O Curioso Caso de Colin Piagen

Colin Piagen era um garoto aparentemente normal, destes nerds que habitualmente usam óculos e questionam qualquer coisa para o seu bom aprendizado. Apesar de sua boa índole, simpatia e inteligência, notava-se claramente que Colin era uma pessoa perdida, incerta de suas decisões, um típico “Maria vai com as outras.” Costumava se vestir e agir como alguns colegas, seguindo seus atos e gostos, adquirindo aquilo para sua personalidade como um filho que se espelha ao pai, e mudando-a conforme novas alternativas apareciam. Uma espécie de metamorfo por definição. Tão incapacitado e dependente que até quando se exigido um texto, o mesmo era plagiado.

De família humilde, Colin foi criado por seus avós devido à separação de seus pais. Teve uma infância generosa e confortável, sem nenhum trauma aparente, contudo, havia algo de mais esquisito em sua forma de agir, Colin era curioso e não media esforços para experimentar um pouco do desconhecido. Apesar das chacotas dos colegas, todos em sua volta, o amava. Prestativo e fiel, Colin muitas vezes era mal interpretado por suas ações, se fingia de bobo, mas no fundo sempre teve noção do que acontecia em sua volta, apesar de nunca tomar uma atitude à respeito.

Pessoas assim são difíceis de encontrar, mas devo ter cruzado com umas 2 ou 3 ao longo da vida. No entanto o que quero repassar à respeito de Colin, é que sua forma descontraída e sempre sorridente, esconde algo que apenas os bem-aventurados podem ver se olharem com atenção no fundo dos seus olhos, o pudor de sua tristeza e frustração escondida, onde sua alma almeja inquietamente uma solução para os seus problemas mais simplórios. Não espere que ele venha à contar algo, não é de seu feitio, apenas procure ver o que está além de suas superficiais atitudes.

Pessoas assim são inconfiáveis por sua instabilidade emocional, mas não era o caso de Colin, ele era frágil e inseguro, sua única arma de defesa era jogar uma pessoa contra a outra através do “disse me disse,” o que não levava-o à lugar nenhum, mas o confortava em meio ao seu conflito emotivo.

Sociopatia? Esquizofrenia? Desvio comportamental? Talvez uma queda quando criança, onde tenha batido com a cabeça e tenha atingido mais especificamente o córtex pré-frontal ventromedial, onde pessoas que lesionam esta área neurológica mudam seu comportamento e tornam-se mais indiferente aos outros, esta seria a resposta mais sensata, lógica e cientificamente comprovada. Até parece exagero, mas não será tão chocante quando souber o que se procede!

Após alguns experimentos com tabuleiro Ouija em brincadeiras despretensiosas com seus amigos, Colin passou a ouvir vozes em seu consciente, vozes estas que lhe ditava a direção com sugestões e opiniões que na maioria das vezes eram incoerentes, Colin não tinha certeza do que lhe ocorria, tão pouco questionava os fatos, apenas seguia sem se importar com as conseqüências. Ele adquiriu tendências suicidas, as vozes martelavam em sua cabeça dando lhe pensamentos pecaminosos envolvendo assassinatos e auto-flagelação, também lhe ocorria a inércia, a falta de energia e resistência física, sua vitalidade (apesar de ser interativo) não era proporcional à sua idade, dando lhe aspectos apáticos como de um idoso e isto lhe custava alguns apelidos e brincadeira aparentemente sadias. Passou à consumir bebidas alcoólicas e à fumar, quase sempre se embriagava de modo que passava à agir de forma super-alterada como se enlouquecesse, realizando atos engraçados e perigosos.

É difícil perceber tais mudanças devido à sua pré-maturidade e adolescência que se florescem como de costume ocorre com qualquer outro, até mesmo para aqueles bons observadores e familiares que convivem diariamente com o dito cujo, mas torna-se mais fácil quando se resolve montar um quebra-cabeças. Dizem que a falta de consciência gera falta de personalidade, mas há quem acredite em outras possibilidades, sejam elas genéticas, propositais ou espirituais.

Pouco tempo após seus primeiros sintomas de desequilíbrio comportamental, Colin passou à se machucar, fazendo-lhe pequenos cortes em seus braços e pernas, cortes estes em lugares poucos visíveis e de poucas gravidades, trazendo-lhe prazer em seu presente e depressão após o ato. E apesar da consciência dos sentidos que lhe traziam, ele tornava à repetir tais atitudes quase que diariamente.

Tão logo, Colin passou a praticar e contar mentiras desnecessárias, tipo: fingir ser assaltado e esconder ou jogar fora seus pertences ditos furtados. Em alguns casos até se machucava afim de evitar duvidas por parte de seus entes queridos. Com o tempo ele se acostumou com aquelas vozes que lhe zombavam aos ouvidos e foi conciliando as cobranças de seus amigos por suas estranhezas e conforme sua adolescência lhe exigia novas atitudes e lhe traziam aventuras, ele interagia de forma mais convencional, quase que à cima de qualquer suspeita.

Certa noite, como de costume, ele se levantou de madrugada para ir ao banheiro e ao sair do seu quarto ele percebeu uma silhueta escura no canto da sala, mas pouco se importou e meio que anestesiado pelo sono, ele seguiu o corredor até chegar ao banheiro. Na volta, tornou a olhar para o canto a qual havia tido a impressão de ter visto algo e ao fixar os olhos atentamente se deparou com uma sombra negra de olhos avermelhados como um cão furioso que rosnava ao lhe encarar, então ele ficou estático por alguns segundos e ao ver tão sombra se levantar, retornou de imediato ao seu quarto cobrindo-se, assustado em baixo dos lençóis rezando para que aquilo não passasse de ilusão, pois de tão nervoso, mal podia diferenciar o real do abstrato.

Aquilo ficou no seu imaginário por algum tempo, causando-lhe impressões e pesadelos, questionava se seria algum aviso subliminar, mera alucinação de sua mente lhe pregando peças ou se era realmente um ser sobrenatural como os cães do inferno. Por fim, achou melhor parar de dar ouvidos à certas coisas e desviar seus pensamentos para algo que lhe trouxesse mais conforto, tornando-lhe assim, alguém menos perturbado.

Depois dessa experiência inusitada, suas idas ao banheiro durante a madrugada se tornaram menos freqüentes. Com o passar do tempo, foi contendo suas atitudes auto-flageláveis, e apesar de seus atos corresponderem à um aspecto aparentemente normal, Colin continua à ouvir vozes.

Esta história é baseada em fatos reais. O nome Colin Piagen é fictício, substituindo o verdadeiro nome do protagonista à fim de proteger a identidade e preservar pela segurança do mesmo.

James Gallagher Junior
Enviado por James Gallagher Junior em 30/05/2018
Reeditado em 15/06/2018
Código do texto: T6350946
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