O caboclo d´água
Incrédula, Zezé ia ouvindo o desenrolar daquelas histórias: a das pedrinhas de Santa Ana que, quadradinhas por natureza costumavam gerar filhotinhos, e a do caboclo d´água.
As pedrinhas ela já tinha guardadas consigo, encontrara-as à margem do riacho do Bambé e as mantinha bem guardadinhas no armário da sala, num buiãozinho coberto de areia, certa de que a mágica não falharia. E para comprovar a teoria até já havia visto uma das pedrinhas barrigudinha, como se fosse desprender logo o filhotim.
Do caboclo d´água, porém, tudo era novidade, e com que realismo o Joaquim Diogo contava a história: enquanto ia atravessando o portentoso e traiçoeiro rio São Francisco, que passava a meia légua só da Abadia, ele viu aquela mão cabeluda, escura, emergir da correnteza e assomar o bico da canoa...Joaquim não hesitou: largou o remo, apanhou o facão que trazia sempre à cintura, e lascou um golpe na mão intrusa:
os quatro dedos foram decepados, cainda para dentro da embarcação e, num urro estonteante, o bicho estranho voltou pra dentro d´água...
Nó, que susto e que livramento! Joaquim ainda tremendo correu à matriz da Abadia, à primeira hora do dia seguinte, para agradecer à Nossa Senhora dos Monjolos...
A menina Zezé, pra espantar seus medos, correu até a beira do rio, no ponto da travessia, onde estava amarrada a canoa e espiou: a quina da parede da canoa tinha a marca da facãozada certeira... E, sem olhar pro fundo da barca, voltou pra casa, arfando, na carreira...