As quatro portas

A última coisa que Elivs lembrava era de uma batida de carro. Estava num corredor escuro de onde brotavam estalactites e estalagmites. Elivs se deu conta que estava numa caverna. Começou a percorrer o corredor, sem pressa. Um bando de morcegos passaram por cima de sua cabeça num voo rasante. Elivs continuou sua caminhada. Sempre para frente, porque quem anda para trás é caranguejo. De repente, uma cobra cascavel o pica. Ele sabe que morrerá, em poucas horas, se não tomar o soro antiofídico. Reúne todas suas forças e continua avançando dentro do túnel. O caminho agora é em zigue-zague. Após uma hora de caminhada incessante, Elivs vê uma luz que acende e apaga e vai até ela. O capitão do exército vê-se, então, diante de quatro portas iguais e pretas. Sabe, por instinto, que uma delas é a porta da saída e de sua salvação. As outras… bem, as outras, boa coisa não devem ser. Elivs hesita alguns minutos e, antes de abrir a porta que escolheu, vê algo incrustado na parede. Parece um aviso. Está escrito em árabe, mas mesmo não sabendo nada do idioma, ele consegue lê-lo:

As quatro portas representam, cada uma delas, um estado de espírito, um destino. Uma delas é o passado ou nascimento. Outra, o presente, o agora. As duas portas restantes representam o medo e a morte ou a salvação pela ressurreição. Você é livre para escolher qualquer uma das portas, mas é refém de sua escolha. Após ler o aviso, e diante da iminência de sua morte caso não tomasse uma atitude, Elivs decide abrir a segunda porta da esquerda para direita. Após girar a maçaneta, ele ouve um clique e vê uma luz forte e intensa. Elivs sente-se abatido, machucado e está todo ensanguentado. Ao seu lado, num carro popular quase todo destruído, encontra-se sua filha: morta! Elivs está consciente e acompanha sua remoção do carro até o hospital. Ele escolheu a porta do agora e deve viver sua vida até se encontrar novamente no corredor escuro e vir-se diante da escolha obrigatória de uma nova porta.

FIM