Esfinge do terror - A volta de Seth

Estava terminando de arrumar as malas para uma viagem de estudo no Egito. Meu companheiro de trabalho também iria embarcar nessa jornada de entrar em ao menos uma das pirâmides para analisar o seu interior histórico, e o curioso é que ninguém entrava na região interna há anos, para conservar todo o objeto e por se localizar em um lugar desértico e inabitado. Eu e Peter resolvemos fazer algo diferente e um tanto perigoso, queríamos saber a sensação de estar dentro de uma grande Pirâmide, mesmo que fosse proibido.

Como eu tinha uma amiga egípcia, ela me deu algumas informações e ficou tudo mais fácil. Apesar de ser uma grande atração turística e ninguém possuía algum interesse em entrar lá, desejavam no máximo tirar algumas fotos da parte de fora, pois possivelmente estariam fechadas. Ela estranhou a minha tamanha curiosidade de querer ir pra lá e ainda entrar, pois havia lugares mais interessantes para conhecer. Mas como eu adorava objetos e coisas históricas, tinha certeza que seria uma grande aventura.

Depois de 8h de vôo, finalmente cheguei ao Egito. Eu e Peter fomos para um hotel em Cairo e iria receber uma visita da minha amiga Egípsia: Mariam Hussein. No dia seguinte iria para Guizé, uma pequena cidade para ver a esfinge e ver de perto a cultura e história. Ela falou que por segurança elas viviam fechadas, assim como a maioria das pirâmides no país. Ficamos um tempo conversando, me despedi de Mariam e fui dormir, ainda planejando o meu antigo plano. Parecia loucura, mas sempre tive esse sonho de infância e meu companheiro Peter também não sentiria medo de entrar em uma. De qualquer forma, seria um dia que não esqueceria.

Já estava em caminho a Guizé, com uma mochila cheia de água, pois a temperatura ali era muito quente e o ar, muito seco. Todos andavam cobertos com um longo véu na cabeça, também por motivos religiosos e culturais, e eu o usava apenas para me proteger do sol. Quanto mais eu me aproximava de lá, mais desértica ficava a paisagem. Falei que queria ver a famosa Esfinge de Guizé, o que na verdade foi uma escolha de última hora. No fundo, tudo o que queríamos era alguma pirâmide antiga e não tão famosa assim, justamente para olharmos com paz toda a construção aos mínimos detalhes.

E chegamos a tal esfinge, rodeada por um lugar desértico e areia quente. O micro-ônibus ficou parado por um tempo para as pessoas tirarem fotos e para o homem contar um pouco da história:

- Aqui foi um centro de adoração ao Deus Set, onde era uma divindade um tanto obscura. Depois de uma guerra com os turcos, os principais soldados foram enterrados aqui, assim como o faraó Tutmés. É uma das maiores obras existentes por aqui, apesar de não ser tão cobiçada como outras pirâmides, como a de Quéops, por ter um valor histórico mais alto. - disse o historiador, enquanto as pessoas que estavam no micro-ônibus se aproximavam pra ver mais de perto.

- Existe alguma pirâmide com entrada livre? Porque esta está fechada? - perguntei.

-Sim. A maioria das pirâmides da região Norte está fechada, pois não houve reformas para isso, e por motivos de segurança, a construção fica obstruída. Só pessoas autorizadas pelo governo têm permissão de entrar. Muitos acreditam que essa pirâmide tem a maldição de Seth, um deus sombrio, das guerras e renascimento. Uma curiosidade é que antes da guerra, o faraó fazia adorações e oferendas a esse deus, e caso morressem na guerra, o entregaria sua alma e corpo. Foi feito uma espécie de ritual, assim como muitos faziam, mas Seth era visto por ser mau na visão da maior parte das pessoas.

Curiosamente, não é um lugar tão cobiçado, mas é um tanto sombrio. Lá dentro deve estar aos pedaços. -falou o historiador.

-Eu também sou historiador, gostaria de ter uma oportunidade, assim como minha colega Mônica, para entrarmos aí e fazemos uma pesquisa. - Disse Peter.

- Se quiserem fazer pesquisa, sugiro que vá pelas pirâmides do país que estão abertas, para sua segurança. Talvez futuramente resolvam expandir o turismo deixando esta aberta também, mas como nosso país está em crise, não mexem aí faz muito tempo... Agora vamos prosseguir o nosso passeio pelo Rio Nilo.

Resolvemos ficar ali, quietos. Até que o transporte se foi. Parecia muita loucura, mas estávamos planejando entrar de qualquer forma, mas só por uma hora e depois esperaríamos passar de novo o ônibus turístico. Reparei que tinha duas entradas – na frente e atrás da pirâmide, e Peter decidiu arrombar a entrada dos fundos para nós dois entrarmos e ninguém ver, era uma grande pedra e arrastamos, exalando um mau cheiro. Fomos pra dentro, pegamos a lanterna e observamos a entrada, enquanto também pegava a câmera fotográfica para tirar fotos.

-Essas paredes são fantásticas! Parece que estou dentro de um filme! Olha esses desenhos, são iguais aos do livro. – Me empolguei.

-Esse ambiente dá medo, me dá uma sensação estranha, tem uma energia diferente... É como se estivéssemos de fato em um filme. - falou Peter.

Passamos por uma sala com várias tumbas, parecia realmente ser algo de outro mundo, percorríamos todo o espaço dali e fomos para o segundo andar subindo escadas de pedra completamente empoeiradas. Havia teias de aranha e terra em todo o lugar, se decidisse fazer uma limpeza, aquilo se tornaria uma obra de arte. Lembro que havia tantos enfeites pendurados pelas paredes, que Peter derrubou-os, parecia estar com medo. As escadas eram estreitas, pequenas e mal feitas, o inicio do segundo andar era tão pequeno que era necessário que eu me agachasse bem para entrar e eu nem sou alta. Claro que o Peter fez um esforço maior. Nós dois tivemos uma impressão de quando chegamos à cima, que havia alguém lá embaixo, uma sensação difícil de explicar. Tinha mais uma sala com tumbas. Entramos e no canto parecia ter alguns colares de ouro, escondidos juntos de várias taças. Pegamos os três que vimos, pareciam ser a figura de alguma coisa, poderia ser de algum Deus.

-Não é possível que não tenham tirado essas coisas de valor daqui! – Não estava acreditando.

Na verdade tudo aqui tem valor, pois é muito antigo. Olha Mônica, tem escritos nas paredes em toda parte, pena que não entendemos. -disse Peter e logo em seguida ouvimos um barulho forte embaixo, como se algo tivesse se fechando.

Eu e Peter nos desesperamos tanto que não conseguíamos dar sequer mais um passo e nos olhamos assustados sem falar nada, a impressão que deu é de que não estávamos sozinhos. Acho que vou me lembrar desse dia pelo resto de minha vida, tudo aos mínimos detalhes, pois é impossível esquecer. Tudo o que pensamos naquele momento era nos esconder por ter a sensação de que o barulho se aproximava cada vez mais. Não tinha janelas ali, e nem pensávamos em descer, pois sentíamos que tinha algo. Ficamos alguns minutos quietos, e nos damos conta que precisávamos sair dali e voltar pra casa.

Minutos depois, tomamos coragem e descemos com uma faca, notamos que a porta de pedra estava fechada, tentamos abrir, mas estávamos tão desesperados que não conseguimos sair e fomos interrompidos por uma suposta múmia que se aproximava. Eu me gelei e jurei que iria desmaiar, com a certeza de que havia chegado minha hora. Peter gritou horrores. Era um homem cadavérico com algumas faixas brancas pelo corpo e andava vagarosamente em nossa direção. Podíamos fugir pra outro lugar, mas a porta não se abria mais.

-Quem é você? - perguntou Peter amedrontado.

A múmia falava uma língua estranha e o espanto era tanto que fugimos para a sala mais próxima que tinha, e puxamos a pedra com toda a vontade. Era uma sala pequena e agradeci por não ter nenhuma tumba. Havia uma mesa de madeira e uma parede repleta de escritos egípcios. Tudo envelhecido. Lembrando que todas as mesas e detalhes estavam completamente empoeiradas e caindo aos pedaços. Eu e Peter juramos que iríamos morrer ali, ouvíamos linguagens estranhas e de repente vimos a porta se abrir, era a tal múmia novamente. Parecia ter uma força sobrenatural.

Peter pegou a faca e colocou na múmia, o que não adiantou.

- O que você quer? - perguntei. A múmia falava novamente coisas que não entendíamos, até que minutos depois, automaticamente, falou o que nos deixou ainda mais assustados:

- Sou o Deus Seth. Não tenho forma nem corpo e estou aqui agora. Eu sempre esperei que pudessem vir até aqui. Vocês são diferentes e não precisa ter medo de mim. Sei que milhares de anos se passaram, poderiam me informar que dia é hoje? Estive adormecido durante milhares de anos. - falou Seth.

-Hoje são 05 de fevereiro de 2018. Por favor, nos deixe sair daqui! - exclamei.

-Vocês me fizeram viver novamente e voltar a esse mundo na medida em que trouxeram vida pra cá. Eu lembro que morri assim que meu povo morreu, e no ritual acabei entrando em sono profundo com a morte de todos eles. Mas agora revivi e preciso de vocês. Quero o seu sangue Peter, para finalmente despertar de uma vez por todas e recuperar minha real forma e dar início a uma nova era. Com isso será meu servo, herdando diversos poderes. - rapidamente pegou o braço de Peter e o mordeu, sugando seu sangue.

-O que está fazendo? O que vai acontecer comigo? Melhor você sair daqui Mônica! – Peter estava desesperado.

Rapidamente fui até a entrada e com muito esforço, consegui abrir a porta. Mas não fui embora. Não queria deixar Peter assim e resolvi pedir ajuda, inventaria qualquer desculpa por ter entrado ali, e logo avistei o micro-ônibus e pedi socorro. Todos estavam espantados e expliquei que era uma historiadora e entrei junto com o meu companheiro, contava que vi uma múmia viva se dizendo ser o Deus Seth.

- Primeiramente, seja lá o que aconteceu você terá grandes problemas, tem grande chance de ser presa! - disse o historiador.

- Apenas quero socorrer meu companheiro que está ali dentro! Tem uma múmia ali! - Nesse instante todos ficaram curiosos e com medo, uns com vontade de entrar também. Até que saiu um homem com cabeça de animal e corpo de um ser humano. Todos se assustaram. O Peter veio em seguida e ficou ao lado de Seth.

-Peter! Vem aqui! - exclamei.

-Eu sirvo a ele agora Mônica. Volte para casa, eu não sou mais o mesmo.

Nessa hora Seth correu e mordeu o braço de duas pessoas fazendo-as perderem a consciência e a se transformarem em alguém como eles. Eu apenas fugi, junto com os poucos que conseguiram pegar o micro-ônibus e me pus a dirigir, e imediatamente ocorreu uma tempestade de areia onde eu e mais cinco pessoas ficamos em choque. Parecia ser o sinal de alguma coisa, talvez o retorno de Seth. O céu ficou vermelho e eu acelerava o máximo possível, até me sentir mais distante daquele lugar. Cheguei a Cairo desesperada e não conseguia falar com ninguém naquela hora.

Fui correndo para o hotel, peguei meu celular, liguei a televisão que passava uma tragédia de uma tempestade de areia que surgiu de forma repentina e misteriosa. Falei para Mariam que o pior aconteceu e vi uma múmia que se dizia ser o Deus Seth, que havia retornado e transformado meu antigo companheiro. Sentia-me culpada por ter saído, o deixando ali. Explicaria tudo melhor a minha amiga brevemente e nem consigo entender o que realmente aconteceu. Até agora, não acredito no que vi e nem passei – foi tão rápido. Uma múmia, que na verdade era o deus Seth, mordeu Peter, e depois outras pessoas. Em seguida, essa criatura se transformou numa figura de um homem com cabeça de animal, igual às imagens que estavam naqueles desenhos.

O céu mudara e a natureza também se transformou. Alguns historiadores acreditam que as pirâmides eram uma espécie de portal para outro mundo, devido a inúmeros rituais que ali aconteciam, onde muitas vezes pessoas importantes também eram enterradas em seu interior, estando o corpo geralmente dentro de uma espécie de caixão repleta de ouro, para garantir riqueza no ‘’outro mundo’’. Diante da minha reflexão, acredito que a minha entrada naquele local fechado e proibido reabriu esse portal, trazendo vida. Mas essa última parte será o meu segredo que jamais falarei a ninguém.

Confesso que minha curiosidade de voltar ali para ver o Peter permanece, e talvez seja o início de uma grande catástrofe...

Amanda Passos
Enviado por Amanda Passos em 25/02/2018
Reeditado em 19/03/2023
Código do texto: T6264267
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