O ataque dos germes sereia CAP 03

Capítulo 03 - Hoje é dia de churrasco.

- Olha pai, como ele é fofinho. Ele é lindo pai. Todo peludinho. Disse Gabi para mim.

-Filha ele é lindo, mas o meu germinho-sereia morreu. Não cuidei dele direito, coloquei no meu bolso quando entrei na selva. Não sobreviveu e não queria buscar outro. Possuímos outros objetivos filha! além de cuidar de um PET. Já tinha combinado isso, você sabe. Respondi a minha pequena filhinha.

-Nããããão pai. Todo mundo tem o seu. Não quero ficar sem o TUFINHO (PET da minha filha). Exclamou Gabi.

-Gabi. Somos só nós dois. Temos que cuidar um do outro, já conversamos antes de aparecerem esses bichos, mesmo lindos e você sabe tens que se dedicar aos estudos. Quando se formar você terá o seu. Disse a ela.

-Tá boooooom pai. Com cara de choro, mas concordou.

Voltamos ao bosque, para devolver o PA da Gabriela. O local estava sempre lotado, 24 h vinham pessoas a buscarem suas larvas de germinhos-sereia. Máquinas extraíam do solo grandes quantidades de sementes malditas, despachadas para o mundo inteiro. Toda a área do Bosque dos Jequitibás estava contaminada. Colocamos o PET da Gabriela no chão. Como ele gritava, chorava feito criança por ser abandonado. Lembro das pessoas me olharem com cara de desprezo, logo uma criança foi ao encontro dele e o adotou. Vivo das lembranças, não quero esquecer do passado e repetir os erros no futuro. Hoje nossa sobrevivência é fugir, em alta velocidade. Sempre.

Grandes distâncias viraram curtas distância. Estamos indo sentido sul, cruzamos a fronteira da Argentina, as estradas aqui não favorecem uma fuga rápida. São estreitas e muitas de terra. Estamos no meio do nada, somente montanhas ao horizonte, isso não é bom para nós. Começamos a ser frequentemente atacados pelos alados, vivemos atentos para o céu. O céu virou morte. Nossa tática contra esses ataques aéreos é bem simples, como lebres fugindo dos seus predadores gaviões, ao se aproximarem no ataque rasante, nós freamos bruscamente. Eles perdem o contato conosco, alguns desses ataques chegam a cair em solo, ferindo-os, uma chances para fugirmos, dificilmente desistem. Destaca-se Jack, o armeiro. Ele adaptou 3 Blazer com uma metralhadora 0.5 anti-aéreo cada uma, para dois tripulantes. Esses são animais resistentes e difíceis de serem mortos, mas o contra-ataque serve para desistirem de nós. Na última semana nosso comboio sofreu novas baixas. Uma espécie de aranha gigantesca, aterrada ao solo, enquanto passávamos o último Home Truck (onde haviam 4 dos nossos, usávamos de dormitório e higienização), foram atacados violentamente e todos morreram. Não houve tempo de reação, nada podia previr um ataque daqueles, esses animais são experts em camuflagem. De repente Maicon chama ao Rádio.

- João na escuta. Cambio.

-Prossiga. Cambio.

-Estamos sendo seguidos pelo nosso flanco direito. Velocista. Cambio.

- Vamos acelerar. Ao máximo. Vamos deixar ele atrás do comboio. Cambio.

Não há alimento, não há uma cadeia alimentar. Grandes Aliens estão invadindo o território aheio, viramos o prato do dia. Me recordo como tudo começou, após o dia da EXTINÇÃO, os sobreviventes caçados por sermos presas fáceis, mas houve uma pequena janela para pudéssemos a adaptarmos nossa sobrevivência. A regra é clara: Sobrevive quem mata. Nesse curto período de semanas, reunimos 3 grupos de sobreviventes, estávamos ainda mais numerosos. Dividimo-nos em 3 comboios em 90 indivíduos. Todos relacionados com a morte, suas vidas eram parte violência. Pessoas comuns apavoravam-se com a ideia de morte, esse apavoramento libera um feromônio do medo, atraindo os Alienígenas predadores, para eles nós somos presas fáceis, sem haver lutas, sem sequelas. Estão os enfermeiros, policiais, assassinos, psicopatas, soldados do exército, etc. Com instintos de sobrevivência ajudou-nos no controle das emoções e não fixamos um alvo fácil nas costas. Ficamos "esquecidos". A Gabriela é a exceção da regra, é a mais Jovem do grupo, todos acima dos 40 anos, ela sobreviveu por auto-preservação, aprendeu a controlar seus medos, uma verdadeira guerreira. A última mulher dentre nosso comboio. Ela está sempre comigo e sempre carrego uma calibre 12. Não para os alienígenas e sim para os desgarrados que podem pensar um pouco a mais.

- João ele está se aproximando. Cambio

- Maicon, qual a distância.

- 500 m, vindo na nossa diagonal. cambio

- Preparem-se. Vamos matar esse desgraçado. Cambio.

- Não conseguimos despistá-lo ? Cambio

- Não Maicon, eles estão cada vez mais rápidos. Cambio

Os velocistas estão cada vez mais próximos, cada vez mais rápidos. Antes conseguíamos fugir deles, mudar a rota, acelerar e ganhar em velocidade. Eles se adaptaram para nos pegar, tudo nesse planeta quer nos matar. Eles estão se adaptando conforme suas presas. Como no reino animal. Sempre estamos fugindo, em alta velocidade, eles ganharam mais velocidade. Levamos milhões de anos para evoluirmos, eles meses.

- João, não vamos conseguir colocar ele atrás de nós, vem muito rápido. Cambio.

- Ok, estou desacelerando, vamos nos agrupar e fazer uma manobra de evasão pela esquerda, fora da estrada. Cambio.

Vejo ao retrovisor o comboio. Esperamos ficar próximos para atacar. agora é nossa vez. Nunca atacamos, no máximo nos defendemos atingindo-os ou distraindo-os. Mas hoje será diferente.

- Preparados todos, reduzam a velocidade e virem para esquerda, junto comigo. Disse ao grupo.

Sem ninguém pestanejar sobre diminuir a velocidade, acredito que todos colocam suas vidas em minhas mãos, logo eu?. Não consegui criar um dócil animal alienígena, morreu aos meus cuidados, em minhas mãos.

- Atenção, metralhadoras 0.5, quando ele estiver em mira atirem, vamos reduzir para que se aproxime, vamos posicionar ele atrás de nós, vocês terão uma chance.

Não consegui acompanhar a cena toda, vi somente pelo retrovisor, não posso perder atenção a frente e Gabriela aos céus. Mas houve uma reviravolta nesse dia sobre o domínio da Terra, por um breve instante somos novamente o predator. O velocista como previ, veio de encontro com os canhões 0.5. Nenhum animal conseguiria sobreviver a um ataque desses, essas armas são feitas para derrubar aviões, atravessar blindados. Ele caiu, não podia desperdiçar a oportunidade de ver esse animal de perto, fizemos a volta e paramos.

- Acertei ele, acertei ele. Disse entusiasmado. Reinaldo Lopes, assassino de aluguel, perito em armas, trabalhava para traficantes e sua função era executar as ordens do tribunal do crime. A pessoa certa para ser o primeiro a matar um Alien assassino.

- Parabéns Lopes, fez sua parte. Respondi.

O animal estava ao chão, retalhado pelos disparos. Era imenso, do tamanho da caminhoneta Blazer. Pude ver sua forma, grandes garras que grudavam ao chão para melhor empuxo na corrida. Suas pernas eram alongadas e fortes, podiam ser úteis para correr e lutar. Retirei uma amostra do sangue do animal, não sei porquê. Não sabia se um dia poderia ser útil, mas era uma única oportunidade.

- Hoje vamos ter churrasco. Gritou Lopes.

- O que ? Não podemos comer isso. Disse.

- Carne é carne. Retrucou.

Todos começaram a ficar eufóricos, não comíamos carne há muitos meses, não tínhamos congelada. Não criamos, não existem animais para extrair sua carne. Apesar da ideia ser no meu ponto de vista totalmente inaceitável, todos começaram a duvidar da minha liderança e pensar em comer aquele animal abatido. Lopes, Gonzales, Jack acharam a ideia interessante, para eles era apenas proteína. Os dois enfermeiros Thiago e Soares não quiseram provar a iguaria.

- Vamos embora, não podemos ficar parados aqui, ainda mais com essa carcaça gigantesca. Retruquei a todos. - Vamos seguir.

Apesar da minha insistência, Lopes não podia sair sem seu troféu. Com um facão arrancou uma bela peça de picanha alienígena. Não posso e não vou contrariar esses homens. Eles são assassinos, treinados para matar e morrer. Para eles estar vivo é apenas uma questão de tempo, a esperança não vive nos seus corações. Voltamos ao comboio rapidamente, parados exalamos nossos cheiros e com certeza outros virão. Estamos indo em direção a Buenos Aires, atrás sempre de alimento, combustível e sobreviventes. Nunca perco a minha esperança de encontrá-los. No rádio eles estão fazendo a festa, Lopes e Gonzales foram para o Home Truck fazer o churrasco de Alien. Lembro dos últimos momentos em paz, eu e minha filha fazendo um churrasco em casa. Recordo não ter dado certo (risos), o TUFINHO comeu toda a carne. Como não percebi antes, isso não era normal. Perdemos o planeta para eles, todos foram enganados, ingênuos. Um hospedeiro alienígena em forma de PET dóceis e amáveis. Adotaria o seu?