São os Loucos Anos 20
Parte IX
Parte IX
Quando Nina abriu os olhos, sua visão estava embaçada e ela não conseguiu focalizar nada à sua volta. Tentou se levantar, mas não teve forças.
A criada que velava seu sono, ao perceber que ela havia despertado, se apressou em chamar a mãe que veio correndo e se ajoelhou ao seu lado na cama.
“Nina, minha filha.” – disse a mãe segurando suas mãos entre as suas e a beijando de leve, os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada – “Estou tão preocupada minha querida, você precisa nos dizer quem fez isso com você, quem te machucou.”
Ao ouvir isso, Nina puxou as mãos com força. Fechou os olhos novamente e tentou invocar a imagem dos olhos cinza, mas por mais que se esforçasse, não conseguia vê-lo.
Não o via e também não sentia mais sua presença. Um vazio tomou conta dela, sentiu-se totalmente sozinha. Lágrimas quentes brotaram de seus olhos e escorreram por seu rosto.
Será que nunca mais o veria?
Ouviu os passos do pai se aproximando e se sentando ao seu lado na cama.
“Nina, fale comigo, por favor, sou eu... seu pai. Me diga quem fez isso com você? Me diga o que está acontecendo...” - pediu com calma, tentando disfarçar a raiva que o dominava, não mais pelo fim do noivado ou pelo insulto que sofrera, mas agora, por aquele que havia ferido sua menina.
Nina permaneceu em silêncio diante das suplicas da mãe e da insistência do pai. Não disse uma palavra, não aceitou comida nem bebida. Ficou assim até a noite chegar e quando percebeu que os olhos cinza que ela adorava não viriam lhe visitar, decidiu sair dali, deixar para trás aquele quarto que a aprisionava e ir até o Parque Ângela em busca dele, pois sabia que sem ele não existia razão para viver.
(...)
O quarto estava em silêncio, a escuridão quebrada pela luz tênue de um pequeno abajur sobre o criado-mudo ao lado da cabeceira da cama, a porta continuava escancarada.
Numa cadeira próxima, uma criada cochilava.
Nina levantou-se com cuidado, sem fazer barulho, ainda se sentia fraca, mas conseguiu firmar seus pés no chão. Deu alguns passos vacilantes, mas não parou, estava determinada.
Apoiou-se na parede e caminhou em direção a porta. A luz forte do corredor fez seus olhos arderem, mas ela continuou em direção à escadaria de mármore.
Desceu os degraus com cuidado apoiando-se no corrimão dourado. Ao chegar ao hall, ouviu as vozes dos pais e dos dois irmãos na sala ao lado.
Falavam sobre ela. Havia, ainda, uma terceira voz que ela reconheceu como sendo do médico da família e que soava preocupado e exausto.
Mas ela não precisava de cuidados médicos e estava certa de que eles nunca entenderiam isso.
Seus pés descalços não fizeram qualquer barulho enquanto ela atravessava o hall e saia pela enorme porta de madeira pintada de branco que se abria para o jardim.
O ar quente da noite invadiu seu pulmão, respirou fundo sentindo-se revigorada e, apesar de o cascalho branco que cobria o caminho que levava até o portão machucar seus pés, ela continuou andando.
“Nina” – ouviu o pai gritando quando estava há poucos metros o portão de ferro fundido adornado com as iniciais de seu pai.
Não parou. Continuou caminhando sem sequer olhar para trás até sentir os braços do irmão mais novo a agarrando pela cintura.
“Me deixe em paz, me deixe... ele está lá... ele está me esperando. Me deixe ir...” – ela gritava e se debatia com violência tentando se livrar daqueles braços fortes que a levantaram do chão sem qualquer esforço, a arrastaram para dentro da casa e a abandonaram num dos sofás da sala sob os cuidados da mãe e do médico.
O pai passou por ela com sua arma em punho e saiu para a noite em direção ao portão da entrada seguido pelos filhos.
Após alguns segundos, Nina ouviu o som de diversos disparos seguidos por um lamento que não parecia humano e que fez seu coração doer.
Assustados, o médico e a mãe a deixaram no sofá e foram até as enormes janelas que se abriam para o jardim, para ver o Sr. Manoel Garrilha que com um olhar louco gritava desafiando o bastardo que havia desgraçado sua filha a vir até ele para receber aquilo que merecia.
A atenção de todos foi desviada para a agitação que tomou conta do pomar como se um animal de grande porte corresse entre as árvores.
O pai de Nina mirou mais uma vez, agora em direção àquelas árvores de onde, em outra vida, sua filha colhia os frutos diretamente do pé se deliciando com todos aqueles aromas, porém, antes que pudesse disparar o último tiro, ele ouviu aquela voz que da entrada da mansão chamava por ele.
Virou-se a tempo de ver a arma nas mãos de Nina apontada em sua direção, encarou-a com o olhar petrificado sem poder acreditar segundos antes do tiro certeiro que estraçalhou seu joelho.
(continua)
A criada que velava seu sono, ao perceber que ela havia despertado, se apressou em chamar a mãe que veio correndo e se ajoelhou ao seu lado na cama.
“Nina, minha filha.” – disse a mãe segurando suas mãos entre as suas e a beijando de leve, os olhos cheios de lágrimas e a voz embargada – “Estou tão preocupada minha querida, você precisa nos dizer quem fez isso com você, quem te machucou.”
Ao ouvir isso, Nina puxou as mãos com força. Fechou os olhos novamente e tentou invocar a imagem dos olhos cinza, mas por mais que se esforçasse, não conseguia vê-lo.
Não o via e também não sentia mais sua presença. Um vazio tomou conta dela, sentiu-se totalmente sozinha. Lágrimas quentes brotaram de seus olhos e escorreram por seu rosto.
Será que nunca mais o veria?
Ouviu os passos do pai se aproximando e se sentando ao seu lado na cama.
“Nina, fale comigo, por favor, sou eu... seu pai. Me diga quem fez isso com você? Me diga o que está acontecendo...” - pediu com calma, tentando disfarçar a raiva que o dominava, não mais pelo fim do noivado ou pelo insulto que sofrera, mas agora, por aquele que havia ferido sua menina.
Nina permaneceu em silêncio diante das suplicas da mãe e da insistência do pai. Não disse uma palavra, não aceitou comida nem bebida. Ficou assim até a noite chegar e quando percebeu que os olhos cinza que ela adorava não viriam lhe visitar, decidiu sair dali, deixar para trás aquele quarto que a aprisionava e ir até o Parque Ângela em busca dele, pois sabia que sem ele não existia razão para viver.
(...)
O quarto estava em silêncio, a escuridão quebrada pela luz tênue de um pequeno abajur sobre o criado-mudo ao lado da cabeceira da cama, a porta continuava escancarada.
Numa cadeira próxima, uma criada cochilava.
Nina levantou-se com cuidado, sem fazer barulho, ainda se sentia fraca, mas conseguiu firmar seus pés no chão. Deu alguns passos vacilantes, mas não parou, estava determinada.
Apoiou-se na parede e caminhou em direção a porta. A luz forte do corredor fez seus olhos arderem, mas ela continuou em direção à escadaria de mármore.
Desceu os degraus com cuidado apoiando-se no corrimão dourado. Ao chegar ao hall, ouviu as vozes dos pais e dos dois irmãos na sala ao lado.
Falavam sobre ela. Havia, ainda, uma terceira voz que ela reconheceu como sendo do médico da família e que soava preocupado e exausto.
Mas ela não precisava de cuidados médicos e estava certa de que eles nunca entenderiam isso.
Seus pés descalços não fizeram qualquer barulho enquanto ela atravessava o hall e saia pela enorme porta de madeira pintada de branco que se abria para o jardim.
O ar quente da noite invadiu seu pulmão, respirou fundo sentindo-se revigorada e, apesar de o cascalho branco que cobria o caminho que levava até o portão machucar seus pés, ela continuou andando.
“Nina” – ouviu o pai gritando quando estava há poucos metros o portão de ferro fundido adornado com as iniciais de seu pai.
Não parou. Continuou caminhando sem sequer olhar para trás até sentir os braços do irmão mais novo a agarrando pela cintura.
“Me deixe em paz, me deixe... ele está lá... ele está me esperando. Me deixe ir...” – ela gritava e se debatia com violência tentando se livrar daqueles braços fortes que a levantaram do chão sem qualquer esforço, a arrastaram para dentro da casa e a abandonaram num dos sofás da sala sob os cuidados da mãe e do médico.
O pai passou por ela com sua arma em punho e saiu para a noite em direção ao portão da entrada seguido pelos filhos.
Após alguns segundos, Nina ouviu o som de diversos disparos seguidos por um lamento que não parecia humano e que fez seu coração doer.
Assustados, o médico e a mãe a deixaram no sofá e foram até as enormes janelas que se abriam para o jardim, para ver o Sr. Manoel Garrilha que com um olhar louco gritava desafiando o bastardo que havia desgraçado sua filha a vir até ele para receber aquilo que merecia.
A atenção de todos foi desviada para a agitação que tomou conta do pomar como se um animal de grande porte corresse entre as árvores.
O pai de Nina mirou mais uma vez, agora em direção àquelas árvores de onde, em outra vida, sua filha colhia os frutos diretamente do pé se deliciando com todos aqueles aromas, porém, antes que pudesse disparar o último tiro, ele ouviu aquela voz que da entrada da mansão chamava por ele.
Virou-se a tempo de ver a arma nas mãos de Nina apontada em sua direção, encarou-a com o olhar petrificado sem poder acreditar segundos antes do tiro certeiro que estraçalhou seu joelho.
(continua)