Cheiro da Morte
Levou um tempo para ele se acostumar com aquele cheiro. Em cada cômodo da casa exalava o odor. No sofá da sala por várias vezes já havia esfregado a escova com alvejante. Na cozinha os pratos, os copos e os talheres havia trocado, mas nada de a carniça passar. A noite no quarto, sentia-se incomodado com a atmosfera do ar, parecendo que tudo estava poluído, mesmo abrindo a janela, ligando o ventilador o ambiente não melhorava.
Até mesmo com a casa cheia, ou com a presença de visitas o mal cheiro não passava. Os animais que lhe cheirava, ele espantava por achar insuportável a presença deles devido ao fedor que eles exalavam. O tempo foi passando e aquilo foi se tornando constrangedor, a casa foi ficando vazia, as visitas ora ou outra apareciam, porém logo iam embora, os animais não rondavam mais o seu quintal até mesmo os pombos sumiram. Rodeando o céu sobre o seu telhado era somente alguns parcos urubus.
Numa tarde qualquer de um dia qualquer. De forte chuva, ele avistou um carro, três senhoras e um senhor desceram cada um com uma sacola na mão. Abriram o portão, passaram pelo quintal jogando algo que ele não soube distinguir, entraram sem bater, e novamente ele sentiu a carniça agora vinda daquele quarteto estranho. Uma das mulheres olhou de baixo em cima, ele do jeito que estava ficou. Fez ânsia de vomito, mas não vomitou. Gritou alto com eles que apenas acenderam uma vela cada um e fecharam os olhos fingindo não ouvi-lo. Levantou do sofá lentamente, foi ate a cozinha pegou um facão deu a volta na casa e na hora que foi ataca-los ouviu-se um disparo, o tiro lhe acertou em cheio pelas costas.
Caído no chão mergulhado o corpo numa possa de sangue pode ver que a policia invadir lhe a casa retirando de cada cômodo uma coleção de corpos entre velhos, jovens, crianças e animais de várias espécimes. E foi a última vez que ele sentiu aquele cheiro da morte.