Crepúsculo do desesprto
Um barulho vindo da sala fez Amanda despertar. Alguém parecia ter tropeçado. Seu namorado havia ido viajar e só voltaria na semana que vem. Ele era a única pessoa que tinha uma cópia da chave. Jogou o edredom de lado e encarou a porta. O ruído de passos ecoava quase inaudível. O rádio-relógio ao lado da cama marcava cinco da manhã em números vermelhos brilhantes.
Olhou na direção da janela fechada, não poderia abri-la sem denunciar sua presença. Não havia nada ali que pudesse usar para se defender. Estava sozinha e assustada. Escutou os passos se aproximarem de seu quarto e puxou o rádio-relógio da tomada, se escondendo atrás da porta. Seu coração martelava sobre a pele.
Viu quando a maçaneta começou a girar e se preparou. A porta se abriu lentamente e um sujeito, quase duas vezes o seu tamanho, surgiu em sua frente. Ela o golpeou na cabeça com o rádio-relógio, destruindo-o, e correu pela porta. O sujeito a seguiu, alcançando-a pouco depois. A puxou pelos cabelos, fazendo-a gritar.
- Tem mais alguém aqui? – O rosto próximo ao pescoço dela.
- Não. – Segurando suas mãos. – O que você vai fazer comigo?
- Se você se comportar, nada. – Abrindo um ligeiro sorriso. – Agora seja boazinha e me mostre onde o dinheiro está.
- Não tem dinheiro aqui.
- Não me faça de idiota, sei que vocês têm um cofre escondido aqui.
– Puxando ainda mais seus cabelos.
Ela franziu a testa e um filete de lágrima despencou de seu olho.
- Nós tínhamos um cofre.
- Não minta para mim! – Jogando-a contra o chão.
- Não estou mentindo. Vasculhe a casa se quiser.
As lágrimas começavam a embaçar sua visão. O assaltante soltou um rugido furioso e socou a parede, assustando-a.
- Eu quero o dinheiro. – Agachando-se em sua frente.
- Não está comigo.
- Então é melhor começar a rezar.
O sujeito se levantou, sacou uma arma detrás das costas e a apontou em sua direção, engatilhando-a.
- Por favor, não me mate. – Desviando o olhar.
- Então é melhor começar a falar onde está o dinheiro.
- Já disse que não tem nada aqui.
- Eu não acredito em você. Levanta. – Ela não se mexeu. – Vamos logo, levanta vadia! – Puxando-a pelo braço. – Anda.
Apontou a arma na direção do corredor e fez um gesto para que ela andasse.
- O que você vai fazer?
- Cala a boca e anda.
Ela seguiu até o seu quarto, o cano da arma colado em sua nuca. O assaltante a jogou sobre a cama, como quem joga um saco de lixo na lixeira, e começou a vasculhar cada canto do cômodo. Hora ou outra ele olhava em sua direção e a ameaçava com a arma.
Não encontrou nada e isso o deixou furioso. Chutou o pé da cama, fazendo-a se encolher. A agarrou pelo braço e a arrastou até o cômodo ao lado.
- É aqui que seu namorado guarda os equipamentos de beisebol? – Perguntou ele, com um sorriso malicioso.
- É, como você sabe?
Ele não respondeu. O assaltante pegou uma luva de beisebol surrada de cima da mesa retangular ao centro e a olhou por um instante, jogando-a de volta, indiferente. Arrastou uma estante estreita com duas portas de vidro e procurou por alguma abertura na parede. Amanda viu um taco encostado na parede próximo de onde estava e olhou para o assaltante rapidamente. Se aproximou, cautelosa, e fechou as mãos na base do taco. O golpeou na nuca. Ele desabou no chão próximo a estante e ela desapareceu pela porta.
O escutou gritar e logo após seus passos a perseguiam. Abriu a porta com um puxão e correu pelo jardim, a grama rasteira pinicava seus pés descalços. O assaltante saltou sobre ela, derrubando-a. O taco rolou da sua mão e o rapaz o jogou para longe. Agarrou com força seus cabelos e golpeou sua testa contra o chão, girando-a em seguida. Um extenso corte havia sido aberto com a pancada.
Viu quando o punho de seu agressor investiu em sua direção, não dando tempo para se defender, e sentiu um violento golpe contra seu rosto. O assaltante apertou seu pescoço, seu olhar era de pura raiva. Ela segurou suas mãos, tentando fazê-lo soltar. “Ele é muito forte, você não vai conseguir. Desista”, ecoava uma voz em sua cabeça. Tentou agarrar seu rosto, mas ele se afastou, e ela voltou a segurar suas mãos.
Sentia seus lábios adormecerem e um zumbido insistente nos ouvidos. Vasculhou ao seu redor com um dos braços. Ele a estava matando! E fechou a mão em uma pedra branca grande. Havia várias outras circulando o pé de um pequeno arbusto. O golpeou na cabeça, fazendo-o cair ao seu lado semi- consciente. Podia respirar novamente. Sugou todo o ar que seus pulmões podiam suportar e logo após subiu sobre ele, golpeando-o diversas vezes na cabeça. Sangue manchou todo seu rosto, roupa e o chão ao redor.
Jogou a pedra de lado e desabou, a respiração forçada. O sol começava a nascer.