SEISCENTOS E SESSENTA E SEIS

No sexto dia da semana. Ele tinha sessenta anos. Às seis da tarde. Abriu a porta: visita inesperada. O homem alto, vestido de preto, o cumprimentou de uma forma pálida. Mirou-lhe pelos olhos largos e incandescentes.

- Quem é o senhor? - indagou com receio.

- Não se lembra de mim?

- Não, amigo. Quem é o senhor mesmo? - Agitou o rosto (entre raivoso e pasmo).

- Eu sou quem você chama sempre.

- Eu? Chamo?

- Sim. Principalmente quando odeia alguém.

A declaração paralisou o dono da casa. Viu-se, de repente, afundando num abismo escuro cuja temperatura ascendia em larga escala, mas sem queimar-lhe a estrutura física que navega ao ritmo de leis naturais desconhecidas.

Seiscentos e sessenta e seis séculos se passaram, mas ele ainda não chegou ao fim da queda.

John Grafia
Enviado por John Grafia em 25/06/2018
Reeditado em 26/06/2018
Código do texto: T6373978
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