Voltando para a casa
Olhou para o relógio mais uma vez. Dez e meia da noite.
— Cadê ela?
Os faróis de um carro surgiram lá adiante no cruzamento e Robinho deu dois passos para trás e encostou o ombro no poste de luz e abaixou a cabeça e depois que o carro passou ele começou a caminhar para longe da luz alaranjada do poste.
Botou a mão dentro da jaqueta e apalpou a empunhadura da faca. Parou na parte mais escura entre os dois postes de iluminação. Permaneceu na penumbra e olhou mais vez para os dois lados e foi então que ele viu a mulher surgir lá na frente. Ele se agachou e entrou no terreno baldio e ficou agachado em meio ao mato e ficou observando Giovana vindo.
*
Giovana caminhava sem pressa por aquela rua deserta. Dos dois lados da rua só havia terrenos baldios e mato, porém, a rua era bem iluminada.
O celular tocou e ela tirou o Samsung Galaxy do bolso e atendeu.
— Oi, já estou chegando em casa. Estou bem. Sim, eu peguei os exames no laboratório. Espera eu chegar em casa e depois a gente se fala mais. Você não pode esperar uns minutinhos? Não, eu não estou nervosa, por que eu deveria ficar nervosa? Parece que é você quem está nervoso, Carlos. Está com medo que eu esteja grávida, não é? Calma, quando eu chegar em casa, eu te digo, meu amor.
Giovana deu uma risada do que ouviu.
— Comprou mesmo? Então hoje vai ser uma sexta-feira daquelas? Cuidado para não deixar muito tempo no forno, a última vez você sabe o que aconteceu. Sim, eu sei que você teve de atender a porta, o engraçado é que eu nunca vi Testemunhas de Jeová visitar alguém durante a noite. Tá, mas se a pizza queimar, não coloque nada que tenha Deus no meio para inventar uma desculpa, ok?
Giovana deu outra risada.
— Está bem, também te amo. Tchau, beijos.
Desligou a ligação e abriu o aplicativo do whatsapp e clicou sobre a foto de uma amiga e ficou lendo as mensagens que recebeu e sem que ela percebesse seus passos foram diminuindo e ela começou a andar devagar por aquela rua deserta e silenciosa.
Então Giovana escutou o farfalhar do mato e virou-se para o lado, mas o terreno baldio estava muito escuro e ela voltou sua atenção para as mensagens do whatsapp e continuou caminhando – primeiro uma mão grudou em sua boca e depois ela sentiu um braço enlaçar o seu corpo e prender os seus braços e o celular caiu ao chão e ela foi puxada para dentro do mato do terreno baldio.
*
Robinho abriu o registro da torneira e deixou a corrente d’água limpar o sangue da lâmina da faca. Ficou segurando a faca debaixo da água por mais de cinco minutos e ficou olhando para o vermelho se dissipando da lâmina e desaparecendo pelo ralo até que não sobrou nada da cor vermelha nem na faca e nem na pia.
Então ele guardou a faca em um estojo de couro.
Sentou-se na beira da cama e tirou o celular de Giovana do bolso e ficou lendo as mensagens pessoais dela no Whatsapp e leu por um bom tempo. Nesse meio tempo, recusou a ligação de “Meu amor” por nove vezes seguidas.
Na décima vez que o celular tocou, Robinho se cansou e abriu a tampa do celular, tirou a bateria e depois tirou o chip e colocou o chip dentro da boca e engoliu. Recolocou a bateria e a tampa do celular. Levantou-se e foi até o guarda-roupa e puxou uma gaveta onde havia mais quatro celulares e jogou ali o Samsung Galaxy e fechou a gaveta e deitou-se para dormir.