Edgarzinho

Edgarzinho morava com o pai, a mãe, a avó materna e a tia (irmã de seu pai). Ele tinha apenas 10 anos de idade, mas era muito inteligente. Tinha sempre resposta para tudo e, ao contrário das crianças de sua idade, preferia ler livros a jogar jogos eletrônicos. Lia de tudo o garoto prodígio: de Borges a Monteiro Lobato; de Machado de Assis a Kafka; era literalmente uma traça, um devorador de livros. Os pais, os parentes e os amigos o adoravam, mas também havia o clube dos que o odiavam, porque Edgarzinho não gostava de levar desaforo para casa, nem de adulto, fará de criança. Ele defendia seus pontos de vista com unhas e dentes e detestava ser contrariado. Quando isso acontecia, fazia birra e chorava ou, quando quem o contrariou fosse do seu tamanho, aí ele partia para briga mesmo. Edgarzinho fez amizade com Mariano, um colega de escola. O garoto sofria bullying de todos, menos de Edgarzinho. Mariano era afeminado e seu lado feminino incomodava os preconceituosos. Mariano queria se vingar de seus algozes e, para isso, tinha entrado para uma seita satanista. Estava lendo livros de invocação do Diabo, com o qual queria fazer um pacto, mesmo que o preço fosse sua alma. Influenciado por Mariano, Edgarzinho começou a ler livros satanistas. Lia escondido de seus pais, que eram católicos fervorosos. Numa sexta-feira de lua nova, Edgarzinho estava transtornado. Entretanto, como um ótimo ator, disfarçou seu estado para os familiares e esperou pacientemente os pais, a tia e a avó dormirem. Com uma pistola do próprio pai, que era capitão do exército, executou seus parentes um a um, com um tiro certeiro na cabeça. Antes de se matar, Edgarzinho recitou uma oração demoníaca, em voz alta, tendo o cuidado de gravá-la no seu celular. Poucos dias após o incidente, a polícia encerrou o caso. Edgarzinho é considerado o culpado do crime e sua motivação foi o fato de saber que tinha uma doença incurável e pouco tempo de vida. Edgarzinho não queria ir para o outro mundo sozinho. Queria ir com a família que tanto o amava. E foi.

FIM