A imagem refletida no espelho

Juliano Wells morava num apartamento confortável nos Jardins. Era escritor, não por vocação, mas por ser a única coisa que sabia fazer para ganhar dinheiro. Alto (1,90m), bonito e com o sorriso de Tom Cruise, não tinha dificuldade para encontrar namoradas. Mas não se prendia a nenhuma. Gostava de variar e, assim como os contos que escrevia, seus namoros tinham prazos curtos de validade. Não ficava com a mesma mulher por mais de um mês. “30 dias é tempo suficiente para conhecer bem uma pessoa”, era o que dizia Juliano Wells.

Marluce Amils, nome de bruxa, mas linda como uma misse universo venezuelana, era a bola (ou namorada) da vez. Juliano a conhecera num site de relacionamento, na internet. Loira, olhos azuis e corpo de atleta, a bela mulher fisgou o coração frio e impenetrável do contista. Tal como Sherazade em “As Mil e Uma Noites” Marluce sobreviveu ao prazo de validade dos romances do entediado escritor gaúcho. Marluce era jornalista e também escritora, mas de romances, e foi isto que seduziu o voraz paquerador. Juliano aparentava 30 anos, mas tinha mais idade, aliás muiiito mais. Já Marluce, tinha apenas 27 anos mesmo. Uma idade fatal para alguns músicos como: Janis Joplin, Jimi Hendrix, Kurt Cobain e, mais recentemente, Amy Winehouse que morreram com esta idade. Mas Marluce não era música e nem mesmo sabia desta trágica história com sua idade atual. Juliano Wells e Marluce Amils iam comemorar os 2 meses de namoro na casa da jornalista, mas antes iriam a um ótimo restaurante: “O Sushi Ami”. Pelo nome, é até redundante dizer que se trata de um restaurante japonês. Marluce chegou primeiro. Sentou-se numa mesa de canto do prestigiado restaurante e pediu uma Coca-Cola diet ao garçom. Após 25 minutos de uma irritante espera, Juliano Wells, afinal, chegou. Com um sorriso de galã, pediu desculpas pelo atraso e sentou-se de modo elegante ao lado da bela mulher de traços nórdicos. Ambos pediram sushi, acompanhado de saquê. ― Que belo crucifixo de prata! Você comprou ou ganhou? ― perguntou Juliano olhando hipnotizado para o pescoço de Marluce.

― Eu ganhei de minha mãe quando fiz minha primeira comunhão, aos 15 anos, mas só gosto de usá-lo em ocasiões especiais, porque tenho medo de perdê-lo num assalto.

― Faz bem, minha cara. Muito bem. ― Disse o escritor galã, após esvaziar o recipiente de saquê.

Após conversarem durante 30 minutos sobre amenidades, o casal de namorados comeu uma deliciosa sobremesa nipônica: o Shukurimu, uma versão do Profiterole. Em seguida, Juliano pagou a conta e os dois deixaram o restaurante em direção à casa de Marluce.

O BMW corria pelas ruas de São Paulo como um Fórmula 1 nas pistas de corrida. Marluce Amils estava apaixonada e não sentia nenhum receio de levar para casa um cara que conhecia há apenas 60 dias. Em menos de 20 minutos, o belo casal chegou ao bairro do Morumbi. O escritor e a jornalista entraram de mãos dadas no prédio elegante e vistoso. O elevador parou no décimo andar. Marluce abriu a porta do apartamento 1.001 e entrou com seu namorado, em seu lar. As roupas foram jogadas no chão como se fossem lixo. O que importava era o contato dos corpos. Beijos e carícias se seguiram. O sexo foi uma mera consequência.

― Marluce, você é minha alma gêmea. Quero ficar com você para sempre! ― disse o sedutor Juliano olhando no fundo dos olhos da deusa loira.

― Eu também quero ficar com você para sempre, Ju, mas como diz aquela música de um grupo de Brasília: “o pra sempre, sempre acaba.”… ― disse a romancista fazendo beicinho.

― Mas conosco não acabará. Você quer que nosso amor dure para sempre, por toda eternidade, por séculos e séculos? ― indagou Juliano Wells com um sorriso enigmático.

― Querer eu quero, mas isso não é possível, Juliano. Só em filmes ou livros isto pode acontecer e nossa vida não é um conto que você está acostumado a escrever…

― Eu posso fazer o efêmero virar eterno. Eu posso oferecer a imortalidade a você, se você quiser…

― E como você faria isso? Por acaso você pensa que é Deus? Ou apenas um lunático que acha que pode transformar ficção em realidade? ― disse a loira de olhos azuis, às gargalhadas.

Juliano Wells não disse nada. Agiu. Deu um beijo da morte em sua amada. Sorveu o líquido vermelho da jugular de Marluce como uma criança que toma seu sorvete preferido. Antes de morrer, Marluce Amils olhou para o espelho posicionado a sua frente. Só havia uma imagem refletida no espelho: a dela.

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 02/06/2018
Reeditado em 06/06/2018
Código do texto: T6353170
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