A SEMENTE DO MAL
Sobe as escadas correndo. Sabe que está sendo seguido. Adentra o corredor semiescuro como quem foge da própria sombra, os baques de seus passos não chamam a atenção dos demais inquilinos. O cheiro de pavor injeta-se nos poros do rapaz em fuga que, pesando o fôlego, estaciona trêmulo diante do cômodo onde mora e, entreolhando a retaguarda, puxa as chaves do bolso da calça. Antes de descerrar a fechadura, ouve um sussurro ácido que o convida à morte. Ele fecha os olhos e torce a face de um modo defensivo enquanto enfia e roda a chave, mas quando, finalmente, abre a porta sente os dedos grossos de uma grande mão apossar-lhe a respiração através de uma esganadura no pescoço contra a qual luta em desespero enquanto a figura indefinível surge, das mesmas sombras que o amedrontam, para assegurar o dia final de um jovem cheio de sonhos. A espécie inimiga pertence a uma descendência anônima de porte grande e robusto que solta chamas azuladas pelas ventas e ódio dos olhos...
Esforça-se contra as mãos rígidas por meio de giros corporais elevações de braços e gritos abafados, mas sente que toda a dedicação é inútil. Faz o caminho inverso ao da chegada para atrair a criatura à escada e atirá-la abaixo, mas é vitimado pela própria intenção... estatela-se nos degraus do quarto andar ao térreo.
Ninguém se manifestou até a chegada da polícia que, pelo registro das câmeras de segurança, confirmam o suicídio.