SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS
No sexto dia da semana. Ele tinha sessenta anos. Às seis da tarde. Abriu a porta: visita inesperada. O homem alto, vestido de preto, o cumprimentou de uma forma pálida. Mirou-lhe pelos olhos largos e incandescentes.
- Quem é o senhor? - indagou com receio.
- Não se lembra de mim?
- Não, amigo. Quem é o senhor mesmo? - Agitou o rosto (entre raivoso e pasmo).
- Eu sou quem você chama sempre.
- Eu? Chamo?
- Sim. Principalmente quando odeia alguém.
A declaração paralisou o dono da casa. Viu-se, de repente, afundando num abismo escuro cuja temperatura ascendia em larga escala, mas sem queimar-lhe a estrutura física que navega ao ritmo de leis naturais desconhecidas.
Seiscentos e sessenta e seis séculos se passaram, mas ele ainda não chegou ao fim da queda.