Delirium

E depois de várias gargalhadas eu pude finalmente recuperar meu fôlego. Eu havia me esquecido de como meu irmão era engraçado, pois já fazia muito tempo que não conversávamos. A madrugada foi o nosso palco para as longas conversas aleatórias que se seguiram, uma após a outra, sem cortes. Falamos sobre tudo: Cinema, mulheres, reencarnação e até de futebol. O clima só ficou um pouco pesado quando ele me perguntou se eu ainda estava tomando meus remédios. De fato, eu estava; mas minha capacidade de discernir o real do imaginário ainda era duvidosa. Tentei ignorar a pergunta com uma piada, mas fui surpreendido pelo jato de água que saltou do fundo de sua garganta de repente. Seus lábios pareciam estar roxos e sua pele enrugou-se de uma maneira assustadora. Seus olhos não refletiam mais a luz artificial de minha cela. E foi quando ele saiu chorando que eu fui capaz de recordar minhas mãos preenchendo seu pescoço fino enquanto seu corpo se debatia, clamando por socorro na piscina de nossa antiga casa. Meu irmão estava morto há muito tempo e eu fui seu algoz. Conversei com um fantasma a noite inteira...

(Guilherme Henrique)

PássaroAzul
Enviado por PássaroAzul em 07/06/2018
Reeditado em 12/06/2018
Código do texto: T6358150
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