O ataque dos germes sereia - CLTS 02
Estou no carro autoestrada. Sentido único. Penso no mundo. Não é mais o mesmo. Não é como nós nos lembrávamos. Quando adormeço sonho como se ele ainda existisse. Não conhecemos o mundo como ele agora se tornou. O mundo não é mais seguro. Depois do dia da Extinção, sobrevivemos na autoestrada, o único meio seguro. Em velocidade constante: 120 km ou mais. Por causa principalmente dos Alados, rápidos e furtivos, praticamente invisíveis. Estamos nessa vida há 6 meses, eu e minha filha Gabriela, ela tem 16 anos, revezamos o volante 4 h para cada um e turnos dobrados para dormirmos. Não somos mais a espécie dominante do Planeta, há 6 meses e alguns dias a mais, surgiu uma espécie nova e ninguém se deu conta. Todos ficaram hipnotizados com sua fofura, companheirismo e inteligência. Um animal de estimação alienígena. Não houve muito tempo para descobrimos o que estava acontecendo, ninguém conseguiu perceber. A verdade é: Todos nós adorávamos eles. Vieram pessoas do mundo inteiro para buscá-los. Foi uma loucura. As autoridades, juízes, presidentes, todos tinham o seu. Ele se adaptava a rotina, alegrava a todos, uma simbiose humana a sobrepor comida em excesso. Comer para crescer, e como cresceram rápidos.
Tudo começou com pequenas bolinhas verdes flutuantes. O único local onde apareceram foram em Campinas, município do estado de São Paulo. As bolinhas flutuantes entregavam em mãos para as pessoas os seus PET ALIENS em fase germinal. Como se dissessem:
— Cuidem de mim
Essa fase era muito importante para os alienígenas, eles precisavam dos cuidados de nossas mãos nas primeiras horas e que fossem alimentados de forma correta. Os germinhos-sereia, como eram chamados, provem da semelhança de uma sereia no estágio larval. Em 7 h já apresentavam características distintas, entre primatas, felinos, répteis e alados. Com bocas grandes e dentes pontudos. Conseguir o seu PA, era fácil, bastava uma larva sereia. O ponto original dos receptáculos foi no bosque dos Jequitibás. Uma fonte inesgotável de germinhos-sereia. Viralizou uma febre planetária, uma corrida do ouro, pessoas de toda a parte do mundo faziam filas para ter sua semente maldita. Extraídas do solo e enviadas aos quatro cantos do planeta. Contaminando em poucos dias toda a Terra.
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As larvas sereias viravam pequenos "pufs" lindos, superfofos. Pequenos bichinhos de pelúcia vivos. Fase PET. Criação dos laços maternais na simbiose. Os humanos apaixonavam-se de imediato. O nosso instinto primitivo de preservação ficam ativados em ponto máximo. Cuidávamos dos PETs como próprias crias. No terceiro dia começavam a desenvolver independência e locomoção, a procura principalmente de carne. Os verdadeiros PETs da casa foram os primeiros a serem devorados e nem notados. Não necessariamente todos tínhamos um, existia uma opção psíquica para recusar o seu. Me livrei do nosso (meu e de Gabi) no mesmo lugar onde encontrei, não queria ter mais uma responsabilidade e cuidar de um animal, mas isso era raro. Nos contentávamos em brincar com as centenas que já existiam. As pessoas passeavam com seus bichinhos por toda a parte, na televisão podíamos ver o apresentador com o seu. Era uma sensação, todos amavam. Eram graciosos. Em 7 dias estavam do tamanho de cachorros grandes, sua fome violenta faziam com que as pessoas apenas trabalhassem e gastassem todo seu dinheiro para alimentá-los. O preço dos alimentos não disparou, porque todos trabalhavam em prol dos Aliens. Ninguém se importavam em ser escravizado pelo seu PA. Revelaram seu verdadeiro propósito no nono dia.
Após 9 dias da aparição do primeiro germinho-sereia, uma família de 6 pessoas da classe média campineira, seus PAs começaram a se atacar mutualmente, ferozmente. O mais forte venceu. Pedro de 15 anos tentou apartar a briga, o seu PET ALIEN arrancou-lhe a cabeça em uma única mordida e como uma cobra gigante foi engolindo e mastigando-o. A família reunida vendo a cena de Pedro ser devorado apavoraram-se e entraram em desespero, o PA atacou ferozmente e matou a todos, menos Vitória. Ela conseguiu sobreviver e fugir para uma delegacia próxima e pedir ajuda. Sobreviventes dos ataques dos seus PA quebram o hipnotizo da simbiose. Mas na delegacia ninguém acreditava nela, apesar da garota estar toda ensanguentada e desesperada. Seu PA havia se rebelado um monstro. Foram a sua casa e constataram a carnificina, o PA já havia fugido, a fazer novas vítimas pela vizinhança. A imprensa estava no local e cobriu o único caso registrado, lembro ter visto ao vivo em reportagem especial em horário nobre. O caos na cidade de Campinas (a primeira cidade a rebelar seus monstros), só começou 10 h depois da notícia. A população foi caçada por animalescos gigantescos do tamanho de cavalos predadores, centena deles. Carnificina em céu aberto, trucidadas aos milhões. Alguns doavam seus próprios corpos para serem servidos de alimento a seus PETs. Multidões continuavam a vir de todos os lugares do mundo atrás da sua semente maldita, mesmo após a revelação assassina. Com estradas engarrafadas as pessoas vinham a pé. Atacadas e devoradas, sem a menor chance. Bilhões pereceram no décimo primeiro dia. Já quase não havia mais humanos no planeta. Quase toda a vida na terra morta em 12 dias após a descoberta do primeiro germinho-sereia. Como não havia mais alimento sobrando, começaram a se auto eliminar, viraram seus próprios predadores.
Eu e minha filha Gabriela sobrevivemos fugindo sempre. Meu nome é João Nascimento Humam, antes de tudo acontecer, eu era militar bombeiro, especializado em busca e sobrevivência na mata. Minha especialização agora é sobreviver. Nossa única opção é sobreviver. Hoje fugimos em comboio, no começo estávamos sozinhos. Conseguimos sair da cidade de moto, após ficarmos escondidos por 3 dias, dentro de uma sala fechada, em casa, em completo silêncio, até que todo o caos e desespero acabasse do lado de fora. Trocamos a moto por um carro abandonado, esportivo e pouco danificado. Saímos em autoestrada, sem destino, dirigimos por umas 8 h seguidas, até o tanque de combustível ficasse vazio, entramos em uma cidade do interior de Santa Catarina, tudo deserto. Paramos para abastecer em um posto de gasolina que ainda funcionava, enchemos o tanque e procuramos comida na conveniência. Na saída havia um homem correndo, sozinho gritando, ao meio da rua.
- Não há salvação, não há salvação.
Como uma águia ataca um pintinho no campo, um alado sobrevoou o homem e num bote rápido certeiro pegou-o e o devorou no meio do voo. Nesse momento percebi que nossa sobrevivência seria um milagre. Os animalescos evoluíram e cresceram muito. Ainda somos parte do cardápio, mas não somos seu prato principal. Se for visto a primeira e úncia regra é correr, se tiver muita sorte sobrevive. Ficar parado é morte certa. Eles sentem nossos medos, que exalamos a quilômetros de distância como feromônios atrativos. Sobreviver é um ato muito difícil, poucos predadores na redondeza faz de nós únicos alimentos possíveis e estar muito próximo de um ser alimento certo. Unimos com os sobreviventes que encontramos pelo caminho e nos locomovemos em comboios de carros, ônibus e caminhão. Comunicação é feita via rádio. Viajamos em duplas, estar em grupos maiores podemos ser vistos como animais maiores, prêmio maior. Fugimos em idas e vindas de onde o ciclo vital é mais propício, entre as cidades que oferecerem os melhores recursos. Armas são pouco ou total ineficientes. São animais muito fortes, rápidos, extremamente agressivos e violentos. Verdadeiros predadores perfeitos. Acredito que eles irão se aniquilar entre si, devorar-se uns aos outros. Haverá uma sub-espécie dominante, mais forte, mais qualificada, predadora, inteligente, adaptável e voraz. Até restar apenas dois indivíduos monstros. Eles travarão a luta do Alpha dominante e apenas um sobreviverá. Uma limpeza planetária de toda forma de vida e por fim cairá, morto de fome.
Onde surgiram? Foram colocados por Aliens para exterminar nosso planeta ? Uma limpeza biológica ? Ou viajaram por meteoritos a colidir com planetas a levar nossa extinção ? Já estavam entre nós a esperar ebulir por bilhões de anos ? A nossa única certeza agora é fugir e sobreviver. Eu e minha filha Gabriela, ate o último sopro e esperança, porque somos tudo o que sobrou do mundo. Família.
Tema: Família / ficção científica