

— Filho, sua ficha diz que tem problemas de sonambulismo, correto.

— Não ouse.

— Tem certeza disso Carlos. Sabe que se estiver certo...

— Chega. Estão nos acusando de algo.

— Ainda não.

— Então não temos porque ficar aqui. Vamos Nicolas.

Victor observou Nicolas sair da porta e lembrou-se da cena macabra que encontrara em sua casa. — Tão jovem, meu deus.

Seus olhos brilharam, até que não pudesse mais ver Nicolas no corredor.

Vinícius N Neto
Enviado por Vinícius N Neto em 25/07/2018
Reeditado em 25/07/2018
Código do texto: T6400201
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.