Os irmãos de Set - A irmandade esquecida
Os dois carros trafegavam com toda velocidade pela escorregadia pista do interior do Rio Grande do Sul. Era uma noite chuvosa. O dia não tinha sido nada fácil para o fazendeiro. Confundido como pertencente a um grupo de extermínio de sua cidade, teve a casa invadida por mulheres e homens vestidos de branco. Assassinaram sua esposa e filhos. Conseguiu fugir, porém foi perseguido. A perseguição durou horas.
O fazendeiro pega um atalho desconhecido. Logo depois da curva, a chuva e o vento se tornam mais fortes. Entram numa região rural onde os trovões, os relâmpagos e as tempestades são as mais devastadoras e aterrorizantes do país. Inicia-se a partir daí um verdadeiro roteiro onde as forças da natureza serão os protagonistas. O velho se perde em meio a tantas curvas, estradas e pistas, mas os jovens estão no seu encalço. Por alguma razão, algumas cabanas à beira da estrada também são alvo da fúria dos jovens que perseguem o velho fazendeiro. Quanto mais troveja e chove, mais o ódio dos jovens cresce e aumenta. A perseguição ao velho se torna desproporcional e, até certo ponto, irracional. Parece que o local exerce uma influência psicológica ou espiritual sobre eles, negativamente. No entanto, parece que a única pessoa do grupo imune ao ambiente negativo que os cerca é uma mulher.
- Vamos voltar, Paulo. O álcool está acabando. Se voltarmos daqui, poderemos sobreviver. A chuva está muito forte, não vejo nada. Deixe o velho para trás. A vida dele não vale a nossa.
- Cala a boca. Não sei se percebeu, mas já estamos mortos.
- O que Paulo diz é verdade, Diana! morreremos aqui ou se voltarmos. Não há o que fazer, disse Michel, apertando intensamente as mãos de Diana, sua namorada.
- A última coisa que farei é matar esse velho desgraçado e qualquer morador, desse maldito lugar, diz Paulo acelerando ainda mais o carro.
Eles metralham as cabanas que estão à margem das pistas e das estradas. Parece que conhecem a região e seus moradores. O velho não consegue mais enxergar o horizonte. A chuva torrencial e os relâmpagos o impedem. Um forte vento joga o carro do velho e dos jovens para as margens da estrada. O velho sobrevive, sai do carro e corre em meio ao matagal. Os jovens também sobrevivem. Estão sem munição. Mesmo assim, continuam a caçada. Os relâmpagos e os rais atingem a mata que, mesmo sob forte chuva, incendeia-se. Diana assusta-se e grita.
- O que foi, Diana, não me diga que tem medo de trovões e relâmpagos? pergunta Paulo ironicamente
Ela grita novamente e cai ao chão.
- Algo atingiu minha perna, não consigo andar, afirma Diana, agonizando.
Michel diz a Paulo:
- É uma lança ansata invertida, de aço
- Quem jogou essa merda? mal posso enxergar nessa chuva.
- Vozes do meio da floresta, em coro, dizem:
- Nós
- Nós, quem? pergunta Michel.
Um grupo de capuz branco e vestes vermelhas com um florido azul se apresenta:
- Estamos aqui, nas árvores, olhe para cima.
Eles descem e são reconhecidos. São os irmãos de Set. Uma seita considerada diabólica, que vive numa região inóspita do Rio Grande do Sul. Esquecida totalmente pelo poder público. A maioria das pessoas pensa que sua existência é apenas uma lenda.
- Então vocês existem realmente, seus monstros? diz Paulo em tom de chacota
- E chegou a duvidar mesmo? então por que metralhou as cabanas?
Paulo fica sem resposta. Enquanto isso um dos encapuzados, com sua lança ansata, decapita sua cabeça.
Michel pede clemência e ajuda para sua namorada.
- Por que os ajudaríamos, se nunca pisaram os pés aqui, nem nas épocas de seca para nos ajudar? E quando chegam aqui ainda metralham nosso lares?
Um dos encapuzados coloca Diana nos braços e a leva. Michel os segue. A chuva cessa. Chegam a um templo dentro da mata. Construído à base de prata. Lá dentro, próximo a uma mesa redonda, o fazendeiro está sendo interrogado.
Continua depois.