LONGE DAQUI - II
- Arthur, meu filho! Onde está você?
O garoto não estava no berço. Ali apenas restaram os brinquedos da criança e a manta na qual era usada para cobrir o menino estava jogada em um canto.
Ainda dentro do quarto do filho, Esther viu a porta se fechando brutalmente como se algo a quisesse manter presa ali.
- Meu deus o que está acontecendo aqui. Socorro! – suplicou Esther.
Já não mais se ouvia o choro estridente da criança naquele momento.
-Alguém me tire daqui! – continuou.
Com as mãos firmemente agarradas a maçaneta da porta ela fazia uma grande força na tentativa de se libertar daquele quarto onde tanto teve dificuldade de entrar para salvar seu filho e que naquele momento havia se tornado refém de algo que até então ela desconhecia.
Era possível ouvir sem dificuldade a porta sendo esmurrada com violência, mesmo assim, até então, nenhum vizinho se quer surgiu para verificar o que estava acontecendo e oferecer ajuda, talvez fosse o adiantado da hora a explicação para isso.
- Meu deus que diabos está acontecendo aqui – disse Henrique ao chegar em casa.
Rapidamente subiu as escadas e foi em direção ao quarto em que sua esposa estava trancafiada. Com alguns chutes conseguiu arrombar a porta fazendo com que ela viesse ao chão.
- Graças a deus você chegou Henrique – disse Esther com a voz ofegante. Seu rosto estava bastante suado naquela hora.
- O que houve aqui?
- Meu filho, eu quero o meu filho. Onde está o Arthur!!!
- Calma Esther, olha pra mim.
- Eu não quero ficar calma, eu quero o meu filho aqui comigo.
- O Arthur está lá embaixo, na sala.
- Como assim na sala?
- Ele estava no carrinho, quando eu cheguei, ele já estava lá.
- Não, não pode ser – Esther desceu as escadas correndo.
Chegou próximo do carrinho de bebê e encontrou Arthur dormindo.
Henrique estava ali, logo do lado.
- Eu o deixei dormindo lá em cima no quarto e vim aqui assistir tv, me distrair um pouco e... Eu ouvi o choro dele, pareciam gritos, angustiantes, desesperadores, como se ele estivesse me chamando, me pedindo socorro.
- Não existe essa possibilidade, eu cheguei e já o encontrei aqui embaixo. Não sei como ele não acordou com essa gritaria toda aqui.
- Você não entende Henrique. O que mais falta pra você acreditar em mim? Esse lugar esta se tornando cada dia mais perigoso para nós, por favor me escuta.
- Eu já conversei muito com você sobre isso, mas dessa vez você passou de todos os limites.
- O que você esta querendo dizer com isso?
- Você está louca, completamente fora de si. Não há que nos ofereça risco nessa casa a não ser esse seu temperamento totalmente desequilibrado dos últimos dias.
Nesse momento Esther atirou o copo que segurava contra a parede.
- Nunca mais me chame de louca. Só eu sei o que passei aqui dentro.
Arthur acordou aos berros.
- Você acordou o menino – disse Henrique.
- Eu tomo conta dele – rebateu Esther.
Aquela havia sido uma noite muito agitada na casa daquela família.
No quarto do casal, Esther apegou-se a um livro e sentiu um cheiro de queimado invadir a casa.
Calçou os chinelos e foi ver de que se tratava.
- Henrique venha ate aqui, depressa!
- O que foi dessa vez.
- Rápido.
- Se for mais uma de suas...
- Meu deus o que é isso, que coisa é essa? Quem é você?
Ambos estavam ofegantes e as vozes trêmulas.
Esther apanhou uma barra de ferro em suas mãos e entregou ao marido.
- Eu vou até lá.
- Cuidado Henrique.
Naquele momento estavam no topo da escada olhando em direção a parte de baixo da casa.
Henrique então desceu as escadas. Esther vinha logo atrás.
- Seja lá quem for você saia daqui logo, nos deixe em paz.
A luz da casa se apagou por completo.
- Oh não – diz Esther.
- Calma, fica calma. Eu estou aqui com você.
- Não adianta se esconder, eu sei que você esta ai.
Um grande silêncio reinou ali.
- Vamos sair daqui agora Henrique, o mais depressa possível.
- Não sem antes dar fim a essa coisa.