Espelho
Ela odeia se olhar no espelho.
O cabelo dourado, liso e muito longo emoldura seu rosto corado e dança em suas costas conforme ela se movimenta.
As mechas louras brilham com intensidade sob o sol.
“O tom acinzentado do seu cabelo é perfeito”, dizem as amigas.
Ela odeia se olhar no espelho.
Sua sobrancelha bem delineada, seus olhos arredondados, expressivos, grandes e castanhos, com cílios compridos, a sua boca de lábios cheios e rosados, os dentes brancos um pouco sobressalientes, o nariz esculpido, arrebitado, uma pequena pinta do lado esquerdo.
“É seu charme”, dizem os amigos.
Ela odeia se olhar no espelho.
Seus ombros brancos bem desenhados, seu colo limpo, seus seios firmes, sua barriga reta, suas as pernas torneadas e sempre bronzeadas.
“Você é tão gostosa”, diz o namorado.
Ela odeia se olhar no espelho.
Suas mãos macias, sem qualquer mácula, seus dedos finos e longos, suas unhas perfeitamente cuidadas e sempre vermelhas.
“Mãos de pianista”, diz o pai.
Ela odeia de olhar no espelho.
Suas roupas da moda, seus sapatos caros, seu perfume importado, sua maquiagem bem feita.
“Sempre elegante”, diz a mãe.
Ela odeia se olhar no espelho.
Não importa o que todos dizem;
O que importa é que, quando se olha no espelho, ela se odeia.
(...)
Nota: não sei este texto é uma tentativa de conto ou uma tentantiva de poesia. De qualquer forma, ele é o que é e
e por isso talvez não seja o que se espera.
e por isso talvez não seja o que se espera.