“A casa abandonada da velha ficava escondida, afastada do povoado, em meio a uma floresta de árvores baixas e ferozes; uma légua do morro das viúvas, aquela colina íngreme onde muitas vezes era possível chegar somente no lombo de uma mula.”
Isso foi o que disse Alex antes de se aventurar sozinho em direção a casa. Diziam que a velha não morava só, no entanto eu não acreditava sobre as coisas que falavam a respeito da casa, e o que falavam nas conversas reservadas sobre a centenária apenas me deixavam ensimesmado. Relatos das histórias de aparições noturnas, emitindo de sussurros esquisitos a gritos histéricos depois do anoitecer. Durante muito tempo acreditei que as estranhas companhias da velha talvez fossem apenas histórias inventadas para assustar crianças.
Entretanto faz algum tempo que a velha foi dessa para melhor e a casa ficara abandonada, sem parentes próximos, o terreno fora anexado a reserva florestal e a casa continuou lá.
Alguma coisa muito estranha aconteceu com Alexandro Salvador, não lembro como encontraram meu amigo Alex, mas lembro de como o encontraram dias depois do seu sumiço. Magro e desnorteado, andando em círculos como um lunático e falando palavras desconexas. As roupas rasgadas, o cabelo despenteado e o rosto coberto de suor e sujo, um maltrapilho quase irreconhecível, depois que o encontraram daquele jeito passei a acreditar em todas aquelas lendas sobre a casa.
Ele sobreviveu, mas nunca mais foi à mesma pessoa, depois daquela aventura Alex descobriu que o diabo vestia saia, diante da história contada por ele comecei a acreditar em coisas irreais e imaginárias. Claro que aquele jovem enlouquecido continuava sendo meu amigo, não vou negar que ele se recuperou muito nos últimos meses.
Durante as curtas visitas ao asilo, onde o encontrava quase sempre sentado em um banco de madeira sem pintura. Ele ficava horas parado olhando para algo imaginário, estremecia e virava o rosto em direções opostas muito rapidamente como se estivesse procurando enxergar algo invisível, assim ele continuava por horas.
As minhas visitas se tornaram rotineiras, e sempre que o encontrava ouvia a mesma história. As imagens ainda estavam vivas na mente dele, dizia se lembrar daquele rosto enrugado, lembrava-se das feições cruéis, do nariz adunco com uma verruga protuberante, do sorriso grosseiro de uma hiena, isto era o de menos dizia Alex, a roupa negra não refletia a luz e às vezes no escuro parecia que a velha se tornava invisível, era possível apenas notar os olhos flamejantes e os dentes pontudos. Horrível mesmo era o cabelo ressecado e comprido soltando faíscas no escuro.
Ele não se lembrava de como conseguiu escapar da casa, uma loucura parece ter invadido a mente de Alex, entrar foi fácil dizia ele com a voz vacilante.
Quando chegou bem próximo da casa abandonada Alex atirou uma pedra e a porta de madeira rangeu como num lamento e abriu-se vagarosamente, as janelas eram pequenas estavam trancadas por ripas pregadas pelo lado de fora.
As coisas que falavam sobre a velhota, sobre a casa, eram somente para assustar as crianças e de certo modo Alex não era mais nenhuma criança, ele era um rapaz robusto e não tinha medo de nada. Até aquele dia em que apostaram com ele, depois daquele dia ele se tornou medroso e assustadiço.
Os rapazes apostaram, disseram que ele não tinha coragem para ir até a casa abandonada da velha e voltar com alguma coisa da casa. Ninguém em sã consciência aceitaria uma aposta daquelas.
Além da floresta e seus perigos, a casa, diziam que era assombrada. A velha se recusava a abandonar este plano, se recusava a ir, e muitas vezes o próprio coisa-ruim em certas noites aparecia para levá-la com todas as pompas infernais.
Então eu escutei durante vários meses a mesma história contada por Alex, talvez ninguém acreditasse que certas coisas pudessem existir neste mundo estático, nossos sentidos débeis não conseguem perceber por trás da realidade fugidia, coisas que habitam nas sombras, coisas invisíveis.
Com certa desconfiança duvidei da história contada por Alexandro Salvador, e dos dias que ficou acorrentado dentro da casa. Foi depois que entrou e a porta se fechou por algo invisível ainda habitando o interior da casa, aquela força fantasmagórica o sacudiu como um boneco e o fez rolar como uma marionete pelo chão, então ele gritou, gritou e, gritou! Entretanto o som dentro da casa não se propagava, parecia que a casa estava em outra dimensão. Fora dos limites do tempo e do espaço.
Muitos que agora leem este relato podem não acreditar na história contada, e talvez nem devesse revelar, é apenas uma advertência para ficarem afastados da casa.
Estou aqui neste asilo para loucos, e quem me ouve não é nada mais que um simples médico dos nervos achando que enlouqueci, do mesmo jeito que escutava as histórias contadas por meu amigo Alex, agora sou forçado a dizer as mesmas coisas para um doutor cético, não adiantava contar e recontar a mesma história da minha incursão pelo mundo sombrio da noite na floresta.
A cerca de arame farpado deixava bem claro para qualquer visitante mal-intencionado, este não era o meu caso, talvez por ironia do destino o motivo de ter sobrevivido para contar a mesma história de meu amigo Alexandro Salvador me levou as raias da loucura.
Não foram os ruídos da floresta ou os grunhidos e uivos dos animais noturnos, no entanto algo dentro da casa me fez perder o juízo e voltar correndo em direção da mata, caminhar por dias em círculos até a exaustão, algo me fez ver coisas horríveis de outros planos sinistros, onde a mente não passa de um fragmento, um local habitado por inteligências além da compreensão. Não sei quanto tempo fiquei preso dentro da casa, talvez uma ou duas semanas, de qualquer modo isso pouco importa. Assim como meu amigo Alex não consegui trazer nada que comprovasse minha jornada naquele lugar infame afastado de nosso mundo casuístico e material.
O modo como escapei é para mim um mistério total, quem sabe depois que perdi completamente a sanidade, os medos já não importavam mais e os temores mais profundos se tornaram brincadeiras pueris, talvez a única coisa preciosa que deixei naquele lugar fora minha capacidade de discernir o real do irreal, entretanto as coisas que vi e ouvi dentro daquele lugar jamais saberei se eram verdades ou pura ilusão.
Não adiantaram meus vastos conhecimentos de física e biologia, matérias em que era especialista lecionando na universidade. A última coisa vista por meus olhos naquele mundo aparte onde as leis da física não fazem o menor sentido, um portal para uma dimensão enlouquecedora, dentro da casa terríveis criaturas grotescas uivaram em meus ouvidos uma noite inteira, seres rastejantes sem olhos surgiam da penumbra. Toda a sorte de aves grotescas deformadas, animais com dentes desproporcionais avançando sobre a mandíbula salivante. Então eu enlouqueci e gritei, gritei como um lunático. De repente eu me vi só no meio da floresta correndo desnorteado no escuro, talvez tenha vagado umas quatro ou cinco horas sem parar até chegar à exaustão e cair desmaiado.
Por sorte eu fui encontrado por um aldeão que passava pela estradinha que levava para o morro das viúvas, aquele samaritano me colocou no lombo da mula me levando até o hospital, em seguida me transferiram para este asilo de loucos.
Estou cansado de avisar para ficarem afastados da casa, mas creio que aqueles cinco jovens, não acreditaram nas coisas contadas por Alexandro Salvador, os corajosos irresponsáveis fizeram aquela maldita aposta com meu amigo Alex, e riram quando falei para ficarem afastados da casa, não ouviram os meus apelos frenéticos. E senti um profundo terror quando escutei a notícia que quatro deles foram encontrados mortos na floresta, eles infelizmente não tiveram a mesma sorte que eu e meu amigo Alexandro Salvador. Entretanto um deles desapareceu e nunca mais foi encontrado. Talvez um dia desses eles o encontrem vagando como um lunático no meio daquela floresta. Magro e desnorteado, andando em círculos e falando palavras desconexas exatamente como meu amigo Alex. As roupas rasgadas, o cabelo despenteado e o rosto coberto de suor e sujo, um maltrapilho quase irreconhecível, depois que o encontrarem talvez passem a acreditar em todas aquelas lendas. E fiquem afastados da casa.
Isso foi o que disse Alex antes de se aventurar sozinho em direção a casa. Diziam que a velha não morava só, no entanto eu não acreditava sobre as coisas que falavam a respeito da casa, e o que falavam nas conversas reservadas sobre a centenária apenas me deixavam ensimesmado. Relatos das histórias de aparições noturnas, emitindo de sussurros esquisitos a gritos histéricos depois do anoitecer. Durante muito tempo acreditei que as estranhas companhias da velha talvez fossem apenas histórias inventadas para assustar crianças.
Entretanto faz algum tempo que a velha foi dessa para melhor e a casa ficara abandonada, sem parentes próximos, o terreno fora anexado a reserva florestal e a casa continuou lá.
Alguma coisa muito estranha aconteceu com Alexandro Salvador, não lembro como encontraram meu amigo Alex, mas lembro de como o encontraram dias depois do seu sumiço. Magro e desnorteado, andando em círculos como um lunático e falando palavras desconexas. As roupas rasgadas, o cabelo despenteado e o rosto coberto de suor e sujo, um maltrapilho quase irreconhecível, depois que o encontraram daquele jeito passei a acreditar em todas aquelas lendas sobre a casa.
Ele sobreviveu, mas nunca mais foi à mesma pessoa, depois daquela aventura Alex descobriu que o diabo vestia saia, diante da história contada por ele comecei a acreditar em coisas irreais e imaginárias. Claro que aquele jovem enlouquecido continuava sendo meu amigo, não vou negar que ele se recuperou muito nos últimos meses.
Durante as curtas visitas ao asilo, onde o encontrava quase sempre sentado em um banco de madeira sem pintura. Ele ficava horas parado olhando para algo imaginário, estremecia e virava o rosto em direções opostas muito rapidamente como se estivesse procurando enxergar algo invisível, assim ele continuava por horas.
As minhas visitas se tornaram rotineiras, e sempre que o encontrava ouvia a mesma história. As imagens ainda estavam vivas na mente dele, dizia se lembrar daquele rosto enrugado, lembrava-se das feições cruéis, do nariz adunco com uma verruga protuberante, do sorriso grosseiro de uma hiena, isto era o de menos dizia Alex, a roupa negra não refletia a luz e às vezes no escuro parecia que a velha se tornava invisível, era possível apenas notar os olhos flamejantes e os dentes pontudos. Horrível mesmo era o cabelo ressecado e comprido soltando faíscas no escuro.
Ele não se lembrava de como conseguiu escapar da casa, uma loucura parece ter invadido a mente de Alex, entrar foi fácil dizia ele com a voz vacilante.
Quando chegou bem próximo da casa abandonada Alex atirou uma pedra e a porta de madeira rangeu como num lamento e abriu-se vagarosamente, as janelas eram pequenas estavam trancadas por ripas pregadas pelo lado de fora.
As coisas que falavam sobre a velhota, sobre a casa, eram somente para assustar as crianças e de certo modo Alex não era mais nenhuma criança, ele era um rapaz robusto e não tinha medo de nada. Até aquele dia em que apostaram com ele, depois daquele dia ele se tornou medroso e assustadiço.
Os rapazes apostaram, disseram que ele não tinha coragem para ir até a casa abandonada da velha e voltar com alguma coisa da casa. Ninguém em sã consciência aceitaria uma aposta daquelas.
Além da floresta e seus perigos, a casa, diziam que era assombrada. A velha se recusava a abandonar este plano, se recusava a ir, e muitas vezes o próprio coisa-ruim em certas noites aparecia para levá-la com todas as pompas infernais.
Então eu escutei durante vários meses a mesma história contada por Alex, talvez ninguém acreditasse que certas coisas pudessem existir neste mundo estático, nossos sentidos débeis não conseguem perceber por trás da realidade fugidia, coisas que habitam nas sombras, coisas invisíveis.
Com certa desconfiança duvidei da história contada por Alexandro Salvador, e dos dias que ficou acorrentado dentro da casa. Foi depois que entrou e a porta se fechou por algo invisível ainda habitando o interior da casa, aquela força fantasmagórica o sacudiu como um boneco e o fez rolar como uma marionete pelo chão, então ele gritou, gritou e, gritou! Entretanto o som dentro da casa não se propagava, parecia que a casa estava em outra dimensão. Fora dos limites do tempo e do espaço.
Muitos que agora leem este relato podem não acreditar na história contada, e talvez nem devesse revelar, é apenas uma advertência para ficarem afastados da casa.
Estou aqui neste asilo para loucos, e quem me ouve não é nada mais que um simples médico dos nervos achando que enlouqueci, do mesmo jeito que escutava as histórias contadas por meu amigo Alex, agora sou forçado a dizer as mesmas coisas para um doutor cético, não adiantava contar e recontar a mesma história da minha incursão pelo mundo sombrio da noite na floresta.
A cerca de arame farpado deixava bem claro para qualquer visitante mal-intencionado, este não era o meu caso, talvez por ironia do destino o motivo de ter sobrevivido para contar a mesma história de meu amigo Alexandro Salvador me levou as raias da loucura.
Não foram os ruídos da floresta ou os grunhidos e uivos dos animais noturnos, no entanto algo dentro da casa me fez perder o juízo e voltar correndo em direção da mata, caminhar por dias em círculos até a exaustão, algo me fez ver coisas horríveis de outros planos sinistros, onde a mente não passa de um fragmento, um local habitado por inteligências além da compreensão. Não sei quanto tempo fiquei preso dentro da casa, talvez uma ou duas semanas, de qualquer modo isso pouco importa. Assim como meu amigo Alex não consegui trazer nada que comprovasse minha jornada naquele lugar infame afastado de nosso mundo casuístico e material.
O modo como escapei é para mim um mistério total, quem sabe depois que perdi completamente a sanidade, os medos já não importavam mais e os temores mais profundos se tornaram brincadeiras pueris, talvez a única coisa preciosa que deixei naquele lugar fora minha capacidade de discernir o real do irreal, entretanto as coisas que vi e ouvi dentro daquele lugar jamais saberei se eram verdades ou pura ilusão.
Não adiantaram meus vastos conhecimentos de física e biologia, matérias em que era especialista lecionando na universidade. A última coisa vista por meus olhos naquele mundo aparte onde as leis da física não fazem o menor sentido, um portal para uma dimensão enlouquecedora, dentro da casa terríveis criaturas grotescas uivaram em meus ouvidos uma noite inteira, seres rastejantes sem olhos surgiam da penumbra. Toda a sorte de aves grotescas deformadas, animais com dentes desproporcionais avançando sobre a mandíbula salivante. Então eu enlouqueci e gritei, gritei como um lunático. De repente eu me vi só no meio da floresta correndo desnorteado no escuro, talvez tenha vagado umas quatro ou cinco horas sem parar até chegar à exaustão e cair desmaiado.
Por sorte eu fui encontrado por um aldeão que passava pela estradinha que levava para o morro das viúvas, aquele samaritano me colocou no lombo da mula me levando até o hospital, em seguida me transferiram para este asilo de loucos.
Estou cansado de avisar para ficarem afastados da casa, mas creio que aqueles cinco jovens, não acreditaram nas coisas contadas por Alexandro Salvador, os corajosos irresponsáveis fizeram aquela maldita aposta com meu amigo Alex, e riram quando falei para ficarem afastados da casa, não ouviram os meus apelos frenéticos. E senti um profundo terror quando escutei a notícia que quatro deles foram encontrados mortos na floresta, eles infelizmente não tiveram a mesma sorte que eu e meu amigo Alexandro Salvador. Entretanto um deles desapareceu e nunca mais foi encontrado. Talvez um dia desses eles o encontrem vagando como um lunático no meio daquela floresta. Magro e desnorteado, andando em círculos e falando palavras desconexas exatamente como meu amigo Alex. As roupas rasgadas, o cabelo despenteado e o rosto coberto de suor e sujo, um maltrapilho quase irreconhecível, depois que o encontrarem talvez passem a acreditar em todas aquelas lendas. E fiquem afastados da casa.