Anjo

Abri os olhos e me deparei com uma silhueta estranha, detentora de uma forma humanoide. Ela estendia um de seus longos braços em minha direção, como se oferecesse ajuda. Percebi então que eu estava deitado no chão sem minhas roupas. Aceitei a ajuda e apertei sua mão. Era fria; como se eu estivesse segurando algum corrimão gelado de ferro. Minha visão estava turva e minha cabeça doía como nunca, mas mesmo assim fui capaz de enxergar com clareza o rosto de meu anjo. Sim, um anjo. Seus cabelos loiros e encaracolados faziam jus ao estereótipo criado pelas lendas, assim como as longas asas dobradas que envolviam suas costas e sua beleza quase que hipnotizante. Como ele era lindo! Seus olhos eram azulados, tal como o céu no apogeu do verão. E foram exatamente esses olhos que acalentaram meu coração, que naquele momento, parecia-se tambores tribais ressoando ao som de meus anseios.

Inexplicavelmente uma alegria apossou-se de meu ser. Senti-me revigorado, como se estivesse flutuando nas nuvens. Ele ainda não havia soltado minha mão quando me levou à passos lentos para um caminho estreito que surgira durante minha distração causada por sua exuberante beleza.

Enquanto caminhava fui aos poucos me lembrando do motivo de eu estar ali. Eu havia sido morto durante um assalto planejado por minha quadrilha. As coisas fugiram do controle e eu acabei sendo encurralado pelos policiais, que não pestanejaram em me alvejar brutalmente. Lembro-me que momentos antes de morrer eu havia me arrependido e feito uma rápida a singela oração aos céus. Deus atendera o meu pedido de misericórdia e um anjo arrastara suas asas para me levar ao eterno paraíso!

Chegamos a uma porta que se encontrava semiaberta. Com um simpático gesto, o anjo me orientou a atravessá-la e eu o fiz rapidamente. Após atravessar, minha inerente felicidade foi brutalmente substituída pelo mais puro horror. De onde eu estava eu fui capaz de ver os condenados mutilados pelas hordas demoníacas, ajoelhados, enquanto um chicote de fogo açoitava suas costas. Os gritos de dor eram nauseantes, assim como os sons de dilacerações e ossos sendo violentamente quebrados pelas mãos dos carrascos. Olhei para trás desesperado, e o belo anjo continuava a sorrir. Percebi então a minha estupidez ao achar que estava sendo encaminhado para o céu, pois me esqueci do fato de que Lúcifer, a Estrela da Manhã, era o mais belo anjo que residia ao lado de Deus no reino dos céus antes de tornar-se o “Anjo Caído”. Eu estava no inferno. Deus não atendera as minhas preces.

FIM

(Guilherme Henrique)

PássaroAzul
Enviado por PássaroAzul em 13/07/2018
Reeditado em 13/07/2018
Código do texto: T6389306
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