PASSIONAL
O celular antecipou o aceleramento de meu coração quando a tela indicava a ligação de Amanda durante aquela manhã. Já fazia uma noite que havíamos terminado nosso namoro de quatro anos e eu sequer podia suportar a ideia do afastamento. Na verdade, eu não conseguia aceitar o fato de que tudo havia acabado por conta de um ato infiel que surgiu apenas de minha parte, pois enquanto estávamos juntos eu sempre cultivara a ideia de que um dia eu acabaria sendo traído por ela.
Talvez esse pensamento tolo tenha sido concebido através de minha insegurança perante a beleza exuberante de Amanda, pois todos a elogiavam pelo seu lindo rosto, e isso despertava em meu âmago um forte sentimento de ciúmes que impactava meus pensamentos.
Porém não hesitei em quebrar nosso pacto de nos mantermos fiéis um ao outro pelo resto de nossas vidas quando fui seduzido por uma colega de trabalho. Mas, para meu desagrado, esse ato egoísta custou o fim de meu namoro promissor, pois de alguma forma Amanda descobriu o meu infiel segredo.
Com as lembranças deste acontecimento recente e com a inesquecível imagem de Amanda saindo com lágrimas nos olhos de minha casa, resolvi atender a ligação. Era realmente a voz dela! Contudo, sua voz não se assemelhava ao tom soturno que indicava o resultado de um acontecimento triste; Pelo contrário; Ela parecia animada e disposta a me perdoar. Inesperadamente, ela disse que estava pensando em passar na minha casa para conversarmos pessoalmente. Aceitei a sugestão e mal fui capaz de acreditar que pouco tempo depois do fim da chamada, ela estava de pé na porta do meu quarto. Ignorei o fato de tentar resolver o enigma de como ela havia sido capaz de entrar, uma vez que a porta principal estava trancada. Mas isso pouco me importava no momento, afinal ela possuía cópias de minhas chaves.
Após algum tempo conversando ela disse que me perdoaria, pois seu amor por mim era maior do que qualquer coisa. E Logo após nosso rápido acordo de reconciliação eu beijei-a loucamente, como se todos os meus pecados estivessem sendo expurgados de minha mente que, naquele momento, encontrava-se afundada em puro remorso.
Depois que nos beijamos ela resolveu despedir-se dizendo que estava atarefada naquela manhã e não podia atrasar-se. Com um semblante animado e renovado, ela acenou para mim antes de caminhar com passos leves até a saída.
Ao virar-me, corri meus olhos para o canto do cômodo onde me encontrava e estranhei quando notei a presença de uma mochila preta, marcada com inúmeros bottons, repousada no chão. Era a mochila icônica de Amanda. Lembrei-me então que na noite anterior ela havia esquecido a mochila no meu quarto ao sair enfurecida e magoada. Ao olhá-la com mais atenção, pude perceber que havia um celular surgindo de um de seus bolsos externos. Curioso, resolvi checar de perto e me surpreendi ao ver que aquele telefone celular era o de Amanda. Ao perceber que a bateria estava descarregada fui atingido por um sentimento intrigante. Como ela havia conseguido me ligar a alguns momentos atrás se o seu aparelho encontrava-se descarregado na mochila que estava em minha casa? Imediatamente corri para a porta de saída na esperança de conseguir avistar minha namorada ainda na rua. Assustei-me com a figura da mãe de Amanda em frente à entrada, pronta para tocar a campainha da minha casa quando abri a porta. Convidei-a para entrar, e antes que eu pudesse ser capaz de atualizá-la com as boas notícias sobre o meu reatamento com sua filha, fui censurado pelo seu olhar triste.
Perguntei então o que havia acontecido e a resposta foi capaz de fazer meus joelhos chocaram-se violentamente contra o chão. Um terror instantâneo tomou conta de meu ser quando fui informado por minha sogra que Amanda havia se enforcado na madrugada passada...
FIM
(Guilherme Henrique)