PARTE FINAL
“Marina este lugar é lindo! É a sua cara! Realmente vai ser o casamento do ano!” – comentou enquanto faziam uma selfie para registrar o momento.
“Também adorei. Meu pai tem bom gosto! E acho que combina perfeitamente com nós dois! Imagina esse chafariz a noite totalmente iluminado! Ainda bem que meu pai decidiu restaurá-lo, o paisagista queria transformar ele num jardim central, retirar as estátuas e tal... Mas meu pai insistiu em mantê-lo... Ele vai ficar lindo agora que foi restaurado e todos vão passar por ele quando chegarem para a festa... Acho que ele dá um charme clássico ao lugar, não acha?” – perguntou Marina sorrindo.
“Concordo totalmente. Aliás, foi uma ótima ideia comprar essa área e transformá-la assim. Seu pai é um empreendedor mesmo e estrear o lugar com o seu casamento foi um golpe de mestre, não poderia ter melhor publicidade, de agora em diante todas as noivas da cidade vão querer se casar aqui igual a você!!” – falou enquanto conferia quantos likes a selfie que acabara de postar já havia alcançado.
Marina sorriu reconhecendo que o pai era, realmente, um gênio.
O celular emitiu um som anunciando a chegada de uma mensagem.
“Ah, meu Deus Bia, a florista acabou de me mandar um whatssap, está presa no trânsito, vai atrasar e você tem hora marcada no cabeleireiro, não tem?”.
“Tenho sim... mas tudo bem. Não vou te deixar sozinha para tomar uma decisão tão importante como a escolha das flores da cerimônia! Eu remarco...” – disse Bia colocando a costa das mãos na testa fazendo graça como se estivesse prestes a um ato de grande sacrifício.
“Nada disso! Eu sei como é difícil conseguir um horário com os meninos e, para dizer a verdade, a sua raiz já está aparecendo, precisa retocar!” – brincou Marina.
“Isso é verdade. Eu preciso mesmo dar um retoque no meu cabelo, até o Marcos já percebeu minha raiz e olha que os homens nem sabem o que é isso!” – a duas riram.
“Pode ir Bia, de verdade!” – insistiu Marina.
“Me sinto uma péssima amiga te deixando aqui sozinha!” – disse Bia com sinceridade.
“Bia, por favor... tenho certeza que tenho o mínimo de bom gosto para escolher flores sozinha!” – protestou Marina.
“Disso eu não tenho a menor dúvida, amiga! Se você realmente não se importa...”.
“Não, eu não me importo. Vá ficar linda, você merece!” - sentenciou.
Bia se despediu da amiga com um beijo no rosto, andou alguns passos e olhou para trás com preocupação.
“Não se importa mesmo de ficar sozinha nesse lugar enorme Marina, de verdade?” – perguntou olhando ao redor.
“Bia não se preocupe, pode ir tranquila. Acho que estou segura em uma das propriedades do meu pai, não acha?”.
“Está certo, mas me mande tudo por whatssap, heim... quero fazer parte disso nem que seja à distância. Beijos. Nos vemos a noite, certo?”
“Certo querida. Até.”
Marina ficou ali observando a amiga se afastar. Apesar do que havia dito, gostaria que Bia tivesse ficado para lhe fazer companhia. Se arrependeu por não ter trazido um livro para se entreter enquanto esperava.
Sabendo que tinha vários minutos pela frente, avisou ao porteiro que iria caminhar um pouco e caso a florista chegasse, deveria esperá-la ali mesmo.
Marina caminhou por aquela área que estava se transformando num empreendimento de luxo. O pai, reconhecendo o potencial das raras áreas verdes existentes no meio da cidade, havia decidido preservar uma grande parte do bosque solitário que circundava o lugar.
A moça foi em direção àqueles árvores centenárias apreciando o silêncio enquanto a cacofonia da cidade ia ficando para trás e se deixou envolver pela paz que a solidão proporcionava, até que chegou a um nicho incrustado no meio daquele bosque de bétulas.
Uma versão menor da entrada, com seu chafariz pequeno adornado por uma bela criatura alada.
Sentou-se no único bando existente no local. Era bom ter alguns minutos de tranquilidade em meio ao turbilhão de acontecimentos que enchiam sua vida de filha de família rica e noiva do solteiro mais cobiçado da cidade.
Descalçou os sapatos de salto alto e descansou os pés no chão gelado. Fechou os olhos e relaxou, inspirando o ar limpo com calma. Sentia como se sua alma tivesse deixado seu corpo e vagasse em meio àquele ambiente de paz até que um sussurro a fez despertar.
“Marina” – ouviu alguém chamar.
Ela abriu os olhos assustada.
Não havia ninguém ali, apenas aqueles olhos cinza que do alto a observavam.
(fim)
NOTA: Tenho impressão de que essa história está comigo desde que eu era cirança e imaginava como seria o Anjo que mora no bosque chamado Solidão e que rouba corações como conta a famosa cantiga infantil!! Talvez meu gosto pelo sombrio e melancolico tenha nascido ainda naquele tempo em que eu brincava de roda com as outras crianças!!!