Condenado
Seu semblante era macabro, mas seu olhar não transmitia medo ou insanidade. Ele estava tranquilo quando foi colocado naquela cadeira. Os eletrodos foram posicionados em suas têmporas que logo estariam cobertas pelo elmo ligado à rede de alta tensão que emitiria o choque fatal. A esponja molhada foi cuidadosamente colocada sobre sua cabeça e a água desceu pelo resto do corpo para permitir a condução da corrente elétrica. Todos os olhos estavam virados para ele naquele momento, e o oficial começou a proferir a sentença de morte.
A bancada julgadora, juntamente com os membros da família das vítimas do perverso assassino assistiam a aquele espetáculo paralisados. Ninguém saberia explicar, mas o ar parecia estar rarefeito e um frio intermitente circulava naquela pequena sala de execução.
O silêncio era perturbador, pois com exceção da voz do oficial proclamando a sentença, nenhum mínimo som podia ser ouvido. Era como se todos estivessem prendendo a respiração para evitar interferir de alguma forma.
Finalmente a sentença foi proferida e o oficial permitiu ao condenado que este dissesse suas últimas palavras em vida antes da máquina letal ser ligada. O condenado sorriu e balançou a cabeça negativamente. Ele optou pelo silêncio surpreendendo a todos ali presente. Era um demônio que fazia jus a sua alcunha: “O Demônio Debochado”.
Por um instante o carrasco hesitou em ligar a pesada chave que permitiria a passagem da corrente fatal, pois o olhar intimidador do assassino caíra sobre seus olhos. Mas um capuz preto fora posto sobre a cabeça do condenado no momento em que o superior do jovem carrasco acenava severamente com a cabeça indicando que estava na hora de ligar a cadeira. E assim, o carrasco o fez.
O silêncio intimidador foi substituído pelo som da carne do assassino sendo queimada com a enorme corrente que passava pelo seu corpo que naquele momento, se debatia violentamente. O cheiro de carne humana queimada e a fumaça que permeava envolta do condenado eram nauseantes a ponto de fazer alguns expectadores vomitarem. O Sangue escorria por debaixo do capuz que cobria o rosto do homem, pois seus olhos saltaram das órbitas devido ao forte choque. As luzes do local oscilavam enquanto a eletricidade tirava a vida do cruel assassino sob os olhares de todos ali presentes.
Mas o mais assustador não foi registrado no relatório oficial de execução daquele dia. Enquanto a eletricidade corria pelo corpo do condenado e arruinava seus órgãos internos, ele gargalhava alto como se aquilo não passasse de uma brincadeira. Os expectadores estremeciam, mas não conseguiam deixar o local, pois o medo era tamanho que seus corpos foram petrificados pelo horror daquela cena.
Foi somente depois de alguns minutos que a gargalhada assustadora cessou-se. E todos foram tomados pelo pânico quando um guarda retirou o capuz da cabeça do cadáver, pois por debaixo do adereço encontrava-se um sorriso macabro que estava exposto em meio às severas queimaduras em seu rosto deformado. E há quem diga que ele ainda deu sua última risada quando três expectadores desmaiaram simultaneamente ao presenciar aquela cena pavorosa. O Demônio debochou de sua própria morte naquele dia.
(Guilherme Henrique)