A SANTA E O DEMÔNIO
A luz e a escuridão
Dizem que o Diabo é a face inversa de Deus. E que a luz só pode ser gerada a partir da escuridão. Por isso a Bíblia ensina que Deus tirou luz das trevas para fazer o universo. O evangelista João também começa a sua crônica do Novo Testamento com um discurso que fala de trevas e luz.
Convencionalmente se costuma dizer que o século XVI foi o século das luzes. Foi a época em cultura humanística perdida com a queda de Roma foi redescoberta. O espírito religioso, que havia sido corroído pela cupidez dos padres católicos foi ressuscitado pela Reforma Protestante. A liberdade de pensamento proporcionou grandes saltos à inteligência humana. Os séculos de trevas em que a mente ocidental esteve sepultada pelas crendices e superstições que uma Igreja corrupta impunha ao povo, foi subitamente iluminado pelas conquistas realizadas no século XVI.
Entretanto, para que a luz possa brilhar, é preciso que antes experimentemos as trevas. Assim, o período que precedeu o século das luzes, ou seja, o século XV, foi talvez o período em que a ignorância, a credulidade e a superstição atingiu o seu mais alto patamar na história da cultura humana. Contribuiu para isso, principalmente, as guerras dinásticas, a cupidez do clero da Igreja Romana e uma espiritualidade de caráter extremamente duvidosa, canalizada principalmente para finalidades egoísticas e ávidas de poder.
O século XV foi a época em que as dinastias reais começaram a se afirmar e as monarquias locais davam os primeiros passos para criar os estados nacionais. No Ocidente, França e Inglaterra lutaram uma guerra de mais de Cem Anos pelo controle daquela parte da Europa. Na Europa central, as lutas eram para definir quem herdaria os restos do esfacelado Sacro Império Romano Germânico, que as guerras papais, especialmente, haviam contribuído para destruir. Uma multidão de príncipes, barões e prelados religiosos disputavam esse butim, em meio à guerras e conflitos étnicos, que até hoje ainda não foram devidamente solucionados.
De outro lado, vinham os turcos otomanos, que haviam liquidado o Império Romano do Oriente em 1453 e voltavam seus olhos para a Europa Ocidental na esperança de ampliar seus domínios e levar mais longe a glória de Alá. Foi o reflexo desse ambiente de pobreza e ignorância, fermentado pelas guerras de conquista e por um clero corrupto e supersticioso, que levaram rapidamente à população ocidental à degradação intelectual e ao nascimento da cultura da superstição e da falsa ciência. Na Europa Central nascia a lenda do Príncipe Vlad Dracul, que serviria para desenvolver depois o mito do Conde Drácula. Na Europa Ocidental, desenvolveu-se uma cultura mística que fazia dos magos, feiticeiras, bruxos e alquimistas, a verdadeira oposição para uma Igreja corrupta e vazia de espiritualidade, que caminhava a passos largos para uma derradeira e definitiva cisão.
O Martelo das feiticeiras
O Século XV foi a época em que o delírio alquímico atingiu o seu auge. Um batalhão de charlatões vendia seus falsos conhecimentos aos barões, príncipes e prelados da Igreja, prometendo a realização de um sonho quimérico, que era a obtenção da pedra filosofal e o elixir da longa vida. Esses eram dois produtos, que segundo o sonho alquímico, surgiam como corolários dessa estranha ciência que produziu alguns homens de gênio e uma imensa legião de falsários. A ideia que animava esse sonho louco era viver muito e se possível rico. Essa era a principal meta de quem podia contratar um mago, ou um feiticeiro, ou um verdadeiro cientista para trabalhar para ele na procura da tão sonhada pedra filosofal. Por isso, reis, príncipes, barões e potentados da igreja, todos tinham o seu alquimista, ou o seu mago. Uns desenvolvendo a sua estranha prática em laboratórios equipados com fornos, foles, pipetas, astrolábios e balanças, outros em templos ornamentados com sinistras decorações.
Cada corte européia tinha o seu mago. Nada se fazia sem consultá-lo. Por isso, o século XV e as primeiras décadas do século XVI foi a época de ouro dos alquimistas, das bruxas, dos feiticeiros, dos videntes e de toda superstição que ainda hoje impressiona a mente humana.
Todos os homens de espírito se envolviam, de uma forma ou de outra, em loucas aventuras místicas. Uns pelo sincero amor ao conhecimento, outros pelo desejo cúpido da fama, do dinheiro, ou do poder puro e simples. O Século XV e as primeiras décadas do XVI foi a época de grandes cientistas como Paracelso (1493-1441) e Rabellais (1494-1553), mas também viu nascer Heinrich Kraemer e James Sprenger, dois padres dominicanos, autores do bizarro tratado denominado Maleus Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras), obra sinistra que tinha por objetivo ensinar aos piedosos padres e príncipes da época como identificar e exterminar o grande mal do século, que eram os bruxos, os magos e as feiticeiras. Aliás, para esses dois grandes defensores da fé, o mundo estava povoado desses agentes de Satanás, e entre eles, a grande maioria eram mulheres. Não foram poucas as mulheres que pagaram por suas superstições nas fogueiras e nos tachos da Inquisição, cujas águas eram fervidas para que os reis e padres provassem os caldos e pelo gosto pudessem identificar se as pobres coitadas eram ou não feiticeiras.
Joana D'arc
O século XV também viu nascer Joana D’arc e Gilles de Rais, dois nomes cujas experiências psíquicas e aventura espiritual, vividas por ambos praticamente na mesma época e com igual intensidade, jamais serão devidamente explicadas de forma racional. E por um estranho destino, os dois nomes estão ligados de maneira tão estreita e paradoxal, que é impossível desvincular uma da outra e deixar de concluir que ambas tiveram praticamente a mesma inspiração, ou seja, o ambiente místico e supersticioso da época em que ambos viveram.
À luz de uma análise fática e racional, hoje dificilmente se escaparia de concluir que Joana D’arc era uma menina esquizofrênica que sofreu um grande trauma em sua infância, provavelmente em consequência de algum episódio vivido na Guerra dos Cem Anos. Afinal, sua aldeia, a pequena Donremy, estava na rota dos combates travados entre franceses e ingleses pela posse da principal cidade da região, a fortificada Orleans. Não é impossível que muitas barbaridades tenham sido praticadas ali pelos soldados ingleses, que no calor das batalhas praticavam todo tipo de brutalidades com as populações das aldeias invadidas. Isso é praxe em todas as guerras, e nos conflitos medievais essa prática chegou ao auge. Não é difícil imaginar que alguma pessoa da família de Joana, ou até ela própria, tivesse sido vítima de terríveis agressões. Daí o ódio que ela votava aos invasores ingleses e o caráter francamente icônico que se deu á sua qualidade de virgem, marca da simbologia religiosa que foi chumbada à sua figura.
Joana, de certo, acreditava na sua missão messiânica, mas as autoridades francesas, que a usaram para seus propósitos, certamente só viram nela um grande trunfo político. E souberam usá-lo muito bem. Isso está patente no comportamento deles, pois enquanto Joana foi julgada e condenada como bruxa e feiticeira e queimada em uma fogueira (embora tenha sido depois reconhecida como santa) o cavaleiro Giles de Rais, que foi um dos seus mais competentes generais, e um amigo dos mais leais, embora acusado de práticas satânicas e outras barbaridades rituais, que foram muito além da romântica esquizofrenia da donzela de Orleans, acabou escapando da fogueira e foi até perdoado pela igreja.
Giles de Rais
Gilles De Rais foi o maior serial killer que se tem notícia na História. Conhecido como o Senhor das Trevas, ele nasceu em 1404 em Machecoul, uma aldeia próxima à fronteira com a Bretanha. Seus pais se chamavam Guy de Montmorency-Laval e Marie de Craon. Feito cavaleiro aos quatorze anos de idade, aos quinze ele já havia feito sua primeira vítima na pessoa de um amigo de infância, a quem convidara para um duelo simulado, onde ele pretendia demonstrar as habilidades que havia adquirido em seus treinamentos de cavaleiro. Era para ser um duelo de brincadeira, mas Gilles o levou a sério, matando o colega com uma estocada certeira de sua espada.
Desde criança ele já mostrara a sua perversidade matando e esquartejando animais. Dizem que ele fazia isso com uma fúria e uma frieza quase ritualística, e já nessa época demonstrava possuir um espírito místico e uma personalidade sinistra e demoníaca, que assustava seus parentes e amigos. Agressivo por natureza e perverso por instinto, logo foi atraído pela carreira militar. Entrou para o exército do pretendente ao trono francês, o Delfim Charles, que mais tarde se tornou Carlos VII, rei da França, coroado graças às vitórias obtidas por Joana D’arc contra os ingleses. Sua posição como general das tropas francesas o levou a conhecer a jovem Joana, com quem estabeleceu uma sólida e fiel amizade, que durou até a prisão e morte dela na fogueira.
Gilles e Joana tinham personalidades muito parecidas. Ambos eram místicos e fanáticos. Ambos acreditavam que uma orientação de ordem superior norteava suas ações. Por isso lutavam com garra, atacando os inimigos sem medo e sem piedade, fazendo das batalhas em que participavam, mais do que uma ação militar, uma missão verdadeiramente religiosa. Joana D’arc acreditava que Deus havia escolhido a ela para libertar a França do domínio inglês. Gilles de Rais acreditava que poderia conquistar um poder ilimitado e transcendental através de práticas ritualísticas que envolviam, principalmente, o derramamento de sangue humano.
Enquanto houve guerra e pode derramar o sangue dos seus inimigos no campo de batalha, ele aplicou nas ações militares toda a sua habilidade. Com isso tornou-se um herói para os franceses que o tinham como um grande soldado. Ganhou prestígio, fama e riqueza com as vitórias que ajudou Joana D’arc a conquistar. Enquanto ela era capturada e julgada pelos ingleses (com a conivência do rei francês a quem ela coroara), ele se tornou um dos maiores barões de França.
Após a morte da sua grande inspiradora e a derrota dos ingleses, Gilles se viu sem o seu principal esporte, que era a guerra. Casou-se, mas logo viu que esse tipo de vida não fazia o seu gênero. Informações sobre o seu caráter homossexual logo começaram a ser veiculadas. E também logo começaram a ser comentadas as estranhas práticas às quais ele se entregava, no segredo dos seus soturnos e misteriosos castelos de Tiffauges e Machecoul.
Adoradores do demônio
Na região da Bretanha, onde ficavam seus domínios, um grande e terrível mistério começou a preocupar os habitantes daquela localidade. Num período de oito anos, cerca de mil garotos, com idades variadas entre 7 e 11 anos desapareceram sem deixar rastros. A notícia de que demônios surgiam a noite e levavam os meninos logo espalhou-se pela região. Uma versão dizia que era a própria Igreja que raptava os garotos e os trancafiava em conventos para transformá-los em padres, já que na época, a Igreja passava por um momento de crise e ninguém queria ser padre.
Todavia, em seus castelos, Gilles havia fundado uma estranha sociedade secreta que praticava todo tipo de magia e superstição que se cultuava na época. Neles havia laboratórios de alquimia, onde se trabalhava em busca da pedra filosofal, usando sangue humano como matéria prima; havia salões e locais equipados para bruxos e feiticeiras praticarem seus rituais e salões especialmente preparados para ele e os sádicos membros da sua satânica fraternidade praticar seus próprios rituais.
Suas reuniões eram verdadeiros banquetes orgíacos nos quais se praticavam os mais aberrantes comportamentos sexuais. Mas os momentos culminantes eram aqueles em que os meninos raptados pelos membros da estranha Confraria eram torturados, estuprados e assassinados no cumprimento de um estranho e satânico ritual, que segundo os investigadores que conduziram o seu processo, tinha por objetivo obter a vida eterna.
A Santa Inquisição
No começo da década de 1440, uma investigação feita por ordem da Igreja acabou descobrindo as atividades de Gilles de Rais e da sua estranha seita. E logo ficou patente que o desaparecimento dos meninos da Bretanha tinha a ver com os macabros rituais que eram praticados em seus castelos. E assim teve início um dos mais emblemáticos processos que envolvem a luta do homem contra os desvios que tomam conta de sua mente, nas épocas em que a escuridão, a ignorância e intolerância religiosa se tornam dominantes.
O principal acusado, o cavaleiro Giles de Rais, é um homem que se diz temente a Deus. Ele ostenta títulos pomposos, tais como Primeiro Barão da Bretanha e Marechal de França. Além disso, é um grande proprietário feudal e foi companheiro de armas de Joana d’Arc, a maior heroína da França, com quem compartilhava da sua fé e das suas vozes.
Gilles de Rais foi acusado pela Igreja de crimes contra a fé. O libelo de acusação, redigido pelo Bispo de Nantes, fala em pactos demoníacos, prática de sodomia com caráter sacrílego, violação de privilégios eclesiásticos, assassinatos rituais, no curso dos quais se contabilizavam mais de 600 vítimas, todas elas crianças entre 7 e 11 anos. Algo semelhante ao que foi imputado aos Cavaleiros Templários há pouco mais de cem anos antes;.
Gilles de Rais tinha na época 34 anos. Nas atas do processo que o condenou, o que mais impressiona são suas próprias confissões dos crimes que cometeu e os motivos pelos quais os cometia. Não os negou, nem às circunstâncias em que foram cometidos. “Eram lindas crianças,” diz ele. “Eu as estrangulava. Quando elas desfaleciam, praticava nelas o vício da sodomia. Quando estavam mortas, beijava nos lábios alguns dos rostos mais bonitos”. Inquirido dos motivos pelos quais fazia coisas tão horrendas, respondeu calmamente: “Não procurava senão o mais puro e completo deleite carnal. O único sentimento capaz de levar um espírito ao que chamais de paraíso.”
“Por que razão”, prossegue ele em seu depoimento, “nesta hora em que já estou desligado de tudo quanto é terrestre, vos ocultaria que ao praticar sodomia, ao matar e reduzir a pó tantas belas crianças, não fiz mais do que procurar a alegria que me davam os seus corpos quentes primeiro, depois gelados entre meus braços? Por que razão vos ocultaria eu que essa alegria se prolongava ainda quando, com as minhas próprias mãos, esquartejava, como a animais no matadouro, aqueles que acabava de amar? Como negar que sentir o odor de sua carne dilacerada me lançava numa forma de desmaio, de prazer indizível, que se assemelhava ao ingresso no paraíso?”
Giles de Rais foi condenado e excomungado pelo Tribunal da Santa Inquisição, mas sendo um barão da corte francesa, escapou da fogueira, sentença normal que era praxe para todo indivíduo condenado por heresia, bruxaria, satanismo e práticas afins. A única coisa que parecia incomodá-lo era a excomunhão. Não obstante o caráter perverso que tinha, e a monstruosidade de seus crimes, a idéia de que os fazia com espírito religioso o levava a justificar tudo.
Não temia a morte, mas tinha receio de perder o beneplácito das potências luciferinas que cultivou, por que, segundo confessou aos seus inquisidores, essa era também uma forma de cumprir os desígnios de Deus e honrar a sua amada Santa Madre Igreja. Assim como sua santa e dileta amiga Joana D’arc, ele também ouvia suas vozes. As vozes de Joana a mandava matar ingleses para libertar a França. As de Gilles o incitava a sacrificar e sodomizar crianças para libertar suas almas. Dessa forma tudo se justificava.
Diferente de Joana, cuja condenação foi orquestrada por motivos puramente políticos, já que ela foi julgada justamente pelos inimigos a quem combateu, os ingleses, o sádico satanista e serial killer Giles de Rais foi perdoado pela Igreja após pedir perdão e confessar todos os seus crimes. O bispo de Nantes, presidente do Tribunal, fez então a clássica pergunta que o tribunal da Inquisição fazia a todos os criminosos desse tipo: “Quereis agora, abominando vossos erros, vossas evocações e outros crimes, que vos fizeram sair da fé católica, ser reincorporado na Igreja, Vossa Mãe, entregando-se de novo a ela?”
Essas mesmas perguntas foram feitas a Jacques de Molay e seus companheiros templários cerca de um século e meio antes; foi feita também a Joana D’arc. A que se saiba, nem os templários nem Joana responderam afirmativamente, mas Gilles de Rais sim.
E assim, de joelhos, contrito, frente ao bispo de Nantes, o maior serial killler da História mal consegue acreditar no que ouve. Está sendo absolvido. Seu espírito não irá sofrer as penas do inferno. Ele chora e suspira. E ante tais demonstrações de arrependimento, o tribunal eclesiástico decide readmiti-lo nas hostes católicas, retirando a acusação de heresia. Com toda a contrição e fervor com que praticara seus crimes Gilles de Rais pede humildemente a anulação de sua excomunhão. Jean de Malestroit, o bispo de Nantes, presidente do tribunal, o absolve e o reintegra na congregação dos fiéis católicos, admitindo a sua participação nos sacramentos. Dessa forma o trabalho do tribunal eclesiástico está encerrado e o espírito do Senhor das Trevas, como era chamado o perverso barão da Bretanha, estava em paz. “Vai em paz, monsenhor de Rais”, diz o bispo. “Daqui pela frente, a Igreja nada mais pode fazer por vós nem contra vós. A decisão agora cabe ao braço secular”.
O demônio vira santo
Mas isso, para Gilles, é o de menos. Morrer ele já sabe que irá. Deus, através da Igreja, perdoa, mas a sociedade não. A sociedade exige o seu sangue por conta do sangue inocente das centenas de crianças que ele matou no curso das suas práticas satânicas. Deus pode fazer acordo com o Diabo para salvar almas, mas a sociedade não.
Do tribunal civil ele sabe que não escapará. Mas para ele isso pouco importa. Já conquistou o seu objetivo, que era tomar o céu de assalto. Daí que venha a tortura e a forca. O seu espírito ganhara a prerrogativa de viver eternamente.
Ele foi enforcado no final do ano de 1440. Não foram poucos os que defenderam as práticas de Gilles de Rais. Houve quem dissesse que as crianças que ele assassinou se tornaram anjos graças ao caráter sacrificial de suas mortes. Também não faltou quem cultuasse sua memória fazendo dele um verdadeiro santo. Em 1793 sua tumba foi profanada e seus ossos foram roubados. Diz-se que nunca mais foram encontrados e se tornaram relíquia de uma determinada seita secreta.
No lugar do seu túmulo admiradores do terrível mago das trevas ergueram um santuário, onde durante muito tempo mulheres grávidas costumavam peregrinar para orar pedindo uma gravidez tranqüila e leite abundante. Esse santuário foi demolido por ordem da Igreja no início do século XIX, mas consta que até os primeiros anos do século XX, no lugar onde ele se erguia ainda se cultuava a Virgem do Bom Parto e a Nossa Senhora do Cria-Leite. E segundo alguns cultores do misticismo, Giles de Rais, ainda hoje, é cultuado por algumas seitas secretas que conservam suas práticas rituais, seqüestrando crianças para estuprá-las e sacrificá-las em suas satânicas reuniões. .
Isso nos mostra que a loucura humana não tem limites. Só nos resta mesmo contar com a existência de Deus e com o seu justo julgamento para que o equilibrio da nossa razão, muitas vezes perdido em virtude da nossa própria ignorância e perfídia, seja mantido para herança e salvaguarda dos nossos descendentes.
A luz e a escuridão
Dizem que o Diabo é a face inversa de Deus. E que a luz só pode ser gerada a partir da escuridão. Por isso a Bíblia ensina que Deus tirou luz das trevas para fazer o universo. O evangelista João também começa a sua crônica do Novo Testamento com um discurso que fala de trevas e luz.
Convencionalmente se costuma dizer que o século XVI foi o século das luzes. Foi a época em cultura humanística perdida com a queda de Roma foi redescoberta. O espírito religioso, que havia sido corroído pela cupidez dos padres católicos foi ressuscitado pela Reforma Protestante. A liberdade de pensamento proporcionou grandes saltos à inteligência humana. Os séculos de trevas em que a mente ocidental esteve sepultada pelas crendices e superstições que uma Igreja corrupta impunha ao povo, foi subitamente iluminado pelas conquistas realizadas no século XVI.
Entretanto, para que a luz possa brilhar, é preciso que antes experimentemos as trevas. Assim, o período que precedeu o século das luzes, ou seja, o século XV, foi talvez o período em que a ignorância, a credulidade e a superstição atingiu o seu mais alto patamar na história da cultura humana. Contribuiu para isso, principalmente, as guerras dinásticas, a cupidez do clero da Igreja Romana e uma espiritualidade de caráter extremamente duvidosa, canalizada principalmente para finalidades egoísticas e ávidas de poder.
O século XV foi a época em que as dinastias reais começaram a se afirmar e as monarquias locais davam os primeiros passos para criar os estados nacionais. No Ocidente, França e Inglaterra lutaram uma guerra de mais de Cem Anos pelo controle daquela parte da Europa. Na Europa central, as lutas eram para definir quem herdaria os restos do esfacelado Sacro Império Romano Germânico, que as guerras papais, especialmente, haviam contribuído para destruir. Uma multidão de príncipes, barões e prelados religiosos disputavam esse butim, em meio à guerras e conflitos étnicos, que até hoje ainda não foram devidamente solucionados.
De outro lado, vinham os turcos otomanos, que haviam liquidado o Império Romano do Oriente em 1453 e voltavam seus olhos para a Europa Ocidental na esperança de ampliar seus domínios e levar mais longe a glória de Alá. Foi o reflexo desse ambiente de pobreza e ignorância, fermentado pelas guerras de conquista e por um clero corrupto e supersticioso, que levaram rapidamente à população ocidental à degradação intelectual e ao nascimento da cultura da superstição e da falsa ciência. Na Europa Central nascia a lenda do Príncipe Vlad Dracul, que serviria para desenvolver depois o mito do Conde Drácula. Na Europa Ocidental, desenvolveu-se uma cultura mística que fazia dos magos, feiticeiras, bruxos e alquimistas, a verdadeira oposição para uma Igreja corrupta e vazia de espiritualidade, que caminhava a passos largos para uma derradeira e definitiva cisão.
O Martelo das feiticeiras
O Século XV foi a época em que o delírio alquímico atingiu o seu auge. Um batalhão de charlatões vendia seus falsos conhecimentos aos barões, príncipes e prelados da Igreja, prometendo a realização de um sonho quimérico, que era a obtenção da pedra filosofal e o elixir da longa vida. Esses eram dois produtos, que segundo o sonho alquímico, surgiam como corolários dessa estranha ciência que produziu alguns homens de gênio e uma imensa legião de falsários. A ideia que animava esse sonho louco era viver muito e se possível rico. Essa era a principal meta de quem podia contratar um mago, ou um feiticeiro, ou um verdadeiro cientista para trabalhar para ele na procura da tão sonhada pedra filosofal. Por isso, reis, príncipes, barões e potentados da igreja, todos tinham o seu alquimista, ou o seu mago. Uns desenvolvendo a sua estranha prática em laboratórios equipados com fornos, foles, pipetas, astrolábios e balanças, outros em templos ornamentados com sinistras decorações.
Cada corte européia tinha o seu mago. Nada se fazia sem consultá-lo. Por isso, o século XV e as primeiras décadas do século XVI foi a época de ouro dos alquimistas, das bruxas, dos feiticeiros, dos videntes e de toda superstição que ainda hoje impressiona a mente humana.
Todos os homens de espírito se envolviam, de uma forma ou de outra, em loucas aventuras místicas. Uns pelo sincero amor ao conhecimento, outros pelo desejo cúpido da fama, do dinheiro, ou do poder puro e simples. O Século XV e as primeiras décadas do XVI foi a época de grandes cientistas como Paracelso (1493-1441) e Rabellais (1494-1553), mas também viu nascer Heinrich Kraemer e James Sprenger, dois padres dominicanos, autores do bizarro tratado denominado Maleus Maleficarum (O Martelo das Feiticeiras), obra sinistra que tinha por objetivo ensinar aos piedosos padres e príncipes da época como identificar e exterminar o grande mal do século, que eram os bruxos, os magos e as feiticeiras. Aliás, para esses dois grandes defensores da fé, o mundo estava povoado desses agentes de Satanás, e entre eles, a grande maioria eram mulheres. Não foram poucas as mulheres que pagaram por suas superstições nas fogueiras e nos tachos da Inquisição, cujas águas eram fervidas para que os reis e padres provassem os caldos e pelo gosto pudessem identificar se as pobres coitadas eram ou não feiticeiras.
Joana D'arc
O século XV também viu nascer Joana D’arc e Gilles de Rais, dois nomes cujas experiências psíquicas e aventura espiritual, vividas por ambos praticamente na mesma época e com igual intensidade, jamais serão devidamente explicadas de forma racional. E por um estranho destino, os dois nomes estão ligados de maneira tão estreita e paradoxal, que é impossível desvincular uma da outra e deixar de concluir que ambas tiveram praticamente a mesma inspiração, ou seja, o ambiente místico e supersticioso da época em que ambos viveram.
À luz de uma análise fática e racional, hoje dificilmente se escaparia de concluir que Joana D’arc era uma menina esquizofrênica que sofreu um grande trauma em sua infância, provavelmente em consequência de algum episódio vivido na Guerra dos Cem Anos. Afinal, sua aldeia, a pequena Donremy, estava na rota dos combates travados entre franceses e ingleses pela posse da principal cidade da região, a fortificada Orleans. Não é impossível que muitas barbaridades tenham sido praticadas ali pelos soldados ingleses, que no calor das batalhas praticavam todo tipo de brutalidades com as populações das aldeias invadidas. Isso é praxe em todas as guerras, e nos conflitos medievais essa prática chegou ao auge. Não é difícil imaginar que alguma pessoa da família de Joana, ou até ela própria, tivesse sido vítima de terríveis agressões. Daí o ódio que ela votava aos invasores ingleses e o caráter francamente icônico que se deu á sua qualidade de virgem, marca da simbologia religiosa que foi chumbada à sua figura.
Joana, de certo, acreditava na sua missão messiânica, mas as autoridades francesas, que a usaram para seus propósitos, certamente só viram nela um grande trunfo político. E souberam usá-lo muito bem. Isso está patente no comportamento deles, pois enquanto Joana foi julgada e condenada como bruxa e feiticeira e queimada em uma fogueira (embora tenha sido depois reconhecida como santa) o cavaleiro Giles de Rais, que foi um dos seus mais competentes generais, e um amigo dos mais leais, embora acusado de práticas satânicas e outras barbaridades rituais, que foram muito além da romântica esquizofrenia da donzela de Orleans, acabou escapando da fogueira e foi até perdoado pela igreja.
Giles de Rais
Gilles De Rais foi o maior serial killer que se tem notícia na História. Conhecido como o Senhor das Trevas, ele nasceu em 1404 em Machecoul, uma aldeia próxima à fronteira com a Bretanha. Seus pais se chamavam Guy de Montmorency-Laval e Marie de Craon. Feito cavaleiro aos quatorze anos de idade, aos quinze ele já havia feito sua primeira vítima na pessoa de um amigo de infância, a quem convidara para um duelo simulado, onde ele pretendia demonstrar as habilidades que havia adquirido em seus treinamentos de cavaleiro. Era para ser um duelo de brincadeira, mas Gilles o levou a sério, matando o colega com uma estocada certeira de sua espada.
Desde criança ele já mostrara a sua perversidade matando e esquartejando animais. Dizem que ele fazia isso com uma fúria e uma frieza quase ritualística, e já nessa época demonstrava possuir um espírito místico e uma personalidade sinistra e demoníaca, que assustava seus parentes e amigos. Agressivo por natureza e perverso por instinto, logo foi atraído pela carreira militar. Entrou para o exército do pretendente ao trono francês, o Delfim Charles, que mais tarde se tornou Carlos VII, rei da França, coroado graças às vitórias obtidas por Joana D’arc contra os ingleses. Sua posição como general das tropas francesas o levou a conhecer a jovem Joana, com quem estabeleceu uma sólida e fiel amizade, que durou até a prisão e morte dela na fogueira.
Gilles e Joana tinham personalidades muito parecidas. Ambos eram místicos e fanáticos. Ambos acreditavam que uma orientação de ordem superior norteava suas ações. Por isso lutavam com garra, atacando os inimigos sem medo e sem piedade, fazendo das batalhas em que participavam, mais do que uma ação militar, uma missão verdadeiramente religiosa. Joana D’arc acreditava que Deus havia escolhido a ela para libertar a França do domínio inglês. Gilles de Rais acreditava que poderia conquistar um poder ilimitado e transcendental através de práticas ritualísticas que envolviam, principalmente, o derramamento de sangue humano.
Enquanto houve guerra e pode derramar o sangue dos seus inimigos no campo de batalha, ele aplicou nas ações militares toda a sua habilidade. Com isso tornou-se um herói para os franceses que o tinham como um grande soldado. Ganhou prestígio, fama e riqueza com as vitórias que ajudou Joana D’arc a conquistar. Enquanto ela era capturada e julgada pelos ingleses (com a conivência do rei francês a quem ela coroara), ele se tornou um dos maiores barões de França.
Após a morte da sua grande inspiradora e a derrota dos ingleses, Gilles se viu sem o seu principal esporte, que era a guerra. Casou-se, mas logo viu que esse tipo de vida não fazia o seu gênero. Informações sobre o seu caráter homossexual logo começaram a ser veiculadas. E também logo começaram a ser comentadas as estranhas práticas às quais ele se entregava, no segredo dos seus soturnos e misteriosos castelos de Tiffauges e Machecoul.
Adoradores do demônio
Na região da Bretanha, onde ficavam seus domínios, um grande e terrível mistério começou a preocupar os habitantes daquela localidade. Num período de oito anos, cerca de mil garotos, com idades variadas entre 7 e 11 anos desapareceram sem deixar rastros. A notícia de que demônios surgiam a noite e levavam os meninos logo espalhou-se pela região. Uma versão dizia que era a própria Igreja que raptava os garotos e os trancafiava em conventos para transformá-los em padres, já que na época, a Igreja passava por um momento de crise e ninguém queria ser padre.
Todavia, em seus castelos, Gilles havia fundado uma estranha sociedade secreta que praticava todo tipo de magia e superstição que se cultuava na época. Neles havia laboratórios de alquimia, onde se trabalhava em busca da pedra filosofal, usando sangue humano como matéria prima; havia salões e locais equipados para bruxos e feiticeiras praticarem seus rituais e salões especialmente preparados para ele e os sádicos membros da sua satânica fraternidade praticar seus próprios rituais.
Suas reuniões eram verdadeiros banquetes orgíacos nos quais se praticavam os mais aberrantes comportamentos sexuais. Mas os momentos culminantes eram aqueles em que os meninos raptados pelos membros da estranha Confraria eram torturados, estuprados e assassinados no cumprimento de um estranho e satânico ritual, que segundo os investigadores que conduziram o seu processo, tinha por objetivo obter a vida eterna.
A Santa Inquisição
No começo da década de 1440, uma investigação feita por ordem da Igreja acabou descobrindo as atividades de Gilles de Rais e da sua estranha seita. E logo ficou patente que o desaparecimento dos meninos da Bretanha tinha a ver com os macabros rituais que eram praticados em seus castelos. E assim teve início um dos mais emblemáticos processos que envolvem a luta do homem contra os desvios que tomam conta de sua mente, nas épocas em que a escuridão, a ignorância e intolerância religiosa se tornam dominantes.
O principal acusado, o cavaleiro Giles de Rais, é um homem que se diz temente a Deus. Ele ostenta títulos pomposos, tais como Primeiro Barão da Bretanha e Marechal de França. Além disso, é um grande proprietário feudal e foi companheiro de armas de Joana d’Arc, a maior heroína da França, com quem compartilhava da sua fé e das suas vozes.
Gilles de Rais foi acusado pela Igreja de crimes contra a fé. O libelo de acusação, redigido pelo Bispo de Nantes, fala em pactos demoníacos, prática de sodomia com caráter sacrílego, violação de privilégios eclesiásticos, assassinatos rituais, no curso dos quais se contabilizavam mais de 600 vítimas, todas elas crianças entre 7 e 11 anos. Algo semelhante ao que foi imputado aos Cavaleiros Templários há pouco mais de cem anos antes;.
Gilles de Rais tinha na época 34 anos. Nas atas do processo que o condenou, o que mais impressiona são suas próprias confissões dos crimes que cometeu e os motivos pelos quais os cometia. Não os negou, nem às circunstâncias em que foram cometidos. “Eram lindas crianças,” diz ele. “Eu as estrangulava. Quando elas desfaleciam, praticava nelas o vício da sodomia. Quando estavam mortas, beijava nos lábios alguns dos rostos mais bonitos”. Inquirido dos motivos pelos quais fazia coisas tão horrendas, respondeu calmamente: “Não procurava senão o mais puro e completo deleite carnal. O único sentimento capaz de levar um espírito ao que chamais de paraíso.”
“Por que razão”, prossegue ele em seu depoimento, “nesta hora em que já estou desligado de tudo quanto é terrestre, vos ocultaria que ao praticar sodomia, ao matar e reduzir a pó tantas belas crianças, não fiz mais do que procurar a alegria que me davam os seus corpos quentes primeiro, depois gelados entre meus braços? Por que razão vos ocultaria eu que essa alegria se prolongava ainda quando, com as minhas próprias mãos, esquartejava, como a animais no matadouro, aqueles que acabava de amar? Como negar que sentir o odor de sua carne dilacerada me lançava numa forma de desmaio, de prazer indizível, que se assemelhava ao ingresso no paraíso?”
Giles de Rais foi condenado e excomungado pelo Tribunal da Santa Inquisição, mas sendo um barão da corte francesa, escapou da fogueira, sentença normal que era praxe para todo indivíduo condenado por heresia, bruxaria, satanismo e práticas afins. A única coisa que parecia incomodá-lo era a excomunhão. Não obstante o caráter perverso que tinha, e a monstruosidade de seus crimes, a idéia de que os fazia com espírito religioso o levava a justificar tudo.
Não temia a morte, mas tinha receio de perder o beneplácito das potências luciferinas que cultivou, por que, segundo confessou aos seus inquisidores, essa era também uma forma de cumprir os desígnios de Deus e honrar a sua amada Santa Madre Igreja. Assim como sua santa e dileta amiga Joana D’arc, ele também ouvia suas vozes. As vozes de Joana a mandava matar ingleses para libertar a França. As de Gilles o incitava a sacrificar e sodomizar crianças para libertar suas almas. Dessa forma tudo se justificava.
Diferente de Joana, cuja condenação foi orquestrada por motivos puramente políticos, já que ela foi julgada justamente pelos inimigos a quem combateu, os ingleses, o sádico satanista e serial killer Giles de Rais foi perdoado pela Igreja após pedir perdão e confessar todos os seus crimes. O bispo de Nantes, presidente do Tribunal, fez então a clássica pergunta que o tribunal da Inquisição fazia a todos os criminosos desse tipo: “Quereis agora, abominando vossos erros, vossas evocações e outros crimes, que vos fizeram sair da fé católica, ser reincorporado na Igreja, Vossa Mãe, entregando-se de novo a ela?”
Essas mesmas perguntas foram feitas a Jacques de Molay e seus companheiros templários cerca de um século e meio antes; foi feita também a Joana D’arc. A que se saiba, nem os templários nem Joana responderam afirmativamente, mas Gilles de Rais sim.
E assim, de joelhos, contrito, frente ao bispo de Nantes, o maior serial killler da História mal consegue acreditar no que ouve. Está sendo absolvido. Seu espírito não irá sofrer as penas do inferno. Ele chora e suspira. E ante tais demonstrações de arrependimento, o tribunal eclesiástico decide readmiti-lo nas hostes católicas, retirando a acusação de heresia. Com toda a contrição e fervor com que praticara seus crimes Gilles de Rais pede humildemente a anulação de sua excomunhão. Jean de Malestroit, o bispo de Nantes, presidente do tribunal, o absolve e o reintegra na congregação dos fiéis católicos, admitindo a sua participação nos sacramentos. Dessa forma o trabalho do tribunal eclesiástico está encerrado e o espírito do Senhor das Trevas, como era chamado o perverso barão da Bretanha, estava em paz. “Vai em paz, monsenhor de Rais”, diz o bispo. “Daqui pela frente, a Igreja nada mais pode fazer por vós nem contra vós. A decisão agora cabe ao braço secular”.
O demônio vira santo
Mas isso, para Gilles, é o de menos. Morrer ele já sabe que irá. Deus, através da Igreja, perdoa, mas a sociedade não. A sociedade exige o seu sangue por conta do sangue inocente das centenas de crianças que ele matou no curso das suas práticas satânicas. Deus pode fazer acordo com o Diabo para salvar almas, mas a sociedade não.
Do tribunal civil ele sabe que não escapará. Mas para ele isso pouco importa. Já conquistou o seu objetivo, que era tomar o céu de assalto. Daí que venha a tortura e a forca. O seu espírito ganhara a prerrogativa de viver eternamente.
Ele foi enforcado no final do ano de 1440. Não foram poucos os que defenderam as práticas de Gilles de Rais. Houve quem dissesse que as crianças que ele assassinou se tornaram anjos graças ao caráter sacrificial de suas mortes. Também não faltou quem cultuasse sua memória fazendo dele um verdadeiro santo. Em 1793 sua tumba foi profanada e seus ossos foram roubados. Diz-se que nunca mais foram encontrados e se tornaram relíquia de uma determinada seita secreta.
No lugar do seu túmulo admiradores do terrível mago das trevas ergueram um santuário, onde durante muito tempo mulheres grávidas costumavam peregrinar para orar pedindo uma gravidez tranqüila e leite abundante. Esse santuário foi demolido por ordem da Igreja no início do século XIX, mas consta que até os primeiros anos do século XX, no lugar onde ele se erguia ainda se cultuava a Virgem do Bom Parto e a Nossa Senhora do Cria-Leite. E segundo alguns cultores do misticismo, Giles de Rais, ainda hoje, é cultuado por algumas seitas secretas que conservam suas práticas rituais, seqüestrando crianças para estuprá-las e sacrificá-las em suas satânicas reuniões. .
Isso nos mostra que a loucura humana não tem limites. Só nos resta mesmo contar com a existência de Deus e com o seu justo julgamento para que o equilibrio da nossa razão, muitas vezes perdido em virtude da nossa própria ignorância e perfídia, seja mantido para herança e salvaguarda dos nossos descendentes.