- O que ainda não entendi foi o que os motivou a nos atacarem? - Disse Lexis, a garota ruiva, sentada no sofá com as pernas cruzadas.
    Ela tinha um curativo no lado esquerdo da testa e um hematoma avermelhado no canto da boca, consequências da única luta corporal que teve antes de sair para buscar sua arma. Vinte dos quarenta guerreiros que lutaram mais cedo estavam reunidos em uma ampla de estar; com três sofás de madeira maciços e estofados de veludo preto, sete cadeiras combinando com os sofás espalhadas pela sala e uma lareira na parede ao lado oposto da porta.
     - A única coisa que esse ataque revelou é que esses vampiros são novos aqui, eles não temem a nós. Nenhum grupo seria corajoso o suficiente para invadir uma reunião do clã. - Disse Deivi, sentado de costas para a porta, sem camiseta, deixando em evidência seus músculos bem definidos e com uma faixa amarrada em volta de suas costelas.
     - Temo que este não seja o último ataque deles. - Revelou Mary, uma jovem loira e de corpo esguio, sentada ao lado de Deivi.
     - Mas o que eles querem? - Começou Marcos, sentado de frente para a maioria dos guerreiros. Ele era o mais baixo entre os homens e os cabelos com fios castanhos caíam sobre sua testa num corte disforme. - E o mais importante, quem está por trás desse ataque?
     Houve um ligeiro silêncio entre eles.
     - Há uma lenda que diz que chegará uma época em que o clã Amorf será constantemente atacado, e seu fim chegará pelo filho do primeiro vampiro morto pelas mãos do mais antigo guerreiro Amorf. - Todos prestavam muita atenção no que Ariel dizia, alguns com ar de seriedade e outros com zombaria. - A salvação do clã vira pela pessoa portadora da marca sagrada, símbolo do clã, a única capaz de deter todo o mal que cairá sobre os Amorfs.
     Ao terminar sua narração Ariel se encostou à cadeira observando a todos com atenção. Passou a mão pela sua farta cabeleira negra.
     - Isso é besteira! Depositar toda a esperança em uma única pessoa. - Disse Murilo, aborrecido. Ele estava em pé, encostado na parede.
     - Pode ser que sim e pode ser que não. - Disse Diana, uma jovem morena e de cabelos curtos, sentada no sofá de frente para ele.
     - São apenas boatos! - Em tom elevado e ficando ereto. Seus traços ficaram ainda mais fortes e seus olhos, já marcados pela idade, se enrijeceram. - Esses vampiros não querem nada mais do que arruaça, assim como todos os outros.
     - Onde você ouviu isso? - Perguntou Deivi, olhando-o intrigado.
     - Eu escutei uma conversa entre dois anciãos no jantar, que você não foi semana passada, na mansão do Alexander.
     - Quem eram esses anciãos? - Perguntou Lexis.
     - Não sei. Não os vi, mas acho que um deles era o Almir.
     - Vocês não vão acreditar numa bobagem dessas? - Disse Murilo, incrédulo.
     A porta da frente foi aperta e um jovem de estatura mediana surgiu com a expressão tensa.
     - Todos vocês peguem suas armas e se preparem. Há uma movimentação estranha lá fora.
     O rapaz fechou a todos com a mesma rapidez que a abriu. Todos os guerreiros, que estavam sentados, se levantaram rapidamente. Murilo correu até a estátua, num dos lados da lareira, com o topo em forma de cabeça de leão com a boca aberta e a pressionou, afundando-a cerca de cinco centímetros. Girou a cabeça da estátua 180 graus para a esquerda e se afastou. Cinquenta centímetros ao redor da lareira se moveram para frente e giraram, revelando um grande arcenal com espadas, bestas, estacas de vários tamanhos, arcos, aljavas repletas de flechas de madeira, facões, machadinhas com uma e duas lâminas e muitas facas e adagas embainhadas.
     Cada guerreiro pegou a arma que tinha mais habilidade e pelo menos duas estacas. Alguns correrem até as três janelas que davam acesso ao jardim, entre eles Lexis e Ariel, que ficaram agachados olhando atentamente em busca de qualquer movimentação estranha. Tudo estava relativamente calmo até que um estrondo foi ouvido, vindo da entrada da residência. Todos sr viraram em direção à porta da sala de estar, receosos.
     - Temos que ajudá-los. - Disse Viviam, olhando-os com duas espadas em mãos. Ela era a única que destoava completamente dos demais guerreiros. Cabelos de tamanho médio azul cerúleo, maquiagem carregada e piercing de argola no nariz.
     - Tem razão. Murilo e Viviam venham comigo, o restante fique aqui. Vamos checar qual a situação é logo voltamos com informações. - Decidiu Lexis, segurando uma balestra, sua arma preferida, em mãos.
     Os três sairam pela porta correndo e seguiram por um corredor até a sala de visitas; onde estava concentrado o ataque. Lexis seguia um pouco a frente dos demais, quando um vampiro surgiu de repente e saltou em sua direção. A jovem imediatamente efetuou um disparo certeiro no coração da criatura.
     - Vamos rápido! Eles já começaram a de espalhar pela casa. - Olhando rapidamente para os companheiros.
     Ao chegarem viram um cenário não tão diferente de quando estavam na sala de reuniões. Lexis contou pelo menos dez vampiros armados e muito bem treinados espalhados pelo cômodo.
     -Segurem as pontas aqui, já trago reforços. - Sussurrou Lexis, em seguida disparou correndo até a sala de estar.
     A caçadora abriu a porta abruptamente e o olhar de todos se voltou em sua direção. 
     - Eu contei pelo menos dez vampiros, mas pode ser que tenham mais deles aqui. Eles estão armados e foram muito bem treinados, assim como os que lutamos mais cedo. - Caminhando para mais perto de seus companheiros. - Aqueles que não tiverem ferimentos sérios venham comigo.
     Ela caminhou até a cadeira onde Deivi estava sentado.
     - Você que não se atreva a sair daqui, não está em condições de combate. - Olhando-o nos olhos. - Me dê suas espadas e fique com a minha besta. 
     Colocou a arma sobre o colo dele e pegou as duas espadas que segurava.
     - Eu sei me virar sozinho. - Disse um pouco aborrecido.
     O caçador tentou se levantar, mas uma dor latente em suas costelas o fez se sentar novamente.
     - Você não me ouviu? Não pode entrar em uma luta corpo a corpo. A besta será mais útil.
     O olhou uma última vez com o semblante sério ebase juntou aos demais perto da porta. Assim que saíram pediu para que Oregom, que portava duas espadas, e para Maxwell, que trazia consigo uma besta, ficassem vigiando a entrada com os olhos e ouvidos bem atentos, em.seguida dispararam até a sala de visitas  Os combatentes de arco e flecha e balestra estacaram próximos ao batente da porta e lançaram seus disparos, na maioria das vezes fatais, abrindo caminho para que o restante pudesse combater em terreno mais aberto.
     Aos poucos os vampiros foram caindo e ficando em grande desvantagem. Os poucos que restaram em pé, percebendo a situação, bateram em retirada. 
     Apesar do pouco tempo de duração o confronto deixou um rastro grande de destruição. Os móveis estavam todos tombados no chão e manchadosné sangue. A mesinha de centro fora partida ao meio e o vidro ficou estilhaçado pelo chão. A televisão de 42' foi danificada por três disparos, e muito sangue ensopou todo o tapete e manchou boa parte do chão e das paredes. Não ouve nenhuma morte por parte dos Guerreiros das Sombras apenas alguns feridos, três deles com ferimentos graves; dois com disparos em locais onde a perca de sangue é mais significativa e um deles com um extenso corte horizontal na região do abdômen.
     No subsolo da própria residência havia um hospital particular com cinco macas e diversos aparelhos clínicos cruciais para manter a vida em casos de pacientes com mais gravidade. Os três guerreiros feridos foram levados ao local pelos próprios companheiros e os outros que tiveram apenas ferimentos leves foram atendidos pelos próprios colegas, que possuíam um treinamento básico de primeiros socorros. Uma equipe médica, que prestação serviços para o clã havia anos, foi chamada às pressas. A vida de três irmãos corria perigo!
     Os seis que estavam na sala de estar e os dois que vigiavam a entrada do cômodo se juntaram ao restante no local do ataque.
     - Meu Deus! Que destruição! - Exclamou a jovem morena de cabelos curtos. Ela havia sido ferida no braço esquerdo no confronto anterior e agora usava uma blusa de manga comprida, para encobrir os muitos pontos que recebeu.
     - Ouve feridos com gravidade? - Perguntou Deivi, olhando ao redor com seriedade. 
     - Apenas três. - Respondeu Viviam.
     - É o segundo ataque em menos de 24 horas. - Disse Ariel, sentado em um sofá todo retalhado. - Isso nunca aconteceu antes.
     - Tem razão, alguma coisa está mudando entre os vampiros e algo me diz que haverá novos ataques muito em breve. - Disse Mary, escorada na televisão com os braços cruzados e o olhar sério.
     - Precisamos tomar uma atitude. Não podemos ficar parados esperando que eles nos ataquem! - Disse Marcos, intenso.
     - E vamos. É por isso que eu vou amanhã falar com Alexander. - Disse Deivi. 
     - Em que aquele velho pode nos ajudar? - Perguntou Murilo, com desdém.
     - Mais respeito ao falar de Alexander, não se esqueça que ele lutou bravamente pelo clã. - Repreendeu Lexis, encarando-o.
     - Vou conversar com ele sobre essa lenda, com certeza ele poderá me revelar mais detalhes. 
     - Não acredito que você vai levar essa besteira a sério! - Esbravejou Murilo. A barba por fazer e o rosto marcado pela idade lhe dava um abdominal constante aborrecimento. - Vamos arriscar nossas vidas, o futuro do clã, para ir atrás de um "salvador" que nem sabemos se realmente existe? - Levantando-se, profundamente irritado.
     - Não, não sacrificaremos tudo por causa de uma lenda. Apenas eu vou atrás dessa pessoa. 
    - Você não pode ir sozinho, pode ser perigoso. - Preocupou-se Lexis.
     - Agradeço sua preocupação, mas de certa forma Murilo está certo, por isso vou sozinho. Se eu morrer vocês perdem apenas um guerreiro.
     - Não fale assim, você não é apenas um guerreiro, é também nosso amigo e membro dessa família. - Disse Diana, franzindo o cenho, desgostosa.
     - Quer queira ou não, nós somos guerreiros e isso pode acontecer com qualquer um e a qualquer momento. - Disse Viviam, em um canto mais afastados de todos, porém atenta a tudo o que era dito.
     Diana se virou para olhá-la com um misto de raiva e incompreensão.
     - O que foi? Estou sendo apenas realista. 
     - Já está decidido, irei amanhã falar com Alexander e não tem nada que um de vocês possa dizer para me convencer do contrário. - Concluiu Deivi. - Agora vamos todos dormir, amanhã temos muito trabalho a fazer.
     Todos se retiraram e no meio do caminho formaram pequenos grupos discutindo sobre a decisão de seu líder, em seguida cada um rumou para seu quarto. Estavam todos exaustos e apreensivos com a situação. Temiam pelo fim do clã, temiam por suas vidas e temiam ainda mais em deixar que os vampiros os vencessem e conquistassem mais espaço. Todos estavam dispostos a fazer qualquer coisa para não deixar que seus maiores inimigos vencessem.

   
 
Alice Moraes
Enviado por Alice Moraes em 22/03/2018
Reeditado em 20/06/2018
Código do texto: T6287810
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.