São os Loucos Anos 20
Parte VIII


 
Eles estavam deitados na cama, lado a lado, os corpos nus muito juntos, enquanto os dedos longos tocavam com delicadeza cada parte do corpo esguio e branco de Nina.

Seus olhos fixos nos olhos cinza, perdidos naquele olhar que tinha se tornado a razão de seus dias.

O encantamento foi quebrado pelas batidas violentas na porta do quarto.


“Nina, abra essa porta!” – ouviu os gritos do pai segundos antes dele arrobá-la e invadir o quarto a tempo de perceber uma rajada de vento deixar o lugar em direção ao céu norturno através das janelas escancaradas.

Com seus passos largos e duros, o pai foi até a janela apenas para confirmar que, apesar de ter sido aberta naquele momento, era impossível que alguém tivesse deixado o quarto da filha que ficava há cerca de cinco metros do chão por aquele caminho.

Contemplou a escuridão por alguns instantes a procura de algo que não poderia ser visto, certo de que havia alguém ali, então, sem compreender o que estava acontecendo e sentindo novamente a raíva que o tinha guiado, virou-se em direção a filha com os olhos estavam cheios de fúria.

Sentiu o rubor na pele do rosto que ardia ao se lembrar da humilhação que passara ao ser confrontado pelo pai de Inácio algumas horas antes no Clube Equestre.

Diante dos respeitáveis senhores que sequer disfarçaram a satisfação que sentiram ao compreender que o grande Manoel Garrilha tinha sido enganado pela própria filha que, segundo o conteúdo da carta que foi passada de mão em mão fazia crer, havia se desgraçado, provavelmente com um qualquer, bem debaixo do seu nariz e que tinha tido o disparate de romper o compromisso sem sequer comunicar ao pai.


“Quem estava aqui Nina? O que significa isso?” – urrou com uma violência que ela não conhecia, enquanto mostrava a carta que ela havia mandado para Inácio esmagada entre os seus dedos fortes.

Nina, que agora estava sentada em sua cama muito ereta, olhava em direção à janela parecendo não se dar conta do que acontecia a sua volta até que sua mãe, guiada pelos gritos totalmente incomuns naquela casa, entrou no quarto e, antes de entender o que estava acontecendo, levou as mãos a boca assustada no momento em que Nina se levantou deixando à vista o corpo nu.
 
“Nina, por Deus minha filha, quem fez isso com você?” – perguntou com a voz chorosa correndo em direção à filha.

Só então o pai notou as dezenas de cortes vermelhos e profundos que maculavam aquele corpo de marfim. Eram tantos e tão finos que pareciam feitos por um bisturi. Alguns haviam se transformado em marcas arroxeadas por terem cicatrizado sem os cuidados necessários, enquanto que outros ainda sangravam e abundancia.

Nina olhou para os cortes que cobriam seu abdome como se os visse pela primeira vez. Tocou-os com a ponta dos dedos quem ficaram embebidos em sangue e aproximou-os dos olhos sem compreender o que aquilo significava, então, perdeu os sentidos.


 
(continua)
Fefa Rodrigues
Enviado por Fefa Rodrigues em 05/04/2018
Reeditado em 11/12/2018
Código do texto: T6300424
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