SERTÃO TRÁGICO .

SERTÃO TRÁGICO .

NATAL F CARDOSO

A lua grande iluminava a planície. A imagem de arvores retorcida e muitas pedras pelos caminhos. Os cavalos respiravam com dificuldades. Os jagunços perceberam e muitos apeavam. O chefe olhou para o céu foi até a algibeira que estava ali, presa na sela e tirou uma garrafa de cachaça, tirou a rolha e tomou um gole, a cachaça desceu queimando tudo goela a baixo, ele exclamou._ Eita diacho! Depois passou a cachaça para os outros. Eram seres brutos e sujos estavam andando há vários dias, estavam famintos. Caveira ergueu as ventas para cima e sentiu o cheiro do ar. Todos sabiam que quando ele fazia este gesto podia-se esperar que era cheirando comida. Agora o vento frio da noite assobiava em volta deles. Num galho seco uma coruja piou. O rosto grande e suado de Naco parecia crescer e ele perguntou._ E então lazarento? Achou algo?

Caveira continuou a cheirar o ar e disse com sua voz grave apontando.

_ Está mais adiante.

Realmente reparando bem se notava uma fumaça saindo detrás das pedras, sem dizer mais nada ele seguiu capengando puxando o cavalo. Os outros correram na frente, mas logo se cansaram e logo eles caminhavam juntos. Caveira caminhava calmo e tranquilo parecia não sentir o efeito do cansaço, era um homem grande e tinha uma cabeça grande e os cabelo eram grudados como os cabelos de uma carniça secos e sem vida, as maças do rosto saltada e pouca carne no rosto, isso dava a ele um jeito sinistro e justificava seu apelido. Naco tinha a cara grande e vermelho os dentes encavalados eram fortes, chamava assim, pois uma vez arrancou um naco de carne de um macaco numa briga em meio à caatinga. A partir daquele dia sentiu um prazer imenso em comer carne humana e em épocas de fome, seus companheiros sempre o mantinham longe ou ficava a espreita antes de dormirem.

O velho fumava na varanda esperando a hora de dormir o cachorro ergueu as orelhas percebendo que alguém chegava. O velho disse._ Se assossegue cão danado.

O cachorro não obedece e corre em direção a estrada em frente, latindo. O velho se levanta com dificuldade e olhando procura ver algo de diferente, mas sua visão esta fraca e ele volta a sentar-se resmungando._ Diacho de cachorro. Fazer essa gritaria por causa de um bicho do mato.

De repente ouve o ganido do cachorro, se levanta de um salto e grita._ Nega, trás a espingarda.

Uma negra forte chega até ele com uma espingarda na mão. _ Quí. foi home?

_ Tem arguém na fazenda?

_ Onde tá o cachorro?

O velho desce a pequena escada que da para o quintal com cuidado tentando ver algo. De repente uma bala lhe parte a cabeça e um matilha de esfomeado e sujos caem sobre a negra. Ela grita e é jogada de mão em mãos. Sente o gosto de poeira línguas lhe lambendo os seios. Suas roupas são rasgadas sente seu corpo invadido por lanças em chamas, Muitos uivam com animais sente uma mordida e vê seus seios sangrando uma boca imensa e feia mama-lhe o ferimento enquanto dedos duros lhe abrem as entranhas uma cara grande lhe mete medo e ela desmaia. Um redemoinho lhe leva tudo e um negrume se instala. Caveira se levanta gargalhando – Eita. Macaca gostosa!

Os olhos começam a enxergar ainda sem nitidez, sente apenas o cheiro do cigarro de palha, enquanto olha para os jagunços ali sentados e rindo. Levanta-se segurando os seios sangrando e tentando se esconder com suas roupas rasgada. Os jagunços olham para a negra ali desesperada e escarneia m de seu medo.

__ Aonde vai macaca? Grita Caveira.

Todos riem.

Ela para olha em volta é vê se velho ainda caído com os miolos ao lado. Um desespero se instala ela começa a gritar tão alta que assustam a todos, histéricas corre em direção de Naco e tenta estrangulá-lo, ele num golpe só a joga no chão __Eita nega maluca! O sol já começa a nascer quente e causticante. Os outros mangam dele. Naco pula sobre ela e salivando, sob aquele sol quente e aquela poeira a possui ali. Mais tarde a noite chega sorrateiramente, e encontram os jagunços jogados e saciados em redes e no quintal, mais adiante três corpos formam a trindade, do sofrimento, o velho, a negra, e o cão. O vento sopra deixando para trás cheiro de morte e dor.••••.

Natal Cardoso
Enviado por Natal Cardoso em 09/04/2018
Reeditado em 19/04/2018
Código do texto: T6303864
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