A Visita

Com base em relatos que eu ouvi durante a minha vida, resolvi criar este conto. Relatos esses que eram chamados de "Causos" por aqui... Tenham uma boa leitura!

A Visita

A chuva caía fortemente do lado de fora da minha casa quando a campainha estranhamente tocou. Não consigo me recordar que horas eram exatamente, mas sabia que já se passava da meia noite. Eu já me preparava para dormir quando recebi Antônio, um velho amigo meu que há muito tempo eu não via. Convidei-o para entrar e ele humildemente sentou-se em meu sofá. Pensei em acordar a minha esposa para também recebê-lo, porém ele me aconselhou a não fazer isso, afinal era muito tarde. Sentei-me ao seu lado e perguntei o que o levara a visitar-me naquela noite chuvosa e ele começou a falar de uma maneira um tanto quanto estranha. Primeiro, era como se ele estivesse preocupado. Seus olhos quase não piscavam e sua boca trêmula adiantava-se em falar de forma rápida, como se ele estivesse ansioso. Logo em seguida, ele disse que estava ali para me pedir um favor, pois confiava em nossa longa amizade. Claro que eu disse que faria qualquer coisa, afinal ele era meu amigo desde tempos antigos. Mas como acontece com várias amizades durante nossas vidas aqui na terra, nos afastamos um do outro com o passar dos anos.

O pedido de Antônio me pegou um pouco de surpresa, pois fora quase como uma súplica para que eu avisasse sua família que ele não seria capaz de retornar pra casa naquela noite. Confuso, perguntei o porquê ele estaria me pedindo aquilo e o que o impedia dele mesmo passar tal recado. E eis que ele me surpreendeu mais ainda quando me disse que estava morto. Segundo suas palavras, um acidente havia acontecido com ele durante sua trajetória para a casa devido a forte chuva que caía.

Depois de ouvir tal relato comecei a rir, achando que se tratava de uma das inúmeras piadas que ele costumava me contar. Mas senti um arrepio quando percebi que meu amigo havia desaparecido de minha casa num dos piscares de meus olhos.

Com meu coração acelerado corri para o telefone e liguei para a casa de Antônio, e fui acometido por um desespero quando sua esposa atendeu e dissera-me, com um ar preocupado, que meu velho amigo ainda não havia chegado em casa.

Muitos não acreditam em meus relatos, mas nunca vou esquecer-me do momento em que eu ajudei os familiares de Antônio a carregar o pesado caixão em que jazia o seu corpo para o ritual que o prenderia para sempre debaixo da terra em que pisamos. Apenas uma impressão assombrosa do dia de seu enterro eu guardei somente para mim: Enquanto eu descia as cordas que suspendiam seu caixão, fui capaz de ouvir sua clássica risada em minha mente, como se tudo aquilo fosse mais uma de suas piadas...

(Guilherme Henrique)

PássaroAzul
Enviado por PássaroAzul em 03/07/2018
Reeditado em 03/07/2018
Código do texto: T6380660
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