Doutor Tibes
Doutor Tibes é médico oncologista e legista, e detesta enganar seus pacientes. Se um deles vai se curar, ele é o primeiro a lhe contar a boa nova, mas se, ao contrário, o paciente tem pouco tempo de vida, o médico não usa de eufemismos e dá até o prazo de validade do futuro defunto.
Tibes se formou numa das melhores universidades do Brasil: a Universidade Federal do Rio de Janeiro. Inicialmente, especializou-se em oncologia e, posteriormente, em medicina legal. Doutor Tibes, no começo da carreira, tinha pena de seus pacientes e evitava lhes dar más notícias, mas, com o tempo, ficou insensível. Não ligava mais para os sentimentos deles, nem de seus parentes. Estava revoltado. Queria se vingar do mundo, após a morte de Helena, sua única e adorável filha. Helena era tudo para Tibes e morreu, com apenas cinco anos de idade, alvejada por uma bala perdida. Ela era, agora, apenas mais uma estatística de morte violenta, na cidade do Rio de Janeiro. E os sentimentos de ódio, dor e raiva eram tão incontroláveis, que o médico só os controlava fazendo uso de seu “Rivotril”: um fuzil AK-47, que ganhara de presente, de um paciente que curara, antes de virar o homem amargurado que é hoje.
Desde a morte de Helena, Tibes roda com seu Chevette preto, diariamente, as ruas da ex-Cidade Maravilhosa sempre de madrugada, em busca de prováveis burladores da lei. Assaltantes, assassinos, estupradores, pedófilos: estes são seus alvos.
Quando os encontra, doutor Tibes não tem dó: descarrega o “Rivotril” nos facínoras até ver seus cadáveres esticados no chão. Para eles, não vale o juramento de Hipócrates, mas sim a lei de talião: “olho por olho, dente por dente”.
Pelos seus cálculos, doutor Tibes já livrou os cidadãos da cidade do Rio de Janeiro de mais de 500 marginais. E continuará seu trabalho de “limpeza” enquanto tiver forças para usar seu “Rivotril”. Amém.
FIM