A Antologia
“Antologia é uma coleção de textos que escritos, em prosa ou verso, normalmente por autores variados, sendo organizada tendo em conta determinada época, autoria, tema etc.; coletânea.” (Definição extraída do Dicionário Online de Português)
Bernardo Santiago Liens era escritor e tinha recebido um convite para escrever um conto para uma antologia de contos de terror. Só que havia alguns poréns: 1) Bernardo estava enfrentando um bloqueio criativo já há algum tempo, ou seja: estava sem inspiração nenhuma. 2) O trabalho era para ser entregue em uma semana e tinha que ter mais de 2500 caracteres; e, por fim: Bernardo Santiago estava acostumado a escrever contos curtos, não longos. Mas a Antologia era para uma boa causa: as vendas seriam todas revertidas para uma ONG de câncer infantil e, por isso, Bernardo Santiago Liens faria o possível e o impossível para escrever o bendito (ou maldito) conto.
Os dias foram passando rapidamente. Bernardo sentava-se diante do computador, mas não conseguia transformar sua vontade em palavras. Não lhe vinha nada na cabeça que pudesse virar um conto de terror. Faltando apenas 12 horas para o prazo de entrega do conto terminar, Bernardo estava nervoso, angustiado. Queria escrever, mas não conseguia. Estava empacado. Literalmente. O escritor ligou a TV para relaxar. Passava um desenho do Scooby Doo no qual o vilão era um monstro e, então, veio-lhe a fagulha de inspiração que lhe faltava. Não assistiu ao desenho até o final. Foi direto para o computador e escreveu o conto de terror como se fosse um médium psicografando uma mensagem do além, Eis o conto:
Meu lado negro
A experiência parecia ter funcionado. Adam Levy sentia-se mais forte e seu flerte com a morte parecia resolvido. O cientista não notara nenhum efeito colateral, fora o crescimento de pelos no nariz e na boca. Porém, passados alguns dias, Adam começou a ficar irritadiço e ansioso. A fórmula que ele criou para se curar de um câncer terminal no pâncreas estava alterando sua sanidade mental e sua vida. Em algumas manhãs, acordou todo rasgado e cheio de marcas nas costas. Não sabia que andava dormindo, ou seja: que era sonâmbulo, mas devia ser, pois era a única explicação plausível para os ferimentos. Possivelmente, sob o efeito do sonambulismo, ele saiu de casa e foi até a imensa floresta que rodeava sua casa, na qual deve ter se machucado esbarrando em algum galho no caminho. Adam Levy tinha computador, mas a internet, às vezes, falhava e o deixava isolado do mundo civilizado. Lendo o New York Times, no computador, Adam viu que havia alguém ou algo matando homens e mulheres na sua cidade. A polícia estava em busca de provas, mas por enquanto as mortes eram um mistério ainda sem solução. O cientista leu também, no jornal, que as mortes coincidiam com os dias em que ele acordara todo rasgado e com ferimentos pelo corpo todo. Se assustou com esta coincidência. “Será que eu tenho algo a ver com estas mortes?” perguntou-se assustado Adam Levy não querendo acreditar na autoria dos assassinatos. O cientista notara que suas crises de sonambulismo aconteciam com a mudança de lua crescente para cheia. Tal fenômeno ocorreria novamente em duas semanas. Ele podia se preparar com calma para descobrir a verdade ou não… Adam Levy foi até o centro da cidade onde morava: Gloucestershire, uma pequena cidade inglesa perto do País de Gales, e comprou tudo de que precisava para o experimento: cordas, grossas correntes, cadeados, algemas e uma minicâmera para se filmar durante a crise de sonambulismo.
Os dias passaram lentamente para Adam Levy. Mas, finalmente, o grande dia chegou. A lua cheia com tons rubros despontava num céu sem nuvens. O cientista descobriria se possuía um monstro dentro dele ou não. Adam tomara todas as providências para que tudo corresse conforme o planejado: posicionou a câmera, num lugar seguro, e a ligou; algemou suas mãos e usou as correntes com cadeados e cordas para prender suas pernas. Após fechar os cadeados à chave, ficou assistindo à TV até pegar no sono. A câmera filmou tudo. Filmou um monstro e não um ser humano se livrando de todos os obstáculos que o impediam de praticar sua sina assassina. Um ser semelhante a um homem de Neanderthal era no que se transformava Adam Levy. O cientista, ciente de que era o assassino que vitimara 7 homens e 7 mulheres em sua cidade, não pensou em se entregar à polícia, mas em buscar um antídoto para evitar mais mortes. A busca pelo antídoto não teve sucesso e durou até o monstro ser morto pela população. Era o fim dos assassinatos na pequena cidade de Gloucestershire e o fim do lado negro, do grande cientista, Adam Levy.
FIM