Roleta-russa

“(…) Vejo o programa que não me satisfaz

Leio o jornal que é de ontem

Pois pra mim tanto faz

Já tive esse problema

Sei que o tédio é sempre assim

Se tudo piorar não sei do que sou capaz” (Extraído da letra Tédio do grupo Biquíni Cavadão)

Reginaldo Arantes estava entediado. Não sentia prazer em nada. Seu programa de televisão favorito, sua comida predileta, o chocolate que tanto amava… nada mais lhe satisfazia. Os amigos diziam que Rê, apelido carinhoso de Reginaldo Arantes, estava deprimido depois que Fátima rompeu o noivado de sete anos com ele. Também quem mandou Reginaldo traí-la logo com Suzana, a melhor amiga dela? Agora era tarde. Fátima Hipólico já estava em outra e o noivado com Reginaldo era apenas uma página desbotada e virada em sua vida. Bráulio Muniz, melhor amigo de Rê, o aconselhou a buscar tratamento com um profissional: leia-se psicólogo ou psiquiatra. Mas Reginaldo tinha outros planos. Comprou uma arma. Um revólver 38. Ia resolver sua vida e espantar de vez o maldito tédio. De um jeito ou de outro. Eram cinco horas da tarde de uma quinta-feira quente de verão. Os últimos raios de sol já preparavam o lugar para a noite estrelada que viria a seguir. Reginaldo pegou o revólver e colocou uma bala no tambor. Girou o tambor do revólver algumas vezes e preparou-se para jogar roleta-russa: a cura definitiva de seu tédio. Apontou a arma para cabeça e apertou o gatilho. Ouviu um clique seco. A arma não disparara. O telefone celular tocava com insistência, mas Reginaldo o ignorou solenemente. Apontou novamente o revólver para cabeça e apertou de novo o gatilho. Outro clique. Faltavam quatro tentativas sendo que uma delas será fatal. Reginaldo Arantes não estava nem aí. Queria livrar-se do tédio, mesmo que para isso precisasse tirar a própria vida. Do lado de fora do apartamento de Reginaldo ouviam-se sirenes e gritos. Reginaldo ouviu mais dois cliques secos antes dos policiais arrombarem sua porta e o impedirem de tirar a própria vida. Reginaldo Arantes foi salvo, mas o tédio persistia em atormentá-lo. Tentaria livrar-se dele novamente, assim que conseguisse fugir da clínica de doenças mentais onde foi internado.

FIM

Luciano RF
Enviado por Luciano RF em 27/05/2018
Código do texto: T6347990
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