O anjo da morte
Era inicio do dia e Mengele estava preparado para mais um experimento macabro com gêmeos ainda com oito anos de idade. Ele havia pedido que trouxessem até ele todos os gêmeos e grávidas em Auschwitz para realizar testes mortais e transfusões de sangue, além de injeções venenosas e extrações de partes do corpo. Não seria uma lista muito pequena, de acordo com os registros oficiais desse macabro local. Eva havia sido chamada para auxiliar essa importante função do partido, que era esposa de um soldado alemão, onde estava cumprindo suas devidas funções em outra cidade.
A mando do grande líder, Hitler, tudo aquilo era necessário para limpar e exterminar o que era julgado de ''raça inferior''. A Alemanha precisava ser salva e sua população precisava ser ariana para derrubar todos os seus inimigos. Posteriormente, os grupos não pertencentes a essa ''raça ariana'' - como judeus, deficientes, negros e traidores do estado eram enviados para o campo de concentração nazista para serem torturados e mortos da pior forma possível. Secretamente, Eva não gostava do nazismo, e desde sua ascensão, ela não teria mais um momento de paz em meio a bombas e clima de guerra, desfiles nazistas pelas ruas e extensa propaganda. Muitos de seus amigos judeus simplesmente desapareceram ou até conseguiram fugir em meio a imensa perseguição. Via o seu atual marido adorando o partido como um Deus, e sentia que ele não era mais o mesmo: de estudante de engenharia se tornara ajudante na fabricação de diversos armamentos, explosivos e tanques de guerra. Não era mais aquele homem com roupas comuns, era um homem que se vestia inteiramente de uniformes nazistas. As antigas conversas triviais no almoço se transformaram em novas missões que recebera. Assuntos do partido tomavam noventa por cento de suas conversas.
Eva então, por pressão, aceitou o convite para ser a enfermeira aprendiz desse diabólico médico, embora ainda não tivesse concluído seus estudos de enfermagem. Tornou-se responsável por seguir suas ordens, que envolviam injeções com substâncias tóxicas, torturas, cirurgias e diversos experimentos que só conheceu nesse lugar. Procedimentos como retirar olhos, parte da pele, matar bebês e uso de substâncias aparentemente tóxicas era algo diário, assim como as mortes. Mais se parecia laboratórios com experimentos em ratos que eram trocados por humanos que não eram vistos como humanos. Estava longe de ser um comum trabalho em um hospital, onde ao mesmo tempo estudava, e, em suas aulas, falou da sua função ao seu professor e alguns colegas. Seu trabalho envolvia mais morte do que vida e isso a deixava angustiada. Porém, a resposta do professor de faculdade foi que ela não estava errada, porém, era um trabalho diferenciado com pessoas diferenciadas e só poderia ser esse o fim.
Em seus estudos na faculdade, parecia saber mais que seus colegas, assim como agia mais naturalmente diante de algumas mortes e cirurgias. O hospital militar nazista já era completamente diferente: diversas pessoas sendo salvas pelos médicos, sem a intenção de realizar procedimentos bizarros nem substâncias desconhecidas. Sabia que havia algo de errado, desejava sair daquele emprego, mas sabia que não seria possível. Hemorragias intensas, cirurgias complicadas e piscinas de sangue não a assustavam mais. Já possuiu uma idéia de injetar uma substância tipicamente usada em seu trabalho, e o médico responsável local simplesmente disse que ela estava louca e iria matar o paciente. Não foi a única situação que isso ocorreu, já havia sido ameaçada em ser expulsa caso realizasse uma conduta normal no seu trabalho que seria considerado um erro fatal nesse atual hospital.
Resolveu conversar com o Dr. Mengele sobre suas experiências no hospital militar nazista. Ela se mostrava confusa e preocupada, por serem dois ambientes diferentes. E ele seriamente respondeu: Sua função no hospital militar nazista é de salvar pessoas da morte. Aqui, não há mais como salvar essas pessoas, pois são derivadas de uma raça impura. Tudo o que lhes resta, é a morte. Cientistas adorariam estar no seu lugar, para ver de perto o que acontece caso tirem o coração, o fígado, os pulmões, e efeitos de diversos remédios. Não é a toa que nossa medicina está avançando. Continue fazendo o seu dever e quando estiver aqui, não olhe para eles como humanos, pessoas, como eu ou você.
Poucos dias antes do fim do nazismo, Josef Mengele fugiu para a América do Sul, fazendo atividades na Argentina, Paraguai e por último, no Brasil, de acordo com algumas fontes, mas sem totais certezas. Quando Eva teve acesso à fontes internacionais de jornais, tudo o que sentia era raiva, tristeza, angústia e desespero. Soube que seu marido havia morrido, e resolveu se mudar às pressas para os Estados Unidos, com medo, e sempre procurava saber se o homem pelo qual trabalhava com ela já havia morrido ou estava vivo de fato, tudo era um mistério. Uma pessoa que cometeu diversas atrocidades jamais poderia escapar assim, principalmente porque era e ainda é o autor de pesadelos de muita gente - daqueles pelo qual felizmente conseguiram sobreviver.
Seus procedimentos diários em grande parte eram tóxicos e doentios, onde apenas os fortes e sortudos não perdiam sua vida, mas nunca sem marcas. Possivelmente, quem sobreviveu as mãos daquele médico sempre se lembrará dos dias em que se sentia perto da morte, onde aquelas injeções misteriosas descobertas posteriormente em um futuro não muito distante, poderiam afirmar que causaria algum dano a algum órgão, ou alguma consequência lá pra frente, mas na verdade, era essa a intenção. Porém, o seu resultado que seria misterioso até então.
Eva nunca se sentiu em paz até então, e se assustava pela maneira internacional que o nazismo era visto. Embora nunca tivesse apoiado de fato, era sempre mostrado que aquilo era algo grandioso e necessário. Resolveu sair do silêncio e escrever sobre tudo o que passou, apesar de ter medo de ser punida.
''Realmente, eu nunca gostei do nazismo. Minha vida se transformou inteiramente de uma forma negativa. Meu antigo marido servia ao nazismo de coração, e parecia ser mais casado com o partido do que a mim. Minhas amizades, muitas delas, se perderam. Eu me assustei quando ao conseguir uma lista de membros de Auchwitz, vi alguns nomes conhecidos nela, mas infelizmente já tinham morrido. Morreram no mesmo local que eu trabalhava, e felizmente não conhecia nenhuma das vítimas que chegaram até mim. A mando do doutor Joseph Mengele, realizei diversos procedimentos, e mais tarde, ele disse para eu nunca olhar eles como humanos. Não fui uma escrava, mas estava ali a mando do partido. Tentei sair e me pressionaram para ficar. Não entendia o porquê de ter sido eu. Se eu simplesmente sumisse, iriam me procurar. Não era tão fácil assim sair. Acho que diversas pessoas que trabalhavam, o faziam por obrigação. Você se via obrigado a realizar uma função que tinha uma intenção bonita. Os inimigos de Hitler eram os inimigos de todos os alemães. Diversos papéis, propagandas e jornais publicados exaltavam isso. Sempre soube que havia algo de errado, e me arrependo amargamente de ter participado disso. E ressalto que não entrei nisso por vontade, e sim por pressão. Odiava meu trabalho naquele lugar, aquilo não era um lugar de Deus.'' - disse Eva em um depoimento.
Ele, o anjo da morte, com certeza pode ter estudado e aprendido bastante, de uma forma doentia e perversa disfarçada de heroísmo ao partido pelo qual amava, revelando ao mesmo tempo o lado negro e desumano da ciência com a vergonha humana. Quando a sociedade está fraca, ela procura a escolher alguém que os melhore, especialmente numa época onde a manipulação e mentira poderiam ser propagadas mais facilmente. E no meio de intenções bonitas com os mais reluzentes discursos e palavras, foi isso que aconteceu: uma tragédia inesquecível, com diversos assassinos, e ao contrário do que a população pensa, não foi apenas Hitler o principal culpado, mas o famoso doutor Josef Mengele, além dos diversos assistentes do partido, que ajudaram que o terror se espalhasse e durasse.