O PERSEGUIDOR DA MORTE - DTRL 29 REEDITADO
Temas Escolhidos: Pequenos Psicopatas
Crianças más e Torturas
-Tem um gordo fedorento aqui! Sai da minha frente ou te dou um chute no traseiro e vai chegar voando na sala. - Nada! Ele vai é rolando escada
abaixo! Uma verdadeira bola de neve gigante!
Na entrada principal da escola, um grupo de meninos de forma habitual usavam do bullying para tirar sarro da cara de Jonatas. Ele não reagia as piadas grotescas; aparentemente se habituou aos constantes deboches dos colegas de colégio do ensino médio. Este dia, ele correu para o banheiro e de portas fechadas chorou baixinho. Estas piadas com seu peso e cor, estavam o machucando mais que seus colegas imaginavam.
Depois de um tempo chorando; correu pra pia para lavar seu rosto, antes se olhou no espelho e teve raiva do que viu: um menino feio usando óculos de fundo de garrafa e para piorar, era albino e gordo. Isso o fazia sentir-se uma aberração e sabia que era o motivo para que os colegas aumentavam a implicância com ele.
Naquela escola nunca teve nenhum amigo e se sentia mal com isso. Pensou em Rita sua vizinha e colega de sala, ela estava lá no meio da turminha da bagunça. Era uma das mais bonitas, inteligentes e populares.Pena que ela nem te dava bom dia...
Sonhava ser aceito no grupo de meninos. Não sabia ainda como, mas um dia venceria sua timidez e mostraria a todos que ele tinha seu valor. Mas, por enquanto, fugir era a única coisa que sabia, tentativa que nem sempre dava certo e isso que mais queria mudar.
Enquanto não tinha uma grande ideia, e seu maior companheiro era o medo e a repressão, afastou-se de todos mergulhando no seu mundo virtual. No tablete navegava na internet o dia todo, sempre assistindo filmes de torturas e assassinatos que era seu hobby predileto. E naquele dia após retornar escola, sentiu-se dominado pela revolta e ódio do que tinha ocorrido e precisava extravasar suas emoções de alguma forma.
Passou pelo portão da casa, abriu a porta da sala e jogou a mochila em cima do sofá, foi direto para cozinha. Sua mãe o viu chegando e logo o chamou para a refeição.
- Jonatas, a comida está na mesa. Venha almoçar!
Indiferente ao chamado, passou apressado pela cozinha e seguiu para a área de serviço em direção ao quintal, estava ansioso para ver sua armadilha. Deixava montado um alçapão de meio porte para pegar bichos silvestres. Quando conseguia capturá-los, tinha uma sessão de tortura especial para cada um deles.
Desta vez tinha capturado um morcego grande. O bicho estava respirando ofegante, cansado de tanto se debater para tentar sair... Com uma satisfação maldosa tirou o animal de lá e o pôs na gaiola. Assim, poderia almoçar mais sossegado e a tarde curtir seu brinquedinho novo. Um tanto menos ansioso, voltou para a cozinha e procurou pela mãe:.
- Mamãe meus hambúrgueres estão prontos? – Não comia outra coisa se não fosse meia dúzia deles e batatas fritas. Se a mãe não fizesse o cardápio, não almoçava. Era sempre assim.
-Sim filho! Já servi seu prato. Lave as mãos e venha comer!
Desta vez obedeceu e logo estava ao lado da mãe, ela notou os olhos vermelhos de choro, antes que ele terminasse a refeição perguntou preocupada:
- Como foi sua aula hoje?
- Normal. Não tivemos provas e nem matéria nova, só fizemos exercícios e revisão.
- Mas, aconteceu alguma coisa? Você está com jeito triste...
- Pegaram pesado comigo hoje. Me fizeram de piada na hora da entrada, zombando do meu tamanho, e...
- Já deveria ter superado essas situações que acontecem desde que tinha oito anos... Hoje você já tem dezesseis anos, é o mais inteligente da escola e mais esperto que qualquer um, o que sei é que seu futuro será brilhante, logo prestará vestibular e tudo vai mudar! Isso que importa.
Fitou os olhos do filho e com voz imponente disse:
- Certo? - ele com um olhar melancólico, respondeu: -Certo.
- Tenho horário marcado com o dentista agora a pouco, retornarei no fim da tarde, não abra a porta pra ninguém e qualquer coisa me ligue.
Adorou saber do destino de sua mãe. Assim que ficou livre, correu para sua sessão de cinema em casa; foi até a garagem e pegou a caixa de ferramentas. Desta vez escolheu martelo, pregos e uma furadeira. Pegou um quadro flanelógrafo que o pai usava para anexar recados; já no quintal, escolheu uma árvore e o pregou no tronco. Posicionou o suporte para câmara de vídeo, pôs para gravar e falou com voz furiosa:
- Tenho um anúncio importante para você!
Tirou o morcego da gaiola. Pegou o martelo e os pregos, começou pregar as asas do morcego no quadro. Cada martelada que dava, pensava com raiva no seu colega - líder do grupo que o importunava na escola, ato brutal que fazia o bicho gritar alto.
Logo, o morcego estava esticado como um crucificado. Já com as asas pregadas, o sangue escorria pelo quadro verde. Pegou a câmara e aproximou-a do animal que agonizava, dando um lance em cada detalhe. Colocou de novo à câmara ao suporte, exibiu a furadeira ligada e disse:
- Se não parar de zombar de mim, o próximo será você!
Voltou-se para o morcego e friamente enfiou a furadeira no animalzinho indefeso. Aqueles gritos causariam terror para qualquer menino de sua idade - menos para Jonatas - o som instigava a ser mais cruel, assim, um furo não bastava. Mesmo sessando os gritos investiu uma sequência de golpes no peito do bicho até se cansar.
Virou-se novamente para a câmara, e desta vez sua aparência era macabra. A cada golpe dado o sangue tinha esguichado no seu rosto lhe causando um aspecto sinistro e monstruoso, fez questão de repetir:
- Você está entendendo Carlos? O próximo pode ser você!
Concluiu a gravação do vídeo aproximando seus olhos arregalados na tela e desligou a câmara. Ter feito aquilo lhe deu um enorme prazer. Se o perguntassem não saberia explicar, mas ele sentia o calor do sangue pulsando em suas veias e o coração com aceleração rápida e gostosa. Toda vez que se sentia humilhado procurava um animalzinho para torturar. Já tinha uma coleção de vídeos daqueles, colocava toda a sua raiva naquela atitude insana.
Desde pequeno mostrou predileção por animais peçonhentos. Seu pai era biólogo e professor universitário, um conhecido pesquisador que trabalhava com desenvolvimento de vacinas contra venenos de cobras e escorpiões. Estava na genética, não tinha medo deste muito animal - muito pelo contrário - admirava e aprendia a forma predadora de cada um.
Às vezes, acompanhava o pai nas pesquisas do laboratório. Adorava assistir as experiências. Ele pedia para alimentar os bichos, era seu divertimento ali. Quando observava as cobras comerem os ratos vivos, seus olhos até brilhavam ao ver o rabinho sacudindo na boca da serpente.
***
Era última semana de aula, então, na segunda-feira no horário de recreio achou estranho quando Rita se aproximou puxando assunto.
- Oi Jonatas! Podemos conversar um instante? - Sentou-se ao lado do colega que comia um enorme cachorro-quente acompanhado de um copo duplo de refrigerante. Ele não demostrou nenhuma reação, apenas acenou com a cabeça e continuou seu lanche. Ela prosseguiu:
- Estou precisando de sua ajuda. Sou péssima em física e sei que você é o melhor aluno da turma desta matéria. O trabalho que a professora passou valendo dez irá me tirar do vermelho se eu acertar as questões. Mas estou tendo dificuldade de fazê-lo.
Enquanto ela falava, permanecia calado e pensativo sobre a aproximação da colega, principalmente porque ela andava sempre com Carlos e sabia que devia evitar confusão, mas ficou balanceado. Ela era tão linda, tão doce. Não podia dizer não...
- Tudo bem! Faça o seguinte. Traga as questões que resolverei para você.
- Já estão comigo, são vinte questões. Até quarta você consegue resolvê-las para mim? Se quiser te pago uma grana... – Tirou o papel do bolso da jaqueta e entregou para o colega.
- Não precisa me pagar, eu resolverei para você...
Já tinha acabado de lanchar e ficou meio sem jeito com a proximidade da garota. Resolveu levantar-se e sair de perto dela. No dia seguinte ele trouxe todo exercício resolvido e a procurou na sala de aula para entregar o papel.
- Nem sei como agradecer... Sábado reuniremos para fazer uma festinha de despedida, afinal semana quem vem já estaremos de férias. Topa ir?
- Não, não quero ir... Sua turma não gosta de mim, o que eu iria fazer lá?
- Poxa Jonatas! Não leve tão a sério a zoação que fizeram com você. A turma é assim mesmo! Só você zoar junto! Seria uma forma da gente se tornar amigos...
- Vou pensar. - Respondeu sem demonstrar entusiasmo, mas ao mesmo tempo hesitante.
Percebendo que ele começou a fraquejar, Rita pegou uma caneta e escreveu num papel seu número do celular e disse:
- Me ligue sábado de amanhã cedo pra gente combinar a hora que passo na sua casa e te uma carona.
.
***
No sábado, logo ao acordar, a primeira coisa que veio a sua cabeça foi o quanto seria legal participar de uma festa, e de repente, quem sabe fazer amizade com Rita! Mas, teve medo de encontrar Carlos por lá, no entanto, sabia que não podia ficar escondido por toda vida.
Pensou na amiga, ela sim. Era muito linda! Seria demais ter um minutinho de sua atenção. Não entendeu como, mas não conseguia esquecê-la... E ficava confuso com tanto sentimento, nunca tinha acontecido aquilo com ele. Mesmo por que, ela só andava com seu rival; um pensamento passou por sua cabeça:
- E se ele não existisse. Será que eu teria alguma chance?
Procurou o celular para ver as horas no visor. Foi então que reparou debaixo dele o papel com telefone de Rita. Pensou:
- Ligo ou não para ela? Já passa das dez da manhã. Ah! Queria ouvir de novo aquela voz...
Discou o número e esperou chamar. A cada chamada seu coração acelerava. Ela não atendeu... Caiu na caixa postal. Mas, não quis deixar recado, desligou. Assustou com a aceleração que estava seu coração. Achou melhor ela não ter atendido. Resolveu ir tomar café e esquecer tudo aquilo. Assustou quando ouviu o celular tocar, no visor viu o número de Rita e resolveu atender.
- Alô! Quem é você? Estou retornando a ligação que recebi.
- Sou eu, o Jonatas. Te liguei pra...
- A festa vai começar as oito na casa do Carlos. Sete e meia buzinarei na sua porta. - Respondeu apressada ao colega.
- Não. Eu liguei pra dizer que não irei por que...
Antes de completasse a frase percebeu que ela já tinha desligado. Tentou ligar de volta, mas já estava de novo na caixa postal. Ficou no dilema, se iria ou não... Passou o dia todo inquieto principalmente por saber que a festa seria na casa do rival; mas não conseguiu parar de pensar na Rita, na festa... Ficou imaginando algumas coisas. Talvez fosse interessante aparecer e ficasse um tempinho por lá. O suficiente pra deixar uma surpresa para o anfitrião e sair à francesa.
Conforme dito por Rita, às sete e meia parou o carro conduzido pelo irmão mais velho dela na frente de sua casa. Ele já estava no portão a esperando, sua ansiedade era tanta que se aprontou as sete e pontualmente ficou na entrada. Ao entrar no carro apenas disse:
- Boa noite e obrigado por vir!
Ela respondeu educadamente. - Que bom que se animou! A festa vai ser legal. Aposto que vai gostar!
Sentou-se sozinho no banco de passageiros e o rádio estava ligado distraindo a todos na viagem. Não ficou nervoso de estar na companhia de Rita. Sabia que Carlos morava num bairro vizinho e não seria demorado o trajeto, logo chegariam ao destino.
Ela desceu do automóvel e correu para cumprimentar as amigas, ele um tanto sem jeito foi até ela e perguntou se sabia onde era o banheiro na casa.
- Estou indo pra piscina. Tem um banheiro social no segundo andar. Ao entrar na sala vai ver uma escada, você some e encontrará o banheiro no final do corredor.
Entranhou quando entrou na casa e não viu nenhum adulto. Afinal, a maioria dos colegas era menor de dezoito anos. O som estava bem alto, alguns dançavam e outros estavam sentados no sofá da sala conversando e bebendo.
Subiu pelas escadas e avistou o banheiro no final do corredor, o usou rapidamente e ao retornar percebeu três portas de quartos, Carlos era filho único. Não foi difícil achar o quarto dele, entrou e acendeu a luz, ficou admirado com a coleção de carrinhos em miniaturas que decorava a escrivaninha. Pôsteres de super-heróis nas paredes; cama com um edredom azul, por uns instantes sentou-se nele para sentir a maciez.
Resolveu abrir uma pequena greta nas cortinas e espiou pela janela - que tinha uma visão privilegiada para piscina - pôde ver Rita aproximar-se e cumprimentar Carlos com um beijo no rosto. Aquela cena, só o fez ter mais certeza. Queria que aquele beijo tivesese sido nele. Com raiva tirou cuidadosamente do bolso da jaqueta um pequeno frasco de vidro, colocou a luva de borracha e espalhou todo o pó do recipiente sobre o travesseiro. Encomenda entregue, saiu apressado.
Quando desceu as escadas ficou um pouco apreensivo e já dirigiu-se para a porta de saida. Imaginou que seria fácil ir embora sem ser percebido. Ninguém o observava, sentiu aliviado quando avistou a porta e já com a mão na maçaneta foi surpreendido pela voz de Carlos que estava atrás dele.
- Gente! Nosso convidado chegou! Venha aqui Jonatas, vou apresentá-lo a turma! Senhoras e senhores preparem suas apostas, nosso maior competidor chegou. Senhor rolha de poço!
- Não faça isso! Não vim aqui para você fazer essas piadas sem graça comigo! Já estou indo embora. – Neste momento Carlos pegou uma garrafa de cerveja e a virou sem cerimônia em cima de Jonatas. Dando muitas risadas pediu a um dos comparsas que lhe entregasse um isqueiro.
- Ouça aqui sua rolha de poço! Achou mesmo que a Rita o traria a minha festa sem motivo!? Teremos uma competição de quem vira mais “tequila com limão” e você é nosso jogador escolhido.
- Eu nunca bebi como irei fazer isso...
- Você não tem escolha! Se correr, acendo o isqueiro e vira churrasquinho. Adoro leitão a pururuca!
- Não pode fazer isso comigo! Considere-se morto! – Jonatas tremia de raiva de ser tão humilhado.
- Nossa! Que medo! Quem poderá salvar o senhor rolha de poço?
- Você vai pagar caro por isso, pode crer! – Foram às últimas palavras ditas por Jonatas. Logo o conduziram para o barzinho montado na entrada na sala de jantar.
Carlos era que recebia as apostas, e coordenava toda a turma.
A competição era por dupla. Um menino virava a tequila, espremia o limão na boca do participante, sem dar tempo para o mesmo pensar chacoalhava a cabeça dele e em seguida mandava-o engolir.
Na décima rodada, Jonatas já não conseguia ver nada, a visão estava turva. Ouvia somente o grito da torcida que gritava freneticamente:
- Vira, vira, vira, Virou! – Eram os colegas que tinham apostado nele e estavam contando às doses que deveria tomar...
A garganta já estava anestesiada, sentiu queimar apenas as três primeiras doses. Aquilo parecia que nunca iria acabar e já não raciocinava. Aos poucos as vozes começaram a ficar abafadas e distantes. Tudo girava em sua volta.
Um colega mais forte da turma era seu par, ele o mantinha no chão enquanto o mesmo permanecia sentado em uma cadeira imprensando sua cabeça entre os joelhos e suas pernas prendiam-lhe os braços tirando qualquer possibilidade de fuga.
***
O barulho da sirene anunciava que a polícia estava chegando. Quando bateram na porta, todos os meninos que estavam lúcidos saíram correndo fugindo pelos fundos. Os policiais pediram para entrar, tinham recebido uma denúncia de uso de entorpecentes por menores, quando entraram na sala encontraram Rita chorando enquanto segurava a cabeça de Jonatas no colo, ao ver os polícias pediu:
- Por favor, chamem uma ambulância!
Os policiais imediatamente chamaram pelo rádio o SAMU. E foram até Carlos pedindo que chamasse um de seus pais ou um responsável. Ele chorava, em soluços dizia:
- Eu não tive culpa. Era só brincadeira! Meus pais estão viajando. Marquei a festa sem que soubessem.
- Todos serão intimados a prestar esclarecimentos na delegacia. Você e seus amigos serão conduzidos ao Juizado de Menores. - Falou um dos policiais ao menor.
Quando a ambulância chegou, imediatamente o socorrista examinou Jonatas e confirmou que estava com seus sinais vitais sob controle, mas permanecia inconsciente e deveria ter cuidados médicos urgentemente.
***
O estado de Jonatas era delicado. Permanecia desacordado e foi encaminhado para o hospital diretamente para o UTI; os albinos tem o fígado mais sensível devido à falta de melanina. Por isso, ficaria internado sem previsão de alta.
Dentro da viatura a caminho da delegacia Carlos ficou pensando no flagrante, talvez um dos vizinhos o tivesse denunciado. Tudo aconteceu tão rápido! Na verdade não gostava de Jonatas. Mas, não imaginava que ele poderia ficar em coma alcoólico. Sentiu um frio na espinha ao imaginar o delegado ligar para seus pais e contar o que tinha aprontado.
E não foi diferente do que pensou. Todos os colegas ficaram detidos na delegacia até seus pais os buscassem. Três horas depois os pais de Carlos chegaram, interromperam a viagem e foram buscar o filho. Foi tudo muito desgastante, o pai não poupou sermão. Recebeu uma lista de castigos e ficou proibido de ver os amigos envolvidos no episódio até o fim do ano. E tinha combinado que pela manhã iriam dar assistência ao colega hospitalizado.
Carlos estava muito cansado quando chegou em casa, subiu as escadas se dirigindo para seu quarto, acendeu as luzes, tirou o tênis e sentou-se na cama. Percebeu que em cima do travesseiro tinha um pó branco espalhado, parecia talco e sem cheiro. Achou estranho, imaginou que tinha sido sua mãe que deixou aquilo ali na troca de roupa de cama. Passou levemente a mão pela fronha para retirar parte do pó e resolveu que perguntaria a mãe pela manhã o que era aquilo, preferiu tomar seu banho e deitar-se para dormir, o aconchego e maciez da cama trouxe rapidamente seu sono.
Era mais de três da manhã quando acordou febril com muita dificuldade de respirar e o coração batendo rápido e descompassado. Virou-se na cama e sentiu uma dor latente em todo pescoço que começou a queimar como fogo! Ligou o abajur que ficava em cima do criado-mudo e notou que estava todo inchado e vermelho.
- Meu Deus o que será isso? – Tentou levantar-se e sentiu as pernas bambeando, caiu e arrastou-se até a porta do quarto, tentou gritar: “Mãe!”. Mas ao tentar proferir essa palavra que seria sua salvação - o ocorrido foi ao contrário - vomitou sangue e engasgou em seu vômito. O desespero fez seu coração acelerar mais. Tentava respirar e não conseguia. Passou a mão nas narinas que escorriam sangue, era só começo, logo saiu sangue pelos ouvidos e olhos. Asfixiava, afogando no fluxo que seria de vida – seu sangue o sufocou até a morte.
***
Um mês antes, Jonatas tomou conhecimento que seu pai estava investindo na pesquisa de vacinas e remédios feitos de venenos extraídos de aracnídeos raros. E ficou fascinado quando soube que receberam amostras de escorpiões africanos.
“O Escorpião Negro”, seu veneno era letal. Às vezes matava em menos de três minutos. Era conhecido como o Perseguidor da morte. Sem chance de tratamento, sua picada era de um veneno mortal que entra na corrente sanguínea e causa parada cardiorrespiratória. As pesquisas estavam bem avançadas com o veneno escorpião conseguiram desenvolver um extrato poderoso. Um pó analgésico fortíssimo; testes com animais estavam em andamento, porém, todos tinham morrido com parada cardíaca.
Ele conseguiu surrupiar um frasco com um pouco do pó analgésico extraído do veneno do escorpião, num dia que o pai ficou até mais tarde no laboratório em sua companhia, o guardava num lugar bem escondido em seu quarto. Seu aracnídeo raro te daria uma arma letal. Estava decidido que para seu inimigo não teria vacina.
***
O menino albino lutava pela vida, ligado aos aparelhos respiratórios continuava desacordado. A mãe não saiu nenhum dia de seu lado. Somente depois de uma semana Jonatas acordou. Sua recuperação era morosa e ainda necessitava de cuidados médicos. O hepatologista disse que iria liberá-lo depois que fizesse uma série de exames e o resultado fosse satisfatório.
A mãe nunca deixou de fazer todos os mimos ao filho. Tudo que ele pedia de comida ela nunca negava. Sempre que conseguia driblar as enfermeiras, levava escondido algumas guloseimas. Fast-food e doces eram proibidos no hospital, mas para ela ver o sorriso do filho valia tudo.
- Filho, estou feliz de ver que o seu apetite está voltando e você está recuperando as forças. Acredito que esta semana terá alta.
-Me sinto bem melhor! Mãe me fale uma coisa. Alguém me ligou? O pessoal da escola...
- Você ficou desacordado dez dias. Sei que pareceu uma eternidade. Mas, na escola ainda estão de férias. O pai de seu colega Carlos me ligou perguntando se precisava de uma ajuda financeira com as despesas médicas e me falou algo muito estranho.
- Como assim, o que ele disse? – Quis parecer surpreso, mas queria apenas ter certeza.
- O Carlos, passou mal no mesmo dia da festa e morreu. Nem consegui acreditar, depois de toda a confusão que ele fez embebedando os colegas, promovendo jogos e festas proibidas, fomos surpreendidos por essa notícia. E ninguém solbe explicar que houve. A polícia está investigando. Quando você tiver se recuperado faremos uma visita a família.
Sem que a mãe percebesse, virou-se para o lado da janela e não conseguiu deter um sorriso de satisfação. Pensou: “Tudo agora seria diferente. Ninguém mais iria gratuitamente humilhar a ele e sua família sem ter punição”...
Fim