Era, na época, um garoto muito bonito, aliás, bonito era pouco: lindo mesmo, pré adolescente, doze anos, aluno do sétimo ano de um colégio particular para ricos. Lá, era o xodó das meninas: cheiroso, gostoso, inteligente. De quem todos queriam estar perto. Até que um dia, o sócio da empresa armou um golpe que  levou a família à falência. 

A escola se compadeceu, pois foram anos de doações voluntárias para projetos e obras. Ofereceu ao menino uma bolsa de estudos integral, pelo seu brilhante desempenho,  a instituição não queria perder um aluno daquele porte. A essas alturas, não tiveram outra alternativa senão vender, a preço de banana, a maioria dos luxos e se mudaram para um bairro distante e mais modesto. Apesar de toda a dificuldade, a família aceitou com humildade e de bom grado a bolsa, que veio numa hora muito boa.

Por inveja, e por ter sido antes o aluno mais rico da escola, começou a sofrer bullying. E uma profunda tristeza o abateu. Ele não contou nada aos pais, sofreu calado durante meses. Até que seu amigo e colega, sem que ele soubesse, ligou para a sua casa e contou tudo para o pai do garoto.

O pai sentou-se ao lado do filho na sala e disse:
- Lembre-se, meu filho, "acima de você, só Deus!" Tudo passa, nada é para sempre e todos os sofrimentos passam, a vida continua! Ela não acaba na fase ruim! O que estamos vivendo é só uma fase! "Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe!"

Nesta noite, O menino teve um sonho com um outro menino que era um desenho feito de  tinta preta e que disse: 
- Faça o meu desenho no quadro negro da sua sala de aula durante o intervalo do recreio!  E diga : venha, Chalky! Eu vou sair do quadro e não mais o abandonarei, eu o ajudarei e estarei ao seu lado por todos os dias da sua vida! Porém, caso um dia você queira que eu vá embora. Irei. Com a condição de que  jamais voltarei!



 E foi o que o menino fez, um pouco incrédulo, conquanto havia uma ponta de esperança. A "alma" do desenho saiu do quadro, olhando profundamente para os seus olhos, o que foi algo revigorante.

Quando os colegas e professores voltaram do intervalo, uma onda de admiração e amor invadiu os corações de todos, numa espécie de transe, ao olhar para o magnífico retrato no quadro negro. Imediatamente, pegaram os celulares para registrar a obra, só que nenhum conseguiu captar a imagem.

A partir dali, as coisas começaram a melhorar, a família novamente progrediu e o garoto seguiu sua vida ao lado de um outro garoto de uma outra esfera mais evoluída, que só ele via e que constantemente ia injetando nele uma linda espiritualidade, sempre a serviço da bondade!

Ah, sim, carinhosamente o apelidou de Chalk(y), que quer dizer giz em inglês, por ter saído de um desenho feito no quadro negro da escola, na aula do idioma.


Soube que, depois que fez vinte e sete anos, rebelou-se contra o seu protetor, na maior ingratidão. E outro, conforme prometeu, nunca mais apareceu! 
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Muito obrigada pela leitura!
LYGIA VICTORIA
Enviado por LYGIA VICTORIA em 06/04/2018
Reeditado em 07/04/2018
Código do texto: T6301404
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