São os Loucos Anos 20
Parte X
Parte X
Os criados ainda sonolentos já haviam iniciado suas tarefas quando o profundo silêncio daquela manhã foi quebrado pelo som de uma voz suave que cantarolava a melodia de uma cantiga infantil tão antiga quanto o tempo, que falavra sobres bosques solitários e anjos e que ecoava por toda a mansão enchendo cada um de seus cômodos e relembrado aos criados mais antigos os dias em que Nina era apenas uma garotinha.
Uma profunda melancolia se abateu sobre todos ao perceberem que era ela quem cantarolava do alto de sua prisão.
“Quando a menina era pequena, ela vivia cantando essa canção... se esta rua, se esta rua fosse minha...” - comentou uma das criadas com os olhos marejados acompanhando com sua voz baixa a antiga canção.
O som doce que evocava um passado feliz despertou o senhor e a senhora Garrilha. O pai abriu os olhos sorrindo como não fazia desde o incidente terrível que o tinha deixado manco para sempre e quando compreendeu que a voz que cantarolava a canção era a voz de sua filha teve certeza de que sua menina tinha voltado de sua loucura para ele.
“Nina” - disse levantando-se rapidamente e se cobrindo com o roupão de seda azul enquanto subia os degraus que separavam sua filha do mundo o mais rápido que sua perna ferida lhe permitia, seguido pela mãe que, pela primeira vez em toda a sua vida, deixara o quarto de dormir sem se maquiar.
Quando chegaram à porta do quarto de Nina, se depararam com duas criadas que estavam lá para levar o desjejum e que, ao perceberem que era ela quem cantarolava, não conseguiram fazer nada além de ficar ali paradas, ouvindo aquela melodia que parecia encantada.
Por alguns instantes os quatro, hipnotizados pela canção, permaneceram apenas ouvindo o som suave até que a paz que ele transmitia foi quebrada pelo barulho de vidro estilhaçando.
O pai imediatamente avançou em direção a porta que estava trancada.
“Rápido, onde está a chave?” - perguntou às criadas que com as mãos trêmulas tentavam encontrar a chave certa no molho formado pelas dezenas de chaves que abriam todas as de portas da mansão.
“Rápido mulher!” – disse o pai impaciente e, diante da demora, começou a esmurrar a porta tentando sem sucesso arrombá-la.
“O que está acontecendo?” – perguntou a mãe assustada, sem compreender o desespero do marido.
Quando, enfim, uma das criadas encontrou a chave certa e a porta foi aberta, o pai entrou a tempo de ver Nina sentada no parapeito da janela, de costas para a entrada do quarto, as pernas soltas do lado de fora, atrás dela o chão estava coberto por cacos daquele vidro espesso que, de alguma forma, ela havia conseguido quebrar.
“Nina... Nina, minha filha, por favor, olhe para mim querida...” – suplicou o pai compreendendo o que a filha pretendia fazer.
Nina olhou uma última vez para trás e sorriu com serenidade.
E, então, subitamente ela se foi, como se sua alma rodopiasse com as folhas que eram levadas pelo vento subindo em direção à liberdade do céu azul.
Ela enfim podia voar.
Uma profunda melancolia se abateu sobre todos ao perceberem que era ela quem cantarolava do alto de sua prisão.
“Quando a menina era pequena, ela vivia cantando essa canção... se esta rua, se esta rua fosse minha...” - comentou uma das criadas com os olhos marejados acompanhando com sua voz baixa a antiga canção.
O som doce que evocava um passado feliz despertou o senhor e a senhora Garrilha. O pai abriu os olhos sorrindo como não fazia desde o incidente terrível que o tinha deixado manco para sempre e quando compreendeu que a voz que cantarolava a canção era a voz de sua filha teve certeza de que sua menina tinha voltado de sua loucura para ele.
“Nina” - disse levantando-se rapidamente e se cobrindo com o roupão de seda azul enquanto subia os degraus que separavam sua filha do mundo o mais rápido que sua perna ferida lhe permitia, seguido pela mãe que, pela primeira vez em toda a sua vida, deixara o quarto de dormir sem se maquiar.
Quando chegaram à porta do quarto de Nina, se depararam com duas criadas que estavam lá para levar o desjejum e que, ao perceberem que era ela quem cantarolava, não conseguiram fazer nada além de ficar ali paradas, ouvindo aquela melodia que parecia encantada.
Por alguns instantes os quatro, hipnotizados pela canção, permaneceram apenas ouvindo o som suave até que a paz que ele transmitia foi quebrada pelo barulho de vidro estilhaçando.
O pai imediatamente avançou em direção a porta que estava trancada.
“Rápido, onde está a chave?” - perguntou às criadas que com as mãos trêmulas tentavam encontrar a chave certa no molho formado pelas dezenas de chaves que abriam todas as de portas da mansão.
“Rápido mulher!” – disse o pai impaciente e, diante da demora, começou a esmurrar a porta tentando sem sucesso arrombá-la.
“O que está acontecendo?” – perguntou a mãe assustada, sem compreender o desespero do marido.
Quando, enfim, uma das criadas encontrou a chave certa e a porta foi aberta, o pai entrou a tempo de ver Nina sentada no parapeito da janela, de costas para a entrada do quarto, as pernas soltas do lado de fora, atrás dela o chão estava coberto por cacos daquele vidro espesso que, de alguma forma, ela havia conseguido quebrar.
“Nina... Nina, minha filha, por favor, olhe para mim querida...” – suplicou o pai compreendendo o que a filha pretendia fazer.
Nina olhou uma última vez para trás e sorriu com serenidade.
E, então, subitamente ela se foi, como se sua alma rodopiasse com as folhas que eram levadas pelo vento subindo em direção à liberdade do céu azul.
Ela enfim podia voar.
(continua)