O Homem do Saco
 
- Não saia pra rua de noite que o Homem do Saco te pega!

Era o que mamãe dizia para me assustar.

- Vem pra cá jogar videogame de noite! Meus pais vão sair! –

Foi o recado que o Marc deixou na minha mochila ao final do dia.


Mamãe trabalha à noite em uma lanchonete. Enquanto ela saía para o trabalho, disfarcei vestindo meu pijama de listras vermelhas. Ela disse aquelas mil coisas que sempre diz. Enquanto mastigava meus cereais integrais na tigela com leite, ficava acenando com a cabeça. Saiu confiante que eu faria minhas lições e dormiria.

Fui para casa do Marc disparado na bicicleta assim que ela bateu a porta. Entrei escondido por trás da casa pela janela e jogamos por umas 3 horas. Quando saí, antes que mamãe voltasse ou que os pais dele encrencassem, as ruas já estavam desertas. Um vento frio batia nas costas. Subi o zíper do meu agasalho até a ponta do queixo. Acelerei. As luzes dos postes oscilavam. Devia ser mais uma das quedas de energia. Ao dobrar uma esquina à toda, vi logo adiante um homem alto, todo de negro, segurando um saco na mão direita e algo que parecia uma pá na outra. Parei a bicicleta a uma distância segura gelado de medo e frio.

- Quem é você? – Gritei. Ele, me encarando embora não visse seu rosto, partiu correndo na minha direção. Acelerei na outra. Olhava para trás e ele vinha em disparada. Virei em uma curva e não tive dúvidas. Toquei na primeira campainha que encontrei largando a bicicleta no gramado em pânico. Uma velha senhora abriu a porta.

- O que foi meu filho? – Balbuciou gentil. Enquanto eu gaguejava, ela gritou alguém dentro da casa. Veio um velhote.

Ouviram minha história com um sorriso engraçado nos lábios, como quem dissesse: Tua mãe bem que avisou. O velhote saiu para fora e, nisso, vimos o homem na esquina, parado, olhando para nós três.


- O que você quer? – Gritou o velhote do meio da rua. O homem aproximou-se. Ergueu a pá e acertou a um golpe o velhote. A velhinha gritou apavorada. Nisso, o homem acelerou na nossa direção. Sem saber o que fazer direito, ela me arrastou para dentro, trêmula, e correu para ligar para a polícia. Sem que tivesse tempo, o homem pulou pela janela quebrando tudo. Somente vi que dera mais um golpe seco na cabeça da velhota. Corri para a minha bicicleta. Acelerei o mais que pude gritando noite adentro. Alguns vizinhos, no bairro tranquilo, saíram à rua. Tive tempo de chegar à casa do Marc ...

Foram horas de angústia. Assim que chamaram a polícia, ela vasculhou toda a região e não encontrou o assassino. Nossa comunidade ficou em pânico. Somente voltei a dormir com remédios e comecei a fazer tratamento psicológico. Hoje, aos 21 anos, estou frequentando uma Universidade em Illinois e ainda preciso dos medicamentos. Somente saio à noite acompanhado e ainda acordo gritando em meios às madrugadas frias ouvindo o estampido daquele bater seco na cabeça da velhota...
 


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